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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O ritmo de fusões e aquisições no Brasil não deve ser afetado pela atual crise no mercado mundial de crédito e de capitais. Em outros países, sobretudo nos desenvolvidos, teme-se que o menor apetite dos investidores por negócios mais arriscados reduza o crédito para as chamadas aquisições alavancadas (leveraged buyouts). Mas, no Brasil, os especialistas afirmam que os efeitos serão mínimos. "Nossa expectativa é que as fusões e aquisições cresçam entre 30% e 35% neste ano", afirma Raul Beer, sócio da PricewaterhouseCoopers no Brasil.
Trata-se do mesmo ritmo em que os negócios foram fechados durante este ano até agora. De acordo com a consultoria, entre janeiro e julho foram realizadas 411 transações do tipo no país, um aumento de 35% sobre o mesmo período do ano passado. Ao longo de todo o ano de 2006, foram registradas 573 fusões e aquisições. Se aplicado o incremento de 35%, significa que o Brasil terminaria 2007 com mais de 750 acordo fechados. "Não vejo nada que possa atrapalhar o ano. Esses soluços do mercado mundial já eram esperados", afirma Beer.
No exterior, os analistas começam a se preocupar com os efeitos colaterais da crise cujo epicentro é o mercado imobiliário americano. As turbulências podem levar os investidores a rever toda a sua estrutura de crédito, reduzindo o apetite por risco em outros segmentos de mercado. Na prática, isso poderia diminuir a oferta de crédito, o que afetaria a capacidade de fundos de "private equity", que precisam de recursos para financiar suas transações. Esses fundos injetam capital e reestruturam empresas com o objetivo de revendê-las a um preço maior no futuro. Nesta década, os retornos anuais para os fundos foram fantásticos - em boa parte deles, supera 20% ao ano. Agora, no entanto, o mercado já começa a prever mais dificuldades para o setor. As ações do maior fundo de private equity do mundo, o Blackstone, registram desvalorização de 21% desde a oferta inicial (IPO) em junho.
No Brasil, porém, há poucos fundos alavancados. A maior parte dos "private equities" já captou recursos e busca, agora, ativos onde possa investir. "O mercado brasileiro de fusões e aquisições não é ultra-alavancado", diz Beer.
Estrangeiros no Brasil
Neste ano, o Brasil assiste a uma avalanche de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês). Quase 40 empresas já se listaram na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) até meados de julho, e os especialistas esperam que o ano termine com até 60 IPOs. Parte do dinheiro captado pelas empresas nesse processo é aplicada na aquisição de concorrentes, movimentando o mercado de fusões e aquisições.
A participação dos investidores estrangeiros sempre é elevada nas ofertas brasileiras. Por isso, caso se retraiam por conta da turbulência atual, podem faltar interessados nos papéis das novatas da bolsa. Sem a adesão dos estrangeiros, não haveria capital para que as empresas continuem investindo em expansões e novas aquisições. "O efeito fly to safety [busca dos investidores por ativos mais seguros, como os papéis da dívida americana] pode arrefecer a demanda por papéis do Brasil", explica Cláudio Ramos, sócio da consultoria KPMG.
Ramos afirma, porém, que outros elementos ajudam a atenuar a fuga de investidores do Brasil, como o bom desempenho macroeconômico. "Os investidores voltaram a olhar o país como uma boa oportunidade", diz. Por isso, mesmo um refluxo momentâneo de interesse não deve comprometer as previsões para este ano. "Continuamos com a perspectiva de um novo recorde de fusões e aquisições neste ano", afirma Ramos.