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Ganhar na Mega-Sena ou nascer bilionário: o que é mais difícil?

Brasil tem o 8º maior número de bilionários do mundo; quantidade é superior à da Suíça e Emirados Árabes

Chance de nascer em família de bilionário no Brasil é próxima de 1 em 1,28 milhão; probabilidade de ganhar na Mega sena é de 1 em 50 mikhões (pinstock/Getty Images)

Chance de nascer em família de bilionário no Brasil é próxima de 1 em 1,28 milhão; probabilidade de ganhar na Mega sena é de 1 em 50 mikhões (pinstock/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 6 de fevereiro de 2023 às 10h44.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2023 às 15h18.

Nascer em uma família de bilionários no Brasil pode ser muito mais fácil do que vencer na Mega-Sena com uma aposta única. A probabilidade é cerca de 40 vezes maior, segundo estimativas feitas por Carlos Rosso, professor de Matemática do Anglo a pedido da Exame Invest. De acordo com as contas, a chance de nascer bilionário no Brasil é de 1 em 1,277 milhão, enquanto ganhar o maior prêmio da loteria é de 1 em 50,064 milhões.

Os cálculos utilizaram a premissa que cada um dos 55 brasileiros da lista da Forbes (com pelo menos US$ 1 bilhão em patrimônio) são de famílias diferentes. Também levou-se em conta que o número médio de pessoas por família no Brasil é de 3,07, segundo dados mais recentes do governo.

Mesmo com o prêmio da Mega-Sena, o vencedor ainda terá (muito) menos dinheiro do que os presentes na lista da Forbes. Com 55 pessoas com mais de US$ 1 bilhão em patrimônio, o Brasil é o oitavo país com o maior número de bilionários do mundo, embora esteja na 90ª em PIB per capita, segundo estimativa do FMI.

No ranking de bilionários, o Brasil, inclusive, aparece à frente de países considerados de primeiro mundo, como Suíça, com 40 bilionários e Holanda, com 11. No Emirados Árabes, conhecido por sua riqueza, são apenas 4. O Brasil também supera o o número de bilionários do Reino Unido, que tem quase o dobro do PIB brasileiro, mas apenas 48 pessoas com patrimônio superior a US$ 1 bilhão, de acordo com a Forbes.

Já a probabilidade de nascer em uma família de milionários é muito maior: de 1 para cada 500. Isso considerando apenas os números da Anbima de contas do segmento private no Brasil, que até meados do ano passado eram 143.936, e que cada um é de uma família.

A quantidade é baseada na classificação feita pelos próprios bancos e tem com base na disponibilidade mínima de investimento "raramente" inferior a R$ 1 milhão. Aqueles com R$ 1 milhão em patrimônio (como casas e carros), mas sem a quantia disponível para investimento, são descartados.

Considerando a hipótese de que os três membros da família têm contas private (inclusive a criança), a chance de nascer em uma família de milionários cairia para próximo de de 1 em cada 1.500 -- o que ainda seria cerca de 33,4 mil vezes mais fácil do que ganhar na Mega-Sena.

Aumento da desiguldade

A chance de nascer em uma família de milionários, por sinal, cresceu 20% após a pandemia, dado o aumento de contas private entre fevereiro de 2020 e julho de 2022,  de 120.424 para 143.936. Por outro lado, também cresceram as chances de o brasileiro nascer em uma família abaixo da linha da pobreza.

Segundo levantamento da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, a proporção de brasileiros que viviam com menos de US$ 1,9 por dia cresceu de 6,8% para 8,4% entre 2019 e 2021. A proporção dos que viviam com entre US$ 1,9 e US$ 3,2 aumentou de 12,7% para 15,2% enquanto a faixa entre US$ 3,2 e US$ 5,5 saltou de 25,9% para 29,4%.

Uma roleta-russa

"Nascer no Brasil é uma roleta-russa". A frase repetida em sala de aula por Carla Beni de Aguiar, economista e professora de MBA da FGV, tem se tornado uma realidade cada vez maior. "O maior fator de mobilidade social no brasil é a herança. Não é o estudo, nem o trabalho", afirmou.

"Estatisticamente, o Brasil é um país de baixíssima mobilidade social. O resultado de uma vida adulta tem forte impacto na família que nasceu. Se a família supriu as ineficiências do setor público, com escola particular, bom plano de saúde, uma casa com estrutura, são aspectos muito importantes", disse Aguiar.

No cerne da desigualdade brasileira, aponta a professora da FGV, está a questão tributária. "É preciso menor tributação sobre produtos e mais impostos sobre herança, capital, divendos e lucros. Isso sem contar as questões históricas."

A professora, especialista em desigualdade, aponta que o Brasil tem 43,5% da carga tributária em bens e serviços, enquanto o teto de países da OCDE é de 32%. "A estrutura tributária brasileira é um motor de provocar mais desigualdade." Já a alíquota máxima sobre imposto de renda sobre pessoa física no Brasil é de 27,5%, sendo que a média internacional é próxima de 42%.

Quanto aos impostos sobre herança, Aguiar aponta que são poucos os países com uma alíquota tão baixa quanto os 8% cobrados no Brasil. Nos Estados Unidos, há uma tabela escalonada que vai de 18% a 40%. No Japão, a taxa vai de 10% a 55%. Já na Bélgica a alíquota pode chegar até a 80%, dependendo do valor e do grau de parentesco. Curiosamente, existem apenas 2 belgas no ranking da Forbes, embora o país tenha mais da metade do PIB do Brasil.

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