Romário já leiloou apartamento milionário para pagar dívidas (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2011 às 10h00.
São Paulo – Com poucos anos de trabalho, muito dinheiro no bolso. Na trajetória de craques do futebol descobertos na adolescência, salários polpudos costumam se somar a generosos contratos de publicidade com cada vez mais frequência. Mas se a ascensão dentro e fora dos gramados é meteórica, a queda – pelo menos financeira – também pode ser.
“Via de regra esses profissionais ganham muito dinheiro em um prazo curto de tempo. A fartura pode dar a impressão que os recursos nunca vão acabar”, afirma o educador financeiro Mauro Calil. Para ele, a rápida mudança no padrão de vida facilmente pode se converter em descontrole. “Muitos esticam o salário e gastam em excesso com coisas que não tinham, como carros importados, viagens caras e roupas de marca.”
Segundo Calil, qualquer aumento é motivador - mas por apenas três meses. “A partir daí você já se acostuma a fazer gastos mais altos, achando que o ideal seria que você ganhasse um pouco mais", alerta. A lição que fica é a mesma para qualquer pessoa, independente de demonstrar ou não habilidade com a bola: saber dizer não às tentadoras possibilidades de consumo, poupando no mínimo 10% salário é imprescindível para viver com conforto no futuro.
Dívida e prisão
Marcada por tumultuados episódios financeiros, a vida pessoal do ex-jogador Romário ganhou as páginas dos jornais em 2009. Na época, o baixinho perdeu sua cobertura na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e chegou a passar um dia atrás das grades. O motivo? Dívidas e não pagamento de pensão alimentícia.
Em pelo menos duas ocasiões a informalidade do craque em lidar com suas pendências lhe custou caro. Seu vizinho de baixo o processou por uma infiltração em 2003. O dano teria sido causado por obras feitas no apartamento de Romário. Inicialmente, o ex-jogador teria tentado resolver o impasse com um mal sucedido acordo verbal. Desde o início da pendenga, o processo exigiu o ressarcimento pelo reparo, além do valor que o vizinho deixou de embolsar com o aluguel do imóvel.
Com o impasse, os anos passaram e o prejuízo só cresceu. "Não tem jeito, quanto mais rápido você resolver problemas que envolvem dinheiro, menor será a dor de cabeça, já que juros e correção monetária devem aumentar significativamente o tamanho do rombo", alerta o educador financeiro Mauro Calil. No caso de Romário, a indenização estipulada em 2009 passou de 5,5 milhões de reais.
Para arcar com o pagamento, a justiça determinou que o craque leiloasse seu apartamento de 776m², vendido por 8 milhões de reais. O dinheiro foi usado para quitar outras dívidas deixadas pelo caminho, como parcelas de condomínio atrasadas e débitos com a Receita Federal.
Romário também emprestou recursos ao Vasco e até abriu mão dos seus direitos de imagem. A camaradagem, contudo, não foi reconhecida pela nova diretoria do clube, que não assumiu a dívida de 22 milhões reais feita com o craque. Como não há recibos formais de depósitos, mas apenas lançamentos no balanço do Vasco e uma confissão assinada pela antiga diretoria em 2004, o baixinho ficou a ver navios em uma querela que pode se estender por anos a fio.
Para Mauro Calil, não importa quais forem os laços de amizade ou família. Antes de emprestar dinheiro, qualquer pessoa deve se cercar de garantias. "Registre uma nota promissória ou um termo de confissão de dívida no cartório de títulos", aconselha.
A maré da sorte pode ter mudado para o baixinho depois de ele ter assumido o mandato de deputado federal. Para Müller, seu companheiro na conquista do tetracampeonato mundial de futebol, 2011 foi o ano de assumir os erros do passado. Recentemente o ex-jogador veio a público dizer que embora tenha acumulado rios de dinheiro enquanto jovem, a fortuna foi torrada em gastos "desnecessários" e "vaidades pessoais".
Morando na casa de um amigo e sem nenhum dos vários carros e imóveis que chegou a ter, o ex-jogador chegou inclusive a vender a igreja da qual foi pastor. “O erro foi a falta de planejamento financeiro”, diz Calil. “O ideal para qualquer pessoa é aplicar a regra dos 70/30. Viva com 70% da sua renda e guarde 30% dos recursos todos os meses, sendo que o comprometimento com prestações pode tomar no máximo 20% do salário.”
Embora com consequências menos drásticas, a história do ex-jogador Zé Elias também costuma se repetir com muitos outros craques. Preso por um mês por não pagar pensão alimentícia aos dois filhos, o ex-corinthiano ganhou a liberdade no fim de agosto.
A dívida foi estimada em quase 1 milhão de reais. "Pesquisando os hábitos do pai, um advogado hábil sempre poderá provar que o relógio caro, os ternos bem cortados, as grifes e os carrões são uma prova de que o jogador pode sim arcar com pensões altas", afirma Mauro Calil. "Mas a carreira pode acabar rápido e o jogador descer de 300.000 reais por mês para muito menos que isso. Se ele mantiver o mesmo nível de gastos, entretanto, este será o parâmetro para o pagamento da pensão."
Depois da experiência, Zé Elias alegou não conseguir mais dormir e chegou a sugerir que os casos como o seu poderiam receber pena alternativa. O jogador também fez um alerta aos mais jovens, afirmando que a falta de instrução e o reconhecimento da noite para o dia poderiam abrir caminho para que muitos aproveitadores, homens e mulheres, pegassem carona na fama dos atletas