AEROPORTO: comprar passagens com muita antecedência é tão ruim quanto comprar em cima da hora (Pierre Albouy/Reuters)
EXAME Hoje
Publicado em 7 de dezembro de 2017 às 18h02.
Última atualização em 7 de dezembro de 2017 às 19h57.
A essa altura do campeonato, os consumidores já se habituaram à dinâmica de precificação variável das empresas aéreas. Quanto maior a antecedência e menor a procura, menor o preço das passagens, certo? Não necessariamente.
Dados do metabuscador de voos Kayak analisados pela EXAME mostram que 55% dos voos para os 72 destinos mais buscados pelos brasileiros, partindo de São Paulo, saem mais em conta para quem compra de um a três meses antes do embarque. Ou seja: comprar em cima da hora de fato é uma má ideia, mas comprar com meses e meses de antecedência, também.
“A ideia geral de que quanto mais antecedência melhor nem sempre é correta”, diz Eduardo Fleury, responsável pela operação da Kayak no Brasil. Segundo ele, os voos não ficam caros apenas quando há muita gente comprando. Quando não há qualquer interesse nos voos, geralmente meses antes de o avião decolar, os preços também podem ser altos. A razão para essa aparente contradição está na maneira como as companhias aéreas gerenciam seus preços.
O objetivo central da técnica de gestão da companhias é atrair o maior número de passageiros para decolar com o avião cheio, mas garantir que o maior número de pessoas compre a tarifa mais cara, de forma a maximizar a receita. “O avião tem custo fixo para sair do chão, e a companhia aérea sempre vai tentar vender pelo maior preço possível”, explica Fleury.
A precificação dos assentos para atingir esses dois objetivos leva em conta dados históricos de oferta e demanda – por exemplo, voos antes do Carnaval para um destino popular terão menos desconto porque dados históricos indicam que haverá demanda suficiente. Softwares modernos são cruciais para as empresas acertarem esse tipo de previsão.
No entanto, se as vendas não correm como o esperado, a companhia aérea tende a rever sua precificação – aplicando descontos, por exemplo – para atrair passageiros e decolar com o avião cheio. Geralmente esses descontos não estão disponíveis com ampla antecedência.
Estudos recentes apontam que as companhias começam a intervir nos preços a dois meses da viagem caso o voo esteja vazio, para atrair passageiros. Entre três a duas semanas da viagem, no entanto, os valores começam a subir novamente, com o objetivo de maximizar a receita com viajantes corporativos, que tendem a reservar em cima da hora. Neste caso, um passageiro pagando muito caro é mais vantajoso que alguns pagando muito barato.
Por isso, comprar com muita antecedência pode, na verdade, levar a preços tão caros quanto voos de última hora. “Pessoas que querem comprar 10 a 12 meses antes irão pagar o valor cheio, porque a companhia aérea ainda não delimitou a dinâmica de preço para aquele voo e irá cobrar alto”, explica Fleury.
Esse é o caso de passagens para lugares para destinos bastante procurados, como Joanesburgo, Nova Déli e Barcelona: quanto maior a antecedência para esses destinos, maior é o preço médio da passagem. Para Sydney, por exemplo, reservar seis meses antes sai mais caro que comprar a um mês do embarque, como mostram dados históricos de Kayak. Enquanto a passagem em cima da hora custa, em média, 4.666 reais, com seis meses de antecedência o bilhete fica em 4.926.
Para algumas cidades, no entanto, antecedência é sinônimo de economia – principalmente se o voo for dentro do Brasil. Entre os voos nacionais analisados, 41% tinham o preço mais em conta a seis meses antes do embarque. A proporção é bem diferente entre os destinos internacionais: somente 20% dos analisados saíam mais em conta com tanta antecedência.
Fleury explica que a necessidade de reservar antes para esses destinos é pela relação oferta e demanda. “Provavelmente há uma oferta baixa de voos comparada com a demanda”, explica.
Voar para locais como Vitória, Goiânia, Brasília, Foz do Iguaçú e Cuiabá demanda planejamento prévio – quanto mais próximo da data do voo, mais caro é o bilhete. Já destinos populares dos Estados Unidos, como Nova York, Orlando, Miami e Los Angeles, têm o melhor preço a três meses do embarque, em média, segundo dados da Kayak.
Saber a melhor antecedência não é o único fator para economizar. Também é importante fugir de eventos sazonais no local de destino, como semanas de moda, congressos internacionais e festas típicas que atraem muitos visitantes.
Evitar voos durante o período de férias escolares, tanto no destino quanto na origem, também influencia os valores. Não por acaso, voos para cidades populares entre os brasileiros, como Orlando, Miami, Nova York e Lisboa, são mais caros nos meses de julho e dezembro, segundo preços médios do Kayak.
Também é importante fugir de “horários do rush” na hora da compra – como partir de Brasília na quinta-feira à noite, quando congressistas esvaziam a capital, ou voar no pré-feriado e retornar no domingo à noite. “Quando a gente fala sobre viagem, a primeira dica é fugir dos horários e dos dias de maior demanda”, explica Fleury.