Banco Central: oferta de crédito para o cliente deve ser transparente e comparável (Arquivo/Agência Brasil)
Bianca Alvarenga
Publicado em 30 de março de 2022 às 06h40.
Começa nesta quarta-feira, dia 30, uma nova fase do Open Finance (novo nome do Open Banking) no Brasil, programa do Banco Central para a construção de uma infraestrutura que permitirá a troca de informações de clientes entre todas as instituições financeiras habilitadas.
A partir de hoje, o intercâmbio de dados ocorrerá para a oferta de crédito. Clientes que tenham um financiamento já em vigor ou que desejam contratar alguma linha nova poderão ser prospectados por bancos em que não possuem conta ou cadastro – isso, claro, mediante a autorização prévia do cliente.
Dessa maneira, bancos e correspondentes financeiros poderão contatar não-clientes com propostas de crédito, para competir com as instituições em que esses correntistas já possuem algum relacionamento. A oferta pode ser tanto de um crédito mais barato, com taxas de juros menores, como de um produto mais adequado para as necessidades do cliente.
De acordo com determinação do Banco Central, em um primeiro momento operações de crédito com garantia, como o home equity, e financiamentos consignados não entrarão nas regras de compartilhamento.
Thiago Saldanha, CTO da Sinqia (SQIA3), empresa líder no fornecimento de tecnologia para empresas do setor financeiro, diz que a principal mudança da atual fase é a chegada do chamado correspondente digital. Trata-se de um intermediador que ajudará na padronização do envio das informações.
"Nas outras fases, o consumidor compartilhava dados diretamente com os bancos. Agora, o correspondente digital fará todo o encaminhamento das propostas. Por exemplo: um cliente que deseja um financiamento poderá usar um correspondente digital para fazer essa comunicação e a busca, em vez de ter que pedir cada banco uma proposta de crédito", explica Saldanha.
Além de simplificar o processo de contratação, a nova fase do Open Finance deve trazer mais agilidade para a liberação dos recursos.
A disponibilização dos dados deve ser voluntária e realizada na interface do próprio banco em que o cliente já possui relacionamento. A partir desse momento, a instituição que deseja conquistar aquele cliente deve ter um sistema para envio da proposta de crédito e para o acompanhamento daquela oferta.
O sistema do Open Finance tem sido desenvolvido há anos pelo Banco Central em conjunto com as próprias instituições financeiras e uma das prioridades é a segurança das informações.
O objetivo do compartilhamento é estimular a competição pelo cliente entre as instituições financeiras, levando a propostas mais vantajosas, como acontece em economias de livre mercado; se um banco "A" sabe que ninguém mais vai oferecer crédito ao seu cliente, pode em tese cobrar taxas de juros maior porque o risco de perdê-lo é menor.
O produto ofertado deve atender aos seguintes critérios, estabelecidos pelo BC: a proposta de crédito deve ser assertiva e personalizada; é necessário oferecer transparência na solicitação e na contratação de operação de crédito, a instituição deve permitir a comparabilidade entre propostas de crédito e, por último, a experiência do cliente deve ser ágil e conveniente.
"As instituições vão pedir para seus clientes compartilharem dados durante o processo de concessão de crédito. Por exemplo, em vez de o cliente compartilhar um comprovante do seu extrato bancário ou de renda através do holerite, ele vai poder usar tecnologia para compartilhar esses dados de maneira mais rápida e segura", explica Bruno Chan, CEO e cofundador da Klavi, plataforma que atua na integração entre as instituições participantes do Open Finance.
O executivo explica que, em determinada situação, clientes que não compartilharem os dados não poderão solicitar crédito -- em razão da ausência de informações suficientes para uma análise pela instituição. Em outros casos, por outro lado, clientes que compartilharem os dados devem ter acesso a ofertas melhores, já que as instituições terão mais informações sobre eles.
"Antigamente, a única informação que as instituições tinham dos seus clientes eram os scores de créditos de birôs como Serasa e SPC. Quem era negativado era quase automaticamente excluído do mercado de crédito, mas isso está para mudar", lembra Chan.