Minhas Finanças

Novos ETFs devem ocupar espaço na prateleira de fundos conservadores

Meta do ETF é trazer ao investidor a mesma rentabilidade (ou o prejuízo) acumulado pelo Ibovespa no período

ETF: duração do produto é de 13 anos e meio (pichet_w/Thinkstock)

ETF: duração do produto é de 13 anos e meio (pichet_w/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de setembro de 2019 às 07h59.

Com a taxa básica de juros a 5,5%, o que faz as margens dos investimentos conservadores ficarem cada vez mais enxutas, a disputa entre as instituições financeiras tem caminhado para o campo dos detalhes. Qualquer ponto porcentual faz diferença em um mercado onde uma aplicação de R$ 1 mil vai render de R$ 50 a R$ 60 líquidos no fim do ano. Nesse contexto, cresce a aposta do mercado pelos ETFs de renda fixa. Com alíquota fixa de 15% de Imposto de Renda (IR) e taxa de administração na casa dos 0,2% ao ano, esse produto tende a ganhar espaço no País.

Na semana passada, o Itaú Unibanco apresentou dois novos produtos desse tipo. Outras instituições, como o Bradesco e a gestora americana BlackRock, estudam produtos para ocupar logo uma posição dentro desse nicho.

O ETF é um fundo que espelha um determinado índice do mercado financeiro e tem cotas negociadas na Bolsa de Valores, como se fosse uma ação. O mais famoso do mercado é o Bova11, de renda variável, que replica o Índice Bovespa, ou seja, é composto pelas mesmas ações que formam o Ibovespa. Por isso, sua meta é trazer ao investidor a mesma rentabilidade (ou o prejuízo) acumulado pelo Ibovespa no período.

Os dois novos ETFs do Itaú acompanham os índices publicados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O primeiro deles, chamado de IB5M11, segue os títulos públicos atrelados à inflação, as NTN-Bs, e com prazo igual ou superior a cinco anos.

A duração do produto é de 13 anos e meio. O segundo, o IRFM11, é considerado mais conservador. Replica títulos prefixados, LTNs, com duração de dois anos e dez meses.

O investimento mínimo é de R$ 100 e a liquidez é de um dia a partir do pedido de resgate. A taxa de administração é de 0,25% ao ano para o ETF de NTN-B e de 0,2% ao ano para o de LTN. Em maio deste ano, o Itaú levantou R$ 2 bilhões no lançamento de seu primeiro produto nessa linha, também de títulos do Tesouro atrelados à inflação.

"O mercado de ETFs no Brasil tem grande potencial. No mundo, são US$ 5,7 trilhões apenas em ETFs. Esperamos uma expansão importante no Brasil", diz Stefano Dorlhac Catinella, responsável pela distribuição local do Itaú Asset Management. Em cinco anos, o Itaú espera levantar R$ 20 bilhões com ETFs de renda fixa.

O superintendente de juros e moedas da B3, Marcos Skistymas, lembra que, até 2018 - quando foi lançado o primeiro ETF de renda fixa pela gestora coreana Mirae Asset -, o País só tinha opções do produto na renda variável. "É algo novo no mercado e tudo que é novo chama a atenção de gestores e investidores". Ele vê como potenciais para novos lançamentos de ETFs, além da renda fixa, aqueles que apostam na tecnologia smart beta - uma estratégia de compra de ações com base em 'fatores' como valor ou crescimento - e aqueles que reproduzem índices de outros países. "Existe demanda por exposição a outras regiões que não os Estados Unidos", diz Skitymas.

Concorrência

O principal concorrente privado do Itaú, o Bradesco, acompanha o avanço do rival e prepara seu bote. O teste ocorreu em junho deste ano, quando estreou no mercado com um ETF de renda variável atrelado à Bolsa, o BOVB11 - o quarto do mercado a seguir o Ibovespa.

O produto saiu com patrimônio de R$ 750 milhões e, hoje, tem quase R$ 2 bilhões, resultado comemorado na gestora do banco. O Bradesco agora pretende ampliar o portfólio. Um dos destaques seria um ETF de renda fixa nos próximos meses. "Gostamos muito de fundos que apostam em índices atrelados à inflação", diz Ricardo Eleutério, superintendente Executivo da Bradesco Asset Management.

Existem no País 18 ETFs - 14 de renda variável e, agora, quatro de renda fixa. É um mercado de R$ 24,8 bilhões alocados. O Itaú lidera com R$ 13 bilhões, ante R$ 11 bilhões da Blackrock, a maior gestora de ETFs do mundo. No Brasil, o principal produto da americana é o Bova11, com R$ 9,4 bilhões administrados. Desde que perdeu a liderança no País, a empresa é pressionada para ampliar as ofertas. "Avaliamos as possibilidades, que podem ser ETFs de índices internacionais e também ETFs de renda fixa", diz o diretor da BlackRock no Brasil, Rodrigo Araújo.

Para o professor de finanças do Ibmec, George Sales, uma das vantagens dos ETFs de renda fixa em relação a um fundo clássico está na tributação. Os ETFs têm alíquota fixa de 15% de Imposto de Renda (IR) sobre o ganho de capital, sem importar a data de entrada e saída. Além disso, segundo o professor, os ETFs não contam com o 'come cotas': a antecipação no recolhimento do IR em diversos fundos de investimento.

Para o professor de finanças da FGV e colunista do Estado, Fábio Gallo, o mercado de ETFs deve crescer daqui para a frente, em um cenário onde os juros baixos levam a disputa entre os produtos para os detalhes.

"Para o pequeno investidor pode valer a pena, já que, para comprar um ETF, basta ter conta em uma corretora", diz. "São produtos com boa liquidez e o investidor está naturalmente diversificando em vários títulos." O ponto de atenção é que são produtos comercializados na Bolsa, o que confere oscilações nos preços, mesmo na renda fixa. "A curva desses produtos parece um eletrocardiograma, cheia de altos e baixos. Se a pessoa não vai ficar com o produto até o fim do prazo, precisa se acostumar com o sobe e desce", afirma.

Acompanhe tudo sobre:renda-fixafundos-de-renda-fixaETFs

Mais de Minhas Finanças

Mega-Sena: veja dezenas sorteadas do concurso 2.924 - prêmio é de quase R$ 18 milhões

Captação de fundos supera resgates em 2025, mas juros altos reduziram apetite do investidor

Regulamentação de ETFs ativos no Brasil deve entrar na agenda de 2026 da Anbima

Como financiar um carro? Especialista responde às dúvidas mais comuns