Minhas Finanças

Os 10 mandamentos de um bilionário da bolsa

Entenda qual é a filosofia de investimentos de Lírio Parisotto, que gere um fundo que rendeu 5.491% desde 1998

Lírio Parisotto: gestor de fundo de ações com retorno de 5.491% nos últimos 13 anos (Germano Lüders/EXAME)

Lírio Parisotto: gestor de fundo de ações com retorno de 5.491% nos últimos 13 anos (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 13h36.

São Paulo – No último domingo, EXAME.com revelou a atual carteira de investimentos de Lírio Parisotto, o maior investidor pessoa física da BM&FBovespa. O fundo Geração L. PAR FIA, do bilionário, possui um patrimônio de 2,2 bilhões de reais dividido entre ações do Banco do Brasil, Bicbanco, Bradespar, Cielo, Celesc, Eletropaulo, Eternit, Grendene, Redecard, CSN, Tecnisa, Transmissão Paulista e Usiminas. O histórico de resultados é um dos mais impressionantes da indústria de fundos mundial. Desde 1998, o Geração L. PAR obteve uma rentabilidade de 5.491%, contra 749% do Ibovespa e 613% do CDI.

Parte da explicação para que o fundo caia menos do que o Ibovespa nos anos ruins e bata consistentemente o índice nos anos bons está na filosofia de investimentos de Parisotto. O fundo procura comprar ações que pagam bons dividendos e também gera receitas com o aluguel de papéis que estão em carteira e com o lançamento de opções que dificilmente serão exercidas. Apenas neste ano, 220 milhões de reais entrarão em caixa do fundo com essas estratégias.

Parisotto também afirma que não gosta de imóveis, não faz day trade (compra e venda de ativos em um único dia) e acha que abrir o próprio negócio é ainda mais arriscado do que investir em bolsa. Apenas a renda fixa é considerada por ele uma opção interessante porque, com os juros altos brasileiros, seria possível obter retornos elevados praticamente sem risco. Em palestra promovida pela corretora Geração Futuro na noite desta quarta-feira, em São Paulo, o bilionário explicou os dez mandamentos que o fizeram ganhar tanto dinheiro com ações nos últimos anos:

1 – Não perca tempo com IPOs

Sempre que uma empresa decide fazer a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), é o investidor quem paga a conta. Em primeiro lugar, essas empresas chegam caras ao mercado. Na prática, é o investidor que arca com os custos do road show, as altas comissões dos bancos de investimentos e todo o material publicitário. Qualquer um que leia aquela publicidade toda ficará encantado com a empresa prestes a chegar à bolsa. Os gráficos sempre sobem como um foguete.

O problema é que, na realidade, aquilo tudo nunca acontece. No Geração L. PAR, até existem ações que chegaram recentemente à bolsa, como a Cielo e a Redecard. Mas eu nunca investi 1 centavo em IPO. As ações só entraram na carteira em 2010, quando caíram muito devido à expectativa de maior concorrência no setor de cartões. Desde então, os dois papéis subiram mais de 50%. Até estou vendendo uma parte do que comprei agora.


2 – Não diversifique demais

Compre no máximo uma nova ação por mês e não tenha mais de 12 ou 13 papéis em carteira. É impossível acompanhar de perto muitas empresas. Gastar o tempo lendo balanços de resultados não é algo sexy. O investidor deve se concentrar naquelas empresas e setores que conhece bem e segue de perto.

Meus investimentos estão concentrados em três setores: energia elétrica (Celesc, Eletropaulo e Transmissão Paulista), bancos/serviços financeiros (Banco do Brasil, Bicbanco, Cielo e Redecard) e siderurgia/mineração (Bradespar, CSN e Usiminas). O setor de energia tem essa característica de baixa concorrência e fluxo de caixa praticamente constante. Tenho bancos porque a turma gosta de se endividar. Eu costumava falar mal de bancos em minhas palestras por causa dos juros altos. Como ninguém fazia o que eu dizia, parei de criticar e virei sócio dos bancos.

E gosto das mineradoras porque o Brasil é campeão em competitividade nesse setor. Já a aposta nas siderúrgicas é a de que o país vai continuar a crescer e de que as obras de infraestrutura para a Copa e as Olimpíadas vão demandar muito aço. Os preços estão bem atrativos. As siderúrgicas apanharam demais na bolsa nos últimos meses.

3 – Seja sócio de empresas com vantagens competitivas

É muito importante comprar ações que atuam em mercados sem muitos concorrentes. A lógica é de que eu morro e a empresa fica. Eu não compro ações de empresas aéreas, por exemplo. Acho que qualquer companhia desse setor que não quebrou um dia ainda vai quebrar. Há 15 anos, as líderes de mercado no Brasil eram a Varig, a Vasp e a Transbrasil. Todas quebraram. A American Airlines já foi a maior do mundo e acaba de pedir concordata. Esse setor não tem barreiras de entrada. Um empresário pode financiar um monte de aeronaves e gastar muito pouco para montar uma companhia aérea. Mas as margens de lucro são baixíssimas ou inexistentes.

Outro setor que eu considero muito duro é o de varejo. Já trabalhei como comerciante e sei que é necessária uma gestão muito competente para ganhar dinheiro com isso. Umas 20 varejistas brasileiras quebraram nos últimos anos. Tem o Mappin, a Mesbla, a Arapuã, a G. Aronson. Até existem boas empresas como o Pão de Açúcar, mas a maioria trabalha com margens muito apertadas e pouca proteção contra a concorrência.

4 – Fique longe de empresas com sede em países exóticos

Já é muito difícil entender a confusa legislação brasileira, que vive mudando. Imagine se o analista tiver de compreender também as leis de outro país. Eu não compro a ação de nenhuma empresa negociada na BM&FBovespa que tenha sede fora do Brasil, principalmente nessas ilhas do Caribe. [nota de EXAME.com: entre as empresas da bolsa que têm sede no exterior, estão Laep, GP e Agrenco]


5 – Não invista em empresas que dão prejuízo

Esse pode parecer um conselho óbvio, mas tem muita gente que não o segue. As pessoas querem ficar ricas rapidamente e compram uma empresa em dificuldades na expectativa de que ela vá se recuperar. Isso às vezes acontece, mas é difícil. Eu só compro empresa que dá lucro porque elas não quebram. Estou de olho em lucro e distribuição de dividendos. É por isso que não invisto em uma empresa do Eike Batista. O dia em que as empresas X derem resultado eu vou avaliar.

6 – Liquidez é fundamental

Eu compro ações para ficar com elas durante muito tempo. Mas é sempre bom ter uma porta aberta na hora de entrar ou sair de um investimento. É por isso que é tão importante comprar ações com liquidez.

7 – Procure ações boas e baratas

Há muitas empresas boas na BM&FBovespa. Qualquer um pode ficar sócio de uma empresa com reservas gigantes de petróleo como a Petrobras ou com uma excelente administração como a Vale. Também há diversas ações baratas. O problema é que não adianta ter uma coisa e não ter outra. É preciso ser boa e estar barata. Há alguns anos, eu estava com uma enorme vontade de investir em bancos, mas nunca surgia uma boa oportunidade. Todas as ações do setor estavam caríssimas. Em 2008, com a quebra do Lehman Brothers, surgiram excelentes oportunidades de investir em bancos. Foi quando eu montei minha posição em ações do Bicbanco. Consegui comprar a 2 reais uma ação que meses depois chegou a 18 reais.

Com a crise na Europa, eu acho que neste momento há várias ações baratas na bolsa. Se corrigíssemos pelo IGP-DI o recorde atingido pelo Ibovespa em 2008, chegaríamos a 87.439 pontos. Hoje estamos próximos a 56.000 pontos e o lucro das empresas não parou de crescer. É por isso que acho que estamos diante de uma oportunidade de compra. Não estou dizendo que não pode cair ainda mais. Isso é chamado de renda variável porque é impossível de prever o que vai acontecer. A bolsa chegou a 30.000 pontos em 2008 e pode voltar a isso de novo se a Europa quebrar. O problema é que é impossível saber quando chegou o fundo do poço. O mercado antecipa esses movimentos e quando estiver claro que o pior já passou, os melhores preços também não poderão mais ser encontrados.

Pessoalmente eu acho que os países europeus vão encontrar alguma solução. Cerca de 17% das exportações brasileiras vão para a Europa. Se houver uma queda de 10% nos volumes exportados para a zona do euro, portanto, não será nenhum drama para o Brasil. É por isso que todo meu patrimônio está aplicado em renda variável.

8 – Nunca dê ouvidos aos espíritos santos de orelha

Não ouça dicas quentes sobre ações. Se a pessoa tem informação privilegiada, isso é crime. Se não tem, se é uma informação de jornal, ela já está embutida no preço das ações. O importante é estudar e fazer suas próprias análises antes de investir em uma empresa. Muitos analistas diziam que a bolsa fecharia este ano em 100.000 pontos. O mais pessimista falava em 75.000 pontos. Hoje estamos abaixo dos 60.000 pontos e nada disso aconteceu. Mas não foi o analista que perdeu dinheiro. Ninguém fala nada sobre isso.


9 – Controle o medo na queda e a ganância na alta

Qualquer um fica inseguro quando surge uma enxurrada de más notícias e a bolsa começa a cair. Eu também sinto essa aflição. Mas o que diferencia um investidor sênior de um júnior é a sua capacidade de manter os nervos sob controle quando o mercado todo está apanhando. É preciso saber que a cotação de uma ação do chão não passa para aproveitar as boas oportunidades de compra. Não acho que a Europa vai quebrar, mas, se quebrar, todos estaremos diante de uma excelente oportunidade de compra.

Por outro lado, quando a bolsa está em alta, também é preciso saber que uma árvore não cresce acima do céu. Por mais que pareça que aquele movimento de alta não vai acabar nunca, é preciso saber vender quando o objetivo estiver cumprido. Eu defendo que só seja investido em bolsa aquele dinheiro que não tem prazo para ser resgatado. Se a pessoa investe em bolsa para comprar algo daqui a dois anos, está cometendo um erro. Ainda que dois anos possa ser definido como longo prazo, a bolsa pode estar pior daqui a dois anos. A pessoa deve investir em bolsa até o momento em que possa colher os resultados dessa aplicação.

10 – Aposte em um azarão

Essa é uma forma de se desafiar e conseguir um retorno diferenciado. Encontre uma empresa em que ninguém acredita, mas que tenha um excelente potencial, e compre suas ações. Eu já tive cerca de seis azarões em minha carteira. Felizmente, ganhei muito dinheiro com a maioria. Consegui comprar ações da Randon a 0,20 real e depois esses papéis chegaram a 20 reais. Era uma empresa de Caxias do Sul (RS) que eu conhecia muito bem e que estava realizando os investimentos necessários para crescer no futuro – ainda que estivesse naquela época passando por um momento de dificuldades.

Também ganhei muito dinheiro com Bradespar quando o Bradesco separou seus investimentos não-financeiros nessa holding, que reunia papéis de Vale, CPFL, Scopus e Globocabo (que posteriormente virou NET). Era a época do estouro da bolha da Nasdaq e o mercado precificava esse papel como se fosse uma empresa de tecnologia fracassada devido à presença de Globocabo e Scopus. Mas só a participação que a Bradespar tinha na Vale já valia mais do que o preço de mercado do papel. Cheguei a comprar metade do fundo em ações da Bradespar e ganhei muito dinheiro. Também me dei bem apostando na privatização do Banespa e na venda da Nossa Caixa.

Mas também acontece der perdermos dinheiro com azarões. Hoje temos a Celesc na carteira. Eu achei que haveria melhorias na gestão da empresa, mas até agora isso não aconteceu.

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