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"O cálculo dos analistas é míope"

Em entrevista a EXAME, o presidente da Nossa Caixa comenta a forte desvalorização das ações do banco

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Para Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Nossa Caixa, a compra da folha de pagamentos dos servidores públicos do Estado de São Paulo vai beneficiar os resultados do banco. Anunciada em 27 de março, a operação custou 2,1 bilhões de reais à instituição. Parte do mercado viu indícios de interferência política na decisão e o reflexo foi uma forte baixa dos papéis da Nossa Caixa. Entre a data do anúncio e o dia 2 de abril, as ações caíram 18%. Nesta entrevista a EXAME, Santos afirma que a operação é positiva para o banco:

EXAME - Por que a Nossa Caixa comprou a folha de pagamentos dos funcionários do Estado de São Paulo, se os servidores já estavam recebendo seus salários pelo banco desde o início de janeiro deste ano?

Milton Luiz de Melo Santos - Vamos relembrar a história. Quando o Banespa foi privatizado e comprado pelo Santander, estava previsto em contrato que cerca de 600.000 funcionários públicos do Estado de São Paulo continuariam recebendo seus salários pelo banco até 31 de dezembro de 2006. Isso fez parte do preço de venda do Banespa. A partir de 2007, eles passariam a receber pela Nossa Caixa, junto com os outros 500.000 servidores que já eram nossos correntistas. Mas a Nossa Caixa não tinha um contrato que assegurava que os servidores continuariam a receber seus salários pelo banco. Se não tomássemos uma providência, poderíamos perder todos esses clientes. Compramos a folha de pagamentos estadual para ter o direito de receber, todos os meses, 2,3 bilhões de reais. Esse é o valor que o governo repassa aos bancos que pagam seus funcionários.

EXAME - Por que não houve um leilão? Por que o governo deu preferência à Nossa Caixa?

Santos - É razoável que o Estado, que controla a Nossa Caixa, queira fortalecer e valorizar sua instituição. Se o banco vai bem, o Estado também recebe dividendos, como os outros acionistas. Além disso, a legislação permite que negócios como esse, feitos entre dois entes públicos, sejam concluídos sem licitação. Tudo foi feito seguindo os preços de mercado. Nossa área de planejamento econômico criou uma metodologia para precificar a folha de pagamentos, que foi validada pela consultoria KPMG. O Estado contratou a Fipecafi para fazer o mesmo levantamento e os valores bateram. Por isso, o negócio foi fechado.

EXAME - O negócio foi aprovado pelo conselho de administração do banco?

Santos - Sim, por unanimidade.

EXAME - O presidente do conselho é Mauro Ricardo Costa, secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. Ou seja, representa o governo, que quer vender sua folha de pagamentos. Não há conflito de interesses?

Santos - Haveria se ele tivesse votado. Ele se absteve, assim como Gesner Oliveira, presidente da Sabesp, que não votou porque a folha da Sabesp está incluída no negócio (votaram Francisco Vidal Luna, secretário de Economia e Planejamento de São Paulo; Carlos Américo Pacheco, secretário Adjunto da Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo; Roberto Macedo, professor; Sérgio Luiz Gonçalves Pereira, representante dos minoritários; além de Melo Santos, presidente da Nossa Caixa).

EXAME - Por que então as ações da Nossa Caixa despencaram após a compra da folha?

Santos - Isso se deve ao terrorismo de analistas e investidores. Alguns têm interesse em derrubar o preço das ações hoje para comprar os papéis mais à frente, na bacia das almas. Se analisarmos friamente, essa queda não faz sentido, porque o negócio foi bom para a Nossa Caixa. Seria muito pior se não tivéssemos comprado a folha. Perderíamos boa parte de nossos clientes.

EXAME - Muitos analistas suspeitam que houve uma pesada ingerência do governo de José Serra na decisão da Nossa Caixa de comprar a folha. Por isso, as ações teriam caído.

Santos - Isso não ocorreu. Foi uma operação puramente comercial. O cálculo desses analistas é míope. Eles acreditam que não vamos dar lucro por alguns anos para pagar a folha. O que eles não vêem é que esses clientes vão gerar novas oportunidades de negócios para o banco e, com isso, mais receitas.

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