Minhas Finanças

O que pode restaurar a confiança nas bolsas

Barclays divulga proposta para eliminar a possibilidade de calote generalizado na Europa no curto prazo que poderia trazer os investidores de volta ao mercado acionário

Bovespa: a dívida e os bancos europeus continuam a ser um peso para o mercado (Germano Lüders/EXAME)

Bovespa: a dívida e os bancos europeus continuam a ser um peso para o mercado (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2011 às 11h54.

São Paulo – Após alguns dias de trégua, os mercados voltaram a derreter globalmente. As perdas foram bastante pesadas nesta quinta-feira, e não se sabe até onde poderia ir o pessimismo. O que poderia reverter o humor dos investidores e garantir sustentação às bolsas nas próximas semanas? Para especialistas ouvidos por EXAME.com, somente uma indicação firme de que haverá uma solução definitiva para a dívida europeia seria capaz de debelar de vez o pânico nos mercados.

O problema é que todas as propostas apresentadas para a Europa exigem um caminhão de dinheiro e são politicamente difíceis de ser adotadas. O megainvestidor George Soros tem sido um grande defensor da criação de um “eurobônus”. Esse papel seria trocado por títulos da Grécia, da Irlanda, de Portugal e de qualquer outro país que esteja enfrentando uma crise de confiança. Como o emissor seria a própria União Europeia, e não o país ameaçado, a medida seria suficiente para acalmar os investidores em relação à possibilidade de um calote.

A dificuldade de implementar uma medida como essa é que os países periféricos teriam de abrir mão da soberania fiscal e passar a cumprir metas rígidas para os gastos públicos estipuladas diretamente pela União Europeia. Para ter o direito de ser financiado pela UE, o país teria de obedecer a determinação de privatizar empresas estatais ou cortar despesas sociais ou previdenciárias quando isso fosse necessário para fechar as contas. É algo, portanto, que mexe com a soberania política de cada Nação.

Outro problema é que a troca de títulos gregos, portugueses, irlandeses e outros por um título europeu envolveria um desconto no valor de face dos papéis atuais. Isso significa que bancos e investidores seriam chamados a pagar parte da conta e assumir perdas severas. No caso de muitos bancos, os prejuízos poderiam ser grandes demais para o porte da instituição financeira. Caberia à UE selecionar os bancos que teriam condições de sobreviver e ajudá-los – da mesma forma como foi feito nos EUA em 2008.

Em relatório divulgado nesta sexta-feira, o banco Barclays afirmou que a Europa vai precisar de muito tempo, talvez anos, para criar as instituições responsáveis por promover uma união monetária, começar a emitir “eurobônus” e reestruturar as dívidas dos países em dificuldade. À media que o tempo passa, o temor de calote dever continuar a aumentar em toda a Europa. Países como a Itália, a Espanha e até mesmo a França já tem tido sua sustentabilidade fiscal questionada. “A Europa não pode demorar”, diz o relatório.


“Acreditamos que uma solução intermediária enquanto a Europa prepara os passos necessários para criar uma união monetária com melhor integração fiscal e de políticas econômicas ajudaria a afastar as ameaças que pairam sobre a Itália e a Espanha”, afirmam os analistas Frank Engels, Piero Chezzi e Larry Kantor, do Barclays.

Mas o que exatamente poderia ser feito? Os analistas propõem que a União Europeia crie uma Autoridade da Dívida Europeia (EABA, na sigla em inglês), que seria responsável por prover garantias para os títulos emitidos por países que atravessam uma crise de confiança. Não se trata dos “eurobônus” defendidos por George Soros porque o emissor do papel continuaria a ser o país. A criação da EABA daria, apenas, tempo para que a UE consiga reunir o apoio político necessário para a emissão dos “eurobônus” sem que a crise de confiança se agrave.

Também é importante lembrar que os atuais títulos da dívida dos países europeus não seriam trocados por papéis garantidos pela EABA nem mesmo por “eurobônus” no futuro. Os títulos emitidos pelos países europeus meses atrás pagam uma remuneração baixa ao investidor e não representam uma ameaça para a sustentabilidade do pagamento da dívida. Fazer as coisas dessa maneira impediria que seja necessário gastar trilhões de euros com a emissão de novos bônus – o que torna a solução muito custosa para países responsáveis fiscalmente, como a Alemanha e os países nórdicos.

O principal problema atual é que os spreads pagos pelos títulos dos países mediterrâneos estão subindo rapidamente. No caso de papéis garantidos pela EABA, não haveria motivos para os investidores cobrarem juros cada vez mais altos, já que, no mercado de renda fixa, quanto menor é o risco do emissor, menor é o spread. A criação da EABA daria, portanto, tranquilidade para países como a Espanha e a Itália rolarem suas dúvidas.

Para ter direito a emitir papéis com garantia da EABA, os países europeus em dificuldade teriam de se comprometer a adotar medidas fiscais que levassem a uma redução da relação dívida/PIB no médio prazo. “A Alemanha e outros países importantes do bloco estão diante de uma oportunidade única de usar a atual crise para criar instituições que coordenem melhor as políticas econômicas e fiscais e aprofundem a união”, diz o relatório. Na reunião entre líderes franceses e europeus no último dia 16, as declarações seguiram nessa direção.

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