Warren Buffett: papéis da dívida norte-americana permanecem com a mesma credibilidade (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2011 às 09h19.
São Paulo – O rebaixamento dos títulos da dívida norte-americana pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s derrubou as bolsas mundo afora e foi absorvido com intensidade pelo mercado brasileiro. Nesta segunda, o Ibovespa afundou mais 8,08%. No ano, o naufrágio já ultrapassa os 30%. “Enquanto tivermos somente 600.000 CPFs brasileiros na bolsa, vamos ficar à mercê do bom ou mau humor dos gringos”, afirma o educador financeiro Mauro Calil.
Testemunhando mais ou menos perdas em seus países de origem, a certeza que reina entre gurus financeiros é uma só: a perspectiva de dias melhores não se avizinha em um horizonte tão próximo. Entre pessimistas e otimistas, confira o que megainvestidores, economistas e educadores financeiros esperam das bolsas após o rebaixamento dos papéis emitidos pelo Tesouro dos EUA.
Warren Buffett
“Tenha medo quando os outros forem gananciosos e seja ganancioso quando os outros tiverem medo.” Diante de uma segunda-feira sangrenta no mundo dos negócios, a célebre máxima do megainvestidor Warren Buffett volta a ser repetida por quem acredita que o momento é de comprar ações na baixa. Para o Oráculo de Omaha, o rebaixamento da S&P não deveria abalar a confiança do investidor nos títulos do Tesouro norte-americano. "Se a nova nota pode mudar algo, é a minha opinião sobre a própria S&P", afirmou o megainvestidor à rede CNBC.
Na opinião de Buffett, o rating do dólar ou a performance do governo norte-americano nos últimos meses não têm merecido o carimbo de AAA, mas a dívida do país permanece com a mesma credibilidade de antes. Ele argumenta que a nação mais rica do planeta, com PIB per capita de 48.000 dólares, não deixará de saldar seus compromissos tão facilmente. Não por menos, cerca de 40 bilhões de dólares da holding de investimentos Berkshire Hathaway, capitaneada por Buffett, permanecem investidos nos papéis da dívida dos EUA. E a maior parte da sua fortuna pessoal também.
Nouriel Roubini
Sempre lembrado por ter previsto a crise de 2008, Roubini é mais uma vez apocalíptico em relação ao cenário que se desenha para os próximos meses: deter uma nova recessão em nível mundial vem se mostrando uma missão impossível. Em artigo publicado no Financial Times, ele critica a decisão da S&P de ter rebaixado a dívida dos EUA em um momento de turbulência no mercado, agravando a aversão global ao risco.
Roubini lembra que os dados sobre a economia norte-americana continuam desapontando o mercado e que as dívidas da Itália ou Espanha, novas atrizes do enrosco fiscal europeu, são grandes demais para serem socorridas com facilidade. Mas em um momento de tanta volatilidade, o Tesouro dos EUA continuará sendo procurado como ativo para quem busca segurança. E a demanda poderá fazer, inclusive, com que o retorno entregue pelos papéis caia no médio prazo.
Bill Gross
O gestor do maior fundo de renda fixa do mundo, com mais de 245 milhões de dólares em ativos, foi na contramão dos gurus do mercado e afirmou que a S&P mostrou ter "espinha" ao rever a nota da dívida norte-americana. À frente da Pimco, Bill Gross já havia se desfeito dos papéis relacionados ao governo dos Estados Unidos em março deste ano. Na época, ele afirmou que os 30 anos de altas consecutivas do título haviam chegado ao fim e que os ativos do Canadá e Alemanha guardavam mais valor.
Nos meses seguintes, contudo, os "treasuries" americanos voltaram a fazer parte da carteira do fundo – no fim de julho, os títulos representavam 10% do seu patrimônio total. Seja como for, o pessimismo de Gross também se estende ao dólar. Segundo o conhecido gestor, conhecido como "Buffett da renda fixa", a moeda continuará vulnerável a perdas daqui para frente.
Jim Rogers
“Os investidores não deveriam vender ações no clímax do movimento de venda”, afirmou o mítico gestor de fundos Jim Rogers à rede de televisão CNBC. Rogers, que é famoso por ter sido o sócio de George Soros no Quantum Fund, que obteve uma rentabilidade de 4.200% em seus dez primeiros anos de vida, atribuiu o pânico dos mercados nos últimos dias ao endividamento excessivo dos governos europeus e dos EUA. “Nós tivemos o impasse sobre o teto da dívida dos EUA e os europeus não estão fazendo nada para resolver seu endividamento”, disse. “Há grandes desequilíbrios na economia global, e os mercados tinham que quebrar.”
Rogers não acredita que a solução passa pelo aumento dos gastos do governo para aquecer o mercado de trabalho e reativar a economia. “Temos que usar um machado para cortar o déficit público”, afirmou. “Os EUA estão cometendo erros terríveis. É a nação mais endividada do planeta, e está se afundando em novos débitos.”
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Ex-presidente do BNDES, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros explica que os títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA funcionam como alicerce do mercado financeiro. Tal qual foi erguido, o sistema não suporta a troca destes ativos por quaisquer outros - mesmo pelos que ostentam nota AAA, como papéis da dívida suíça. Se a migração ocorresse, afirma Barros, a intensa procura valorizaria estes títulos a tal ponto que a indústria da Suíça perderia toda sua base exportadora, já que a moeda (e consequentemente os produtos) não conseguiriam competir com os itens de fora.
Mesmo acreditando na permanência dos títulos públicos americanos nos fundos institucionais e soberanos, Barros vê um cenário volátil para os próximos dias, um verdadeiro "Pearl Harbor financeiro". Para ele, a especulação tomará conta do mercado e a insegurança atual fará com que o crescimento econômico dos países ricos seja tímido em 2011.
Mauro Calil
Segundo o educador financeiro Mauro Calil, o mundo vem mudando desde a queda das torres gêmeas em 2001. E o fato de uma pequena agência chinesa ter sido a primeira a rebaixar a nota dos títulos americanos deu mostras que os papéis da dívida dos EUA não são tão sólidos quanto pareciam. De qualquer forma, ele acredita que a crise é antes uma preocupação dos governos que das pessoas físicas. "Essa volatilidade pode até mudar alguma coisa em termos de câmbio e inflação, mas para o cidadão comum, que tem sua caderneta de poupança, a relação ainda é muito limitada", diz Calil. "Ninguém deixou de assistir à TV ou tirou a geladeira da tomada porque a bolsa caiu muito em 2008", emenda.
Se a aplicação é em renda variável e o investidor já sentiu na pele o furor do mercado, Mauro aconselha a permanência na bolsa desde que o indivíduo em questão sustente a crença na saúde das empresas em que aplica. "Existem mais ou menos 400 companhias na bolsa. É muito possível encontrar 10 delas que estejam apresentando bons fundamentos e lucros crescentes", afirma.