Investidor tem medo de perder e dificuldade de tansformar conhecimento em ação (Joana Croft/SXC)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2013 às 16h22.
São Paulo – Pesquisa da consultoria McKinsey & Company, cujos resultados foram apresentados nesta quarta no 7º Congresso de Fundos de Investimento da Anbima, mapeou o perfil dos investidores brasileiros jovens, com um bom conhecimento financeiro e algum dinheiro para investir. O resultado: essas pessoas já sentem o efeito da inflação alta e dos juros baixos no Brasil, investem em renda variável, mas apesar disso, preferem conservar o capital a arriscar seu dinheiro, e não sabem direito o que fazer frente ao novo cenário econômico.
A pesquisa foi qualitativa, baseada em bate-papos online, grupos focais online e entrevistas feitas pessoalmente. Foram ouvidos jovens na faixa dos 30 anos, de classe A, do Rio e de São Paulo, com no mínimo 50 mil reais em investimentos. Eram profissionais como engenheiros, publicitários e designers. Não chegam, portanto, a ser grandes investidores sofisticados, tampouco profissionais no assunto, mas também não se trata mais do público do grande varejo bancário.
A ideia era entender como essas pessoas veem o atual cenário, com juro real (acima da inflação) de cerca de 1%, inflação alta, taxa Selic baixa, cenário internacional ainda complicado, além de estabilidade econômica e mercado de capitais em desenvolvimento no Brasil. De acordo com o sócio da McKinsey, Rogério Mascarenhas, são esses investidores os que acabam influenciando os demais investidores pessoas físicas, com menos capital para investir.
Conheça a seguir os resultados da pesquisa, e saiba se os medos, anseios e exigências desses investidores são os mesmos que os seus – se você já é ou pretende ser em breve um investidor com o mesmo perfil que eles:
1. Eles se sentem inseguros e não sabem o que fazer com a informação que têm
Os investidores estão informados, têm bom conhecimento sobre investimentos, mas se sentem inseguros em meio ao mar de informação que os bombardeia diariamente. Não sabem direito o que é de fato relevante para suas decisões de investimento.
“Eles têm informação, mas não sabem transformá-la em ação. Não sabem a qualidade dessa informação, nem se ela tem valor financeiro”, resumiu Carlos Massaru, vice-presidente da Anbima, diretor-presidente da BBDTVM e um dos debatedores da mesa.
De acordo com Rogério Mascarenhas, eles são influenciados demais pela notícia do dia ou da semana, o que os deixa inseguros. E falta um pouco de informação acerca da importância da diversificação e da volatilidade, muito embora eles reconheçam que precisam diversificar. A indústria de fundos brasileira atualmente tem mais de um trilhão de dólares sob gestão, mas 46% desses recursos estão aplicados em ativos de renda fixa conservadora.
Ainda segundo a pesquisa, os que já perceberam o impacto da nova realidade econômica nas suas vidas já começaram a reagir nas suas decisões de investimento. “Só que os investidores estão sendo impactados e não percebem”, observou Rodrigo Xavier, sócio da Vinci Partners, representante dos comitês de Varejo e Private Banking da Anbima e um dos debatedores da mesa.
Houve uma exibição de vídeos de trechos de três entrevistas durante o evento, e numa delas o entrevistado disse que sua meta era ao menos ganhar da inflação. Para Xavier, um bom pensamento, ainda seguido por poucos. “Isso não é o padrão, e as pessoas normalmente nem avaliam seu rendimento líquido, descontando imposto de renda e taxas”, observou.
2. Eles acham que não tiveram uma boa educação financeira e sentem falta disso no Brasil de forma geral
As entrevistas também mostraram que quanto mais conhecimento os investidores tinham, mais tomavam risco, aplicando, por exemplo, em ações ou fundos mais arrojados. Contudo, eles manifestaram desconforto em relação à falta de educação financeira em suas vidas até muito recentemente.
Muitos deles gostariam de ter aprendido sobre finanças pessoais na escola ou com os pais, e só começaram de fato a entender os investimentos depois de adultos, quando começaram a fazer cursos e ler material especializado por conta própria.
3. Eles são exigentes em relação aos profissionais que devem – ou deveriam – orientá-los
Independentemente do perfil e do nível de conhecimento, os investidores sentem necessidade de aconselhamento profissional e estão dispostos a pagar por isso. Eles alegam que não têm muito tempo para se dedicar à gestão dos próprios investimentos, nem para investigar o que realmente é importante saber para tanto.
Além disso, eles são bem exigentes. Querem profissionais muito especializados, que ganhem bastante com seu ofício e que realmente saibam mais que os clientes. E mais: não estão dispostos a pagar qualquer quantia pelo serviço, mas sim um percentual sobre seus próprios ganhos.
4. Eles querem acesso a produtos e informações melhores
A pesquisa conseguiu concluir que as instituições que atendem os investidores, como bancos e corretoras, já estão um pouco mais perto da realidade de seus clientes. Contudo, os investidores ainda não estão satisfeitos. Querem acesso a produtos melhores e diferenciados, oferecidos normalmente a investidores mais endinheirados, além de informações independentes.
Uma das críticas dos investidores cujas entrevistas foram exibidas é o fato de os grandes bancos de varejo dificilmente oferecerem produtos mais baratos e rentáveis a investidores pessoas físicas. Eles demonstraram a necessidade de se informar, pesquisar e buscar até mesmo instituições independentes. Um deles chegou a dizer que o investidor brasileiro é, em geral, preguiçoso, pois não corre atrás de sair do feijão com arroz dos investimentos.
Para Rodrigo Xavier, a atual forma de oferecer investimentos ainda é rentável para muitas instituições financeiras. “Mas acho que com o tempo elas vão perder mercado, com a mudança do perfil da demanda”, observou.
5. Eles têm medo de perder e preferem preservar o que conquistaram
Os investidores ouvidos não querem nem pensar em perder o dinheiro conquistado com o suor do seu trabalho. Uma das consequências da insegurança frente ao mar de informação e ao novo cenário é justamente a inação – por medo de perder o principal e a rentabilidade já conquistados, muitas vezes os investidores não tomam novas atitudes.
“Eles não se sentem preparados para navegar no novo mundo”, disse Rogério Mascarenhas. Apesar disso, eles querem lucros maiores, o que parece incoerente com sua aversão à volatilidade, diz a pesquisa.