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Nossa Caixa tem o pior resultado entre os bancos brasileiros

Em entrevista ao Portal EXAME, o presidente da instituição explica o que provocou a redução do lucro do banco em 2007 e quais os planos para reverter a situação neste ano

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O ano de 2007 definitivamente não foi bom para a Nossa Caixa, o terceiro maior banco de varejo do Brasil com controle estatal. Segundo levantamento da consultoria Economática, o banco teve a menor rentabilidade entre as 13 instituições de capital aberto que já divulgaram seus balanços neste ano (ver tabela abaixo). O lucro líquido caiu pelo segundo ano consecutivo, para 303 milhões de reais. Em relação a 2006, o ganho foi 33% menor. Já as ações da Nossa Caixa, que chegaram a valer mais de 50 reais no final de 2006, estão em queda livre e fecharam cotadas a 24,50 reais na última sexta-feira. O valor é menor do que o obtido com a oferta inicial das ações da Nossa Caixa feita no Novo Mercado da Bovespa em outubro de 2005 (31 reais). Isso tudo em um período excepcional para os bancos brasileiros. Bradesco e Itaú, os dois maiores do setor privado no país, por exemplo, lucraram mais de 8 bilhões de reais em 2007, um recorde histórico. Muitas das instituições financeiras de menor porte que abriram o capital no ano passado mais do que dobraram seus lucros. Seria então a Nossa Caixa a primeira vítima brasileira da crise do subprime, que devastou balanços de bancos na Europa e nos Estados Unidos em 2007?

O RESULTADO DOS BANCOS EM 2007
Banco
Rentabilidade sobre o patrimônio líquido (em %)
Lucro (comparação 2006/2007, em %)
Banrisul
44,84
+153
Itaú
32,26
+97
Unibanco
31,69
+97
Bradesco
29.14
+58
Pine
26,38
+139
Santander
21,41
+129
Daycoval
21,07
+142
BicBanco
17,40
+75
Panamericano
16,25
+80
Besc
15,21
-21
Banco do Nordeste
14,14
+8
ABC Brasil
12,79
+60
Nossa Caixa
11,30
-33
Fonte: Economática e Portal EXAME

Na verdade, o lucro menor é explicado por analistas e pelo próprio diretor-presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos, com a compra da folha de pagamento dos servidores do governo de São Paulo. O negócio, anunciado em março de 2007, é bastante polêmico. O banco pagou 2,084 bilhões de reais para ter o direito de creditar em conta corrente os salários de cerca de 1,1 milhão de servidores de São Paulo. O valor a ser pago pela folha foi definido a partir de estudo da Fipecafi, mas não houve uma licitação para a definição do vencedor, ao contrário do que aconteceu em alguns estados e municípios. Somente em 2007, a Nossa Caixa teve que desembolsar pela folha de pagamento 317 milhões de reais, um montante superior ao próprio lucro anual da instituição. Neste ano, o repasse de recursos ao governo estadual será de cerca de 410 milhões de reais.

Santos afirma que o mercado errou ao enxergar a operação como mais benéfica para o governo do Estado do que para a Nossa Caixa. "O banco público sempre enfrenta a desconfiança de que será usado politicamente pelo governo", afirmou ele ao Portal EXAME. O executivo afirma que o valor definido pela Fipecafi corresponde a 1.960 reais por cliente, mais barato que operações semelhantes realizadas por outros governos. Outro erro do mercado, diz Santos, foi esperar que o negócio trouxesse resultados imediatos no balanço do banco, como a aquisição da carteira de crédito ou de um banco rival. Seu argumento é de que leva tempo para aumentar o número de serviços contratados pelos clientes. "O cara não veio do Santander [que detinha a folha de pagamento estadual desde a privatização do Banespa] de livre e espontânea vontade. Leva tempo para fidelizá-lo."

Mas Santos acredita que já tem bons resultados para apresentar. No primeiro trimestre de 2007, o total de receitas mensais do banco com os 550 mil novos servidores conquistados na transação era de 34,12 reais. No quarto trimestre, esse número havia subido para 60,10 reais. "Acredito que podemos chegar a um valor maior do que o obtido com os outros 550 mil servidores que já tinham conta na Nossa Caixa antes de 2007, que é de 122,81 reais", afirmou.

Pior sem ela que com ela

O executivo apresenta também outro importante argumento para a compra da folha de pagamento paulista. Nos anos anteriores, a Nossa Caixa criou a infra-estrutura necessária para receber esses novos clientes. O banco abriu quase uma centena de agências e postos de atendimento bancário, além de contratar 2.700 funcionários. Investiu também em tecnologia e em treinamento para dar maior conforto e aumentar o número de produtos oferecidos aos clientes. Com a decisão do Banco Central de limitar os acordos entre empresas e bancos para o depósito da folha de pagamento de funcionários, com a obrigatoriedade de abertura de conta-salário a partir de 2007, o banco precisou fechar rapidamente um acordo com o governo, sob pena de ter de arcar com os custos de uma infra-estrutura que ficaria ociosa. "E o Santander também iria comprar a folha se não comprássemos. Aí estaríamos em uma situação muito mais delicada", afirma.

Por que então as ações do banco perderam mais da metade do valor nos últimos 15 meses? "O mercado precificou errado nossas ações, achando que o governo do estado repassaria sua folha de pagamento de graça para a Nossa Caixa", explica Santos. "Mas isso era um importante ativo do estado. Lógico que teríamos que pagar. E o importante é que pagamos um valor que vamos recuperar mais rapidamente do que imaginávamos."

Santos diz também que as ações do banco hoje não valem tanto quanto deveriam. Ele acredita que o banco terá um resultado melhor neste ano porque deve elevar sua carteira de crédito para pessoas físicas em 35% a 40%. "Os funcionários já estão treinados para vender mais produtos aos clientes e aumentar nossas receitas." Já para as pessoas jurídicas, a expectativa é melhor ainda, de alta de 50% na carteira. "Estamos conversando com empresas estatais como Sabesp, Metrô e CPTM para oferecer nossas linhas de crédito. Além disso, aproveitando esse relacionamento, também queremos nos aproximar dos fornecedores dessas estatais para vendermos nossos produtos."

O banco acredita que o aumento das receitas com crédito será suficiente para compensar a redução dos ganhos com a manutenção de títulos públicos em tesouraria devido à queda dos juros e também a pressão com gastos com processos civis e trabalhistas - que custaram 642 milhões de reais em 2007. Além disso, neste ano todos os bancos brasileiros terão de pagar mais Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e terão limites para o reajuste e a criação de tarifas. O sucesso das promessas de Santos é fundamental para a Nossa Caixa recuperar a confiança do mercado, abalada desde a compra da folha de pagamento de São Paulo. O governo de São Paulo planeja vender mais ações da Nossa Caixa ao mercado. Já tem até mesmo autorização da Assembléia Legislativa para ofertar até 49% das ações ordinárias do banco. Na oferta realizada em 2005, foram vendidos apenas 28,75% dos papéis - ou seja, ainda há espaço para passar para investidores privados mais 20,25% das ações. Santos afirma, entretanto, que o negócio só será levado adiante quando as ações do banco se recuperarem. Se quiser voltar a captar dinheiro no mercado, entretanto, o banco terá primeiro de cumprir suas promessas.

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