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O que fazer com o título de inflação após um mês de prejuízo

Atreladas ao IPCA, NTN-Bs de longo prazo tiveram retorno negativo em junho; saiba o que fazer com os seus títulos e se esse tipo de papel continua vantajoso

A melhor maneira de se manter seguro com títulos públicos é esperando o vencimento (Joe Raedle/Getty Images)

A melhor maneira de se manter seguro com títulos públicos é esperando o vencimento (Joe Raedle/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2012 às 07h12.

São Paulo – Quem investe no Tesouro Direto pode ter ficado um pouco assustado no mês de junho, quando os títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs) de prazo de cinco anos ou mais desvalorizaram, algo que não acontece com muita frequência. Mas quem investe nesses títulos com vistas ao longo prazo não tem com que se preocupar; se levados ao vencimento, a remuneração já fixada está garantida, junto com o principal. Já para quem quer especular ou precisa vender o título antes do vencimento, este foi um bom chá de realidade para mostrar que mesmo na renda fixa conservadora há riscos de perda.

As NTN-Bs são títulos que remuneram uma taxa prefixada mais a inflação do período medida pelo IPCA. Ou seja, na prática, já fica acertado o juro real que o investidor vai receber no vencimento, mesmo que seja daqui a 30 anos. Mesmo sendo títulos de renda fixa, porém, a volatilidade dos preços é bastante alta, em função do cenário econômico e das expectativas do mercado para a Selic e para a inflação.

Embora sejam títulos do governo, os papéis mais seguros que existem em termos de garantia, também é possível perder dinheiro com NTN-Bs. No mês de junho, os papéis com vencimento em 2017 desvalorizaram 0,11%, enquanto as mais longas à venda naquele mês, com vencimento em 2045 caíram 5,69%. A maior queda foi da NTN-B Principal com vencimento em 2035, que desvalorizou 8,04%.

O IMA-B 5+, índice que representa uma cesta de títulos atrelados ao IPCA com vencimento em um prazo superior a cinco anos, teve retorno negativo de 1,72% em junho, o que não acontece desde setembro de 2011. Ainda assim, de todos os índices de renda fixa, este foi o mais rentável do semestre, com alta de cerca de 15%. As NTN-Bs mais curtas, com vencimento antes dos cinco anos, porém, continuaram com retorno positivo em junho.

Veja na tabela abaixo a rentabilidade dos títulos atrelados ao IPCA com prazo de cinco anos ou mais no mês de junho:

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Título Vencimento Retorno em junho Retorno no ano* Retorno em 12 meses*
NTN-B 15-05-2017 -0,11% 12,61% 24,90%
NTN-B 15-08-2020 -1,34% 14,87% 28,50%
NTN-B 15-08-2024 -2,91% 15,69% 29,96%
NTN-B 15-05-2035 -4,42% 19,09% 35,05%
NTN-B 15-05-2045 -5,69% 20,02% 34,74%
NTN-B 15-08-2050 - - -
NTN-B Principal 15-08-2024 -4,56% 18,79% 36,12%
NTN-B Principal 15-05-2035 -8,04% 27,75% 49,26%

(*) Até 17/07/2012
Fonte: Tesouro Nacional


O que eu faço com a minha NTN-B?

O investidor que possui NTN-Bs com vencimento superior a cinco anos na carteira não precisa ficar tão preocupado, dependendo do seu objetivo. “Para um investidor de longo prazo, uma queda como essa é pouco relevante. A maioria das pessoas não teria condição de especular”, lembra Beto Veiga, consultor financeiro, blogueiro e autor de um livro sobre o Tesouro Direto.

Para ele, é muito difícil para um investidor pessoa física tentar especular com títulos públicos, comprando e vendendo antes do vencimento para turbinar os ganhos. Esse tipo de rotina tem muito risco, justamente porque os títulos prefixados e atrelados à inflação, especialmente os mais longos, têm volatilidade altíssima. Isso é notável como se observa o mau desempenho desses títulos em junho, porém o ótimo desempenho no ano.

Por isso, ao investir em títulos públicos de prazo mais longo e, portanto, mais voláteis – caso dos prefixados (NTN-F e LTN) e atrelados à inflação (NTN-B) – só tem baixo risco quando se adequa o prazo do título ao objetivo e se carrega o título até o vencimento. Quem precisar do dinheiro antes do término do prazo e tiver que vender um título longo pode ter perdas com possíveis quedas no preço do título, como a que ocorreu com as NTN-Bs longas em junho.

Já quem investe sem se importar com essas oscilações terá sucesso sem tanto risco. “Se você investe em uma NTN-B hipotética com vencimento em 2024, que paga 4% ao ano mais inflação, no vencimento você recebe de volta seu principal, a rentabilidade acertada, a correção pela inflação e pronto”, explica Veiga. Ou seja, o risco será baixo se sua intenção for simplesmente se proteger da inflação em um longo período de tempo, garantindo alguma rentabilidade real.

Mas não necessariamente esta será a melhor rentabilidade possível. O título que você comprou hoje pode pagar um juro real menor que o título vendido pelo Tesouro seis meses depois. Nem por isso você deve sair do investimento anterior para comprar o novo título, pois talvez a mudança não compense as perdas da venda antes de findo o prazo. Portanto, se o juro pago pelo título que você já tem estiver satisfatório para você – e para quem fica até o vencimento, esta é uma rentabilidade garantida – o mais seguro é deixar o título na carteira.

Por conta dessas questões, as NTN-Bs, assim como os títulos prefixados, são mais indicados para diversificação. Antes de aplicar nesse tipo de título, o investidor deve ter investimentos que lhe garantam a liquidez do dia a dia, como poupança, um fundo DI e, dentro do Tesouro Direto, Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), títulos atrelados à Selic, que simplesmente remuneram de acordo com a taxa de juro básica vigente.


Ainda vale a pena comprar NTN-B?

E para quem está pensando em começar a comprar (ou continuar comprando) NTN-Bs de longo prazo, ainda vale a pena? Muito resumidamente, o que ocorreu com esses títulos em junho foi que o mercado reajustou suas expectativas para a Selic e passou a esperar que o ciclo de queda de juros termine em breve, lá para agosto. Ao mesmo tempo, também caiu a expectativa para a inflação, o que tornou as NTN-Bs menos atrativas que os títulos prefixados (veja uma explicação no último item desta reportagem).

Quem comprar NTN-Bs agora vai se deparar com papéis longos que pagam juro real na casa dos 4%. Quem for comprando aos poucos pode inclusive começar a ver taxas um pouco mais altas mais para frente, uma vez que o mercado espera um reajuste para cima da Selic em um futuro nem tão distante. “Mas é preciso ter em mente que nós estamos em um momento supostamente do fundo do poço das taxas de juros. Qualquer desarranjo que leve as taxas a subirem mais do que o esperado vai ter impacto negativo no preço desses títulos”, lembra Beto Veiga.

Seja como for, para quem tem uma estratégia de longo prazo com objetivo de ter uma rentabilidade real de 4% ao ano líquidos de inflação, por exemplo, pouco importam essas oscilações. Uma maneira de reduzir seus impactos é comprar NTN-Bs de diferentes prazos, em vez de ficar refém de um papel que só vence daqui a 20 ou 30 anos, e sempre esperá-los vencer. “Agora, se o investidor tem problemas em relação a qualquer volatilidade, não consegue ver os preços oscilarem, sugiro que fique longe desse tipo de papel”, diz o consultor.

Entenda melhor o que aconteceu com a NTN-B em junho

Para entender o que aconteceu com as NTN-Bs longas em junho, primeiro é preciso ter em mente que quando há expectativa de queda da taxa Selic, os títulos prefixados ou com parte da remuneração prefixada, como a NTN-B, tornam-se mais atrativos. Era o que vinha acontecendo desde que o governo iniciou o atual ciclo de queda nos juros. Acontece que, como nesses casos a expectativa é que a taxa básica fique cada vez menor, a rentabilidade prefixada dos títulos também vai diminuindo. Afinal, o mercado aceitará uma remuneração menor, desde que ela ainda seja mais vantajosa que a taxa básica da economia.


Pela forma como é feita a precificação desses títulos públicos, sempre que a taxa prefixada cai, seu preço sobe. Era o que vinha acontecendo com as NTN-Bs: a Selic vinha caindo, o juro real que elas pagavam também, enquanto seus preços se valorizavam. Em maio, as taxas de juro real pagas pelas NTN-Bs longas atingiram suas mínimas históricas. O papel com vencimento em 2017 pagava apenas 3,56% ao ano mais inflação no dia 8 de maio, enquanto no início do ano a remuneração era de 5,32% mais inflação.

A recíproca também é verdadeira: quando o mercado passa a demandar um juro real mais alto, o preço da NTN-B começa a cair. Foi o que aconteceu em junho. O mercado passou a esperar que o ciclo de queda de juros esteja perto do fim. Segundo relatório da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), se em maio o mercado achava que o governo iria prolongar o ciclo de corte na Selic, em junho ocorreu uma correção, e a crença geral passou a de ser de que o ciclo terminará em agosto. “Em junho houve uma percepção mais clara do fraco desempenho econômico”, diz o relatório.

Ou seja, o que ocorreu com o preço das NTN-Bs foi um ajuste, pois títulos que paguem um juro real tão baixo quanto 3,5% não terão vez se em breve a Selic começar a subir novamente. A Selic esperada para fim de 2013, início de 2014, por exemplo, está em torno dos 9%.

Existe ainda a questão da inflação. Ao longo do mês de junho, o mercado foi diminuindo sua previsão para a inflação, tanto para o mês quanto para o final de 2012. Embora a inflação ainda deva se manter bem acima do centro da meta, essa redução de expectativas diminuiu a atratividade das NTN-B frente aos títulos prefixados puros, não indexados ao IPCA – LTN e NTN-F.

“Se eu tenho um prefixado na minha carteira, o que eu quero idealmente é o fim da inflação. Quando cai a expectativa de inflação, as taxas prefixadas caem. Mas se a remuneração dos títulos prefixados puros se mantém, eles se tornam mais atrativos. O título indexado à inflação, por sua vez, terá de pagar um juro real mais alto para compensar a perda com a inflação, o que o leva a cair de preço”, explica Beto Veiga.

E por que apenas os títulos mais longos? Simples: a taxa prefixada paga por NTN-Bs é o resultado da média para as taxas de juros esperadas para o prazo do título. Qualquer alteração nessa expectativa vai alterar a média, o que leva os próximos títulos vendidos no mercado a terem sua taxa alterada de acordo com a nova perspectiva. Quanto maior o prazo, maior a dificuldade de fazer essa estimativa. Portanto, maior a incerteza e maior a volatilidade.

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