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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Quando estreou na Bovespa em 2006, a Medial Saúde gerou uma certa expectativa no mercado por ser a primeira empresa focada em seguros de saúde a ter ações em circulação. A estreante captou 750 milhões de reais com a oferta inicial de ações e chegou a render bons ganhos para investidores. Nos últimos meses, no entanto, seu desempenho tem sido digno de um time de segunda divisão. Desde a estréia na Bovespa, com os papéis (MEDI3) colocados a 21,50 reais cada, a desvalorização acumulada já chega a 40% considerando o preço do fechamento desta quarta-feira (12,90 reais).
O setor de saúde não chega a ser considerado um mico no mercado. O potencial de crescimento é bastante grande. Só pouco mais de 20% da população brasileira têm acesso a planos, sendo que no Nordeste esse percentual cai para 9%. O potencial de consolidação também é alto, já que as cinco maiores empresas dominam apenas 24% do mercado. A própria Medial tem apostado na compra de concorrentes. As duas principais aquisições foram da Amesp em 2007 e do grupo Saúde neste ano. O crescimento da renda e do emprego formal no Brasil são outros fatores que criam expectativas positivas sobre o futuro do setor.
O presente, entretanto, não tem sido fácil para os investidores que compraram ações da Medial principalmente devido à dificuldade da empresa em baixar seu índice de sinistralidade. Esse número é examinado com lupa por analistas de mercado porque indica qual é a parcela da receita da empresa que volta para os beneficiários na forma de atendimentos médicos. Por ser um mercado bastante fragmentado, com cerca de 1.600 empresas em operação no país, a tendência é de que haja forte concorrência entre as companhias e que margens sejam sempre bastante apertadas. Logo, quanto mais dinheiro for gasto com os pacientes, menor ainda será a rentabilidade do negócio.
Desde o ano passado a Medial vinha conseguindo reduzir seus índices de sinistralidade. A estratégia da empresa tem sido a de cortar os planos de saúde menos lucrativos e deficitários de sua carteira. Outra aposta para aumentar as margens é a verticalização da operação. A empresa já possui 10 hospitais, 43 centros médicos e 48 laboratórios e planeja uma forte expansão da infra-estrutura de atendimento aos beneficiários nos próximos anos. Além disso, a Medial passou a vender planos odontológicos, que têm sido oferecidos aos clientes de saúde com bastante sucesso.
No segundo trimestre, entretanto, o índice de sinistralidade voltou a subir, movimento justificado pela empresa com o maior número de cirurgias realizadas. Os gastos maiores reduziram o Ebitda (lucro antes de impostos e amortizações) de 56,3 milhões de reais no primeiro trimestre para 7,4 milhões de reais no segundo e o lucro líquido caiu de 40,5 milhões de reais para 10,8 milhões. O mercado juntou essa deterioração no balanço com a dificuldade de aumentar o número líquido de clientes e concluiu que o mercado anda bastante acirrado.
Para piorar as expectativas dos investidores, a Medial anunciou em julho a substituição de seu presidente, Luiz Kaufman, nove meses antes do término de seu contrato. Emílio Carazzai, o substituto, foi uma escolha elogiada por analistas do Santander. Carazzai já foi presidente de bancos como Caixa Econômica Federal e Pine. Entre seus projetos, está o fechamento de uma parceria com um banco para aumentar a capilaridade dos pontos de venda da empresa. O Itaú, no entanto, decidiu retirar a recomendação de compra das ações da Medial e indicou a manutenção dos papéis até que a empresa consiga mostrar que pode captar novos clientes sem sacrificar sua rentabilidade. Em geral, as expectativas do mercado continuam positivas para a empresa, mas apenas para investimentos de longo prazo.