Private banks: muitos investidores de alta renda ainda não perceberam a mudança na taxa de juros (Foto/Thinkstock)
Karla Mamona
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 14h22.
Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 14h22.
São Paulo - Os private banks, áreas de gestão de fortunas dos bancos, procuram se adaptar aos novos tempos de juros baixos no Brasil. Segundo Luiz Severiano, head global do Itaú Private Bank e coordenador da Comissão de Private Banking da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima), o momento exigirá maior esforço para ajustar as aplicações dos investidores ao novo cenário e orientar os clientes sobre os novos tempos de retornos menores e de maior risco.
Muitos desses clientes, alerta Severiano, não se deram conta ainda da nova realidade, ou acreditam que a queda é passageira. “É um cenário desafiador em termos macroeconômicos, de juros menores no Brasil e no mundo, com juros até negativos, e está ocorrendo uma mudança no comportamento do investidor”, afirma. “No Brasil, é uma novidade o juro pós fixado em 6% e com expectativa de quedas, até 5%, juro real em torno de 3% dependendo do prazo”, observa. Ele participou do 7º Seminário de Private.
Esse ambiente é mais desafiador para as famílias e para os private banks, pois com o juro alto e baixo risco a situação era cômoda para todos, admite Severiano. “Em um ambiente de juro mais baixo, os bancos precisam se mexer, precisam ficar mais sofisticados e é muito mais desafiador oferecer um investimento de mais longo prazo, mais sofisticado ou de maior risco como bolsa do que uma aplicação de renda fixa pós-fixada de risco zero”, afirma.
Severiano observa também que o cliente de private banking não está preparado para essa queda dos juros. “Como ainda tivemos ganhos este ano em renda fixa com a queda dos juros em papéis do governo e em multimercados, o rendimento médio caiu de 14% ao ano para 10%, um retorno ainda razoável, mas daqui para frente a situação vai mudar e o ganho será bem menor para quem ficar só na renda fixa”, alerta.
Segundo ele, muitos investidores de alta renda ainda não perceberam a mudança, por conta desses ganhos extraordinários desta fase de ajuste dos juros.
“Só os mais conservadores, que estavam totalmente em juros pós-fixados, CDI ou Selic, aplicações que acompanharam a queda dos juros para 6% ao ano, é que já perceberam a mudança”, diz. “Muitos ainda não tomaram consciência desse impacto, ou acham que em algum momento a situação do país pode piorar de novo pois o dólar subiu, e os juros vão voltar a subir”, explica Severiano.
O executivo diz que os juros até podem voltar a subir nos próximos anos, mas não voltaram aos dois dígitos, muito menos aos 14,25% ao ano de dois anos atrás. Essa opinião é reforçada por Carlos Kawall, economista-chefe do Safra e membro do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima. Para ele, o movimento de taxas de juros mais baixas não é passageiro.
No entanto, ele ponderou que os clientes do private não compartilham da mesma visão: “há relutância deles em aceitar que a queda dos juros veio para ficar”, disse. O motivo são as lembranças do passado: os investidores se recordam de quando a Selic começou a cair no final de 2011 e logo voltou a subir em 2013. As razões para a queda dos juros em 2011 e hoje, porém, são bem diferentes, e tem razões muito mais estruturais. “Há um ambiente mundial de juros baixos e até negativos no mundo inteiro que tem impacto no Brasil”, lembra Severiano.
Segundo ele, em alguns casos em que o patrimônio do investidor é menor, ele terá de adaptar seu orçamento aos novos tempos de ganhos menores. “Havia um ambiente muito benéfico, de alto rendimento com baixo risco, que acabou”, diz.
Nesse novo ambiente, o investidor que valores mais altos terá de adaptar sua carteira aos novos tempos de ganhos menores. Mas os que têm um patrimônio menor, de R$ 10 milhões, por exemplo, e podiam sacar R$ 600 mil por ano, agora poderão sacar R$ 300 mil. “E isso terá impacto em seu orçamento”, afirma. “Pode ser que o cliente tenha que mudar o modelo de vida dele e não apenas o portfólio”, diz Severiano.
Segundo ele, a expectativa para este ano para o setor de private é de um crescimento modesto, acompanhando o juro do CDI. O segmento fechou o primeiro trimestre com um patrimônio de R$ 1,3 trilhão, em meio a mudanças no perfil dos investimentos, com a renda fixa perdendo importância e os ativos de bolsa, investimentos alternativos e juro real ganhando. É um amadurecimento da indústria que exige uma capacitação técnica cada vez maior, não só dos profissionais como todos que trabalham no setor, afirma Severiano.
*Esta matéria foi publicada originalmente no site Arena do Pavini.