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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Em 2006, diante de uma platéia de economistas no FMI, Nouriel Roubini, professor de economia da Universidade de Nova York e ex-assessor do governo Bill Clinton, anunciou que uma crise estava a caminho, e que era provável que nos meses seguintes os Estados Unidos se vissem diante de dificuldades no mercado imobiliário. Na época, a platéia reagiu com ceticismo e até desprezo, e o professor foi desacreditado. Alguns anos e uma crise enorme depois, hoje Roubini é tratado como visionário, e transformou-se em um dos protagonistas do debate econômico atual.
Em entrevista ao Portal EXAME, Roubini acredita que a retomada será possível nos próximos anos graças aos estímulos econômicos feitos por cada um dos governos dos países em recessão. Mas ele explica que, embora a intervenção do governo tenha funcionado para evitar um caos ainda maior nos Estados Unidos, o exemplo do que foi feito pelo governo americano na economia não é a única saída. "Deve haver um limite para isso, pois o custo fiscal dessas intervenções se torna gigante e severo", afirma Roubini.
- O senhor acha que o mundo vive hoje uma recessão?
No meu ponto de vista, a recessão está agora migrando dos Estados Unidos para outros países, como Japão, a zona do Euro. Mesmo o número positivo do crescimento americano no segundo semestre não alivia muito, ele é um reflexo de descontos de impostos para os americanos. O país já está em recessão e agora essa recessão está se tornando global, e esse é um problema sério.
- O pior da crise já passou?
A pior parte da crise está bem na nossa frente, em termos de perdas financeiras, consumo, crises bancárias. O pior não ficou para trás. Haverá muitos bancos que vão falir ainda, hoje é o Lehman Brothers, ontem foi o Bear Stearns, amanhã ainda haverá outro. E não sabemos se o governo ainda vai ajudar mais.
- O que o senhor acha das intervenções do governo americano em empresas privadas?
Deve haver um limite para esse tipo de ajuda, porque o custo fiscal desses salvamentos se torna gigante e severo. E a questão é até que ponto isso vai e o peso que terá nas contas públicas. O custo dessas ações pode chegar até em um trilhão o déficit.
- Mas intervenções do governo como a que resgatou o banco de investimentos Bear Stearns em março não tem sido as responsáveis pelo crescimento do país no último trimestre?
Não acho que essa seja a razão. O crescimento no último semestre deve-se mais aos incentivos fiscais. E isso não vai se repetir no próximo trimestre. E agora o consumo, que é responsável por 70% do PIB americano, está caindo e então haverá uma recessão severa nos próximos meses.
- E o Brasil? O país vai sentir os sintomas da crise?
Esse ano será bom, mas o próximo pode ser difícil para o Brasil, porque o preço das commodities está baixando. Em 2008, o país vai crescer 4,8%, mas para o próximo ano a previsão de que o país crescerá entre 3% e 3,5% é muito otimista, eu acredito que esse crescimento deve baixar para 2%.
- O FMI estima que em 2010 a economia mundial volte a se recuperar. Por que se dará essa retomada?
Daqui a dois anos pode haver uma recuperação global, mas o problema é que agora o mundo está entrando em recessão, e acho que o que importa para o mundo é o que acontece no próximo ano, e agora a situação é muito agora há sinais de redução também nas economias dos mercados emergentes, então pode haver uma recuperação, mas que não vai acontecer antes de 2010. A segunda metade de 2008 e o ano de 2009 vão ser muito difíceis.
- Mas como a economia global vai conseguir voltar a prosperar?
Existirão muitos estímulos nos países, como políticas fiscais e monetárias. Os Estados Unidos vão receber vários salvamentos financeiros e também para a população endividada, que vão tirar o país da crise. Mas em minha opinião, vai ser uma crise muito severa. Os próximos 18 meses nos Estados Unidos serão muito ruins.
- E o que deve acontecer com a China?
O que vai acontecer na China depende do tamanho da recessão nos Estados Unidos e no Japão. Se for algo muito severo, haverá uma desaceleração na China. Para a China, a questão principal é como eles podem estimular o gasto público e lidar com políticas fiscais para lidar com esse momento. Há visões diferentes sobre até que ponto eles podem estimular o gasto do lado fiscal.
- O que significa para o resto do mundo uma desaceleração do ritmo de crescimento chinês em 1%?
A China demanda matérias primas e commodities da América Latina, da Ásia, da África da América Latina, e uma desaceleração na China atrelada a uma recessão nas economias avançadas teria um efeito severo na economia global.
- Quando o senhor previu essa crise em 2006, o senhor achava que chegaria nesse ponto?
Eu era muito pessimista, e muitos dos fatos os quais eu disse que iriam ocorrer realmente aconteceram, e algumas coisas foram até pior do que eu esperava. Eu esperava que o preço dos imóveis fosse cair 20%, e agora caem 40%, por exemplo.