Malabarismo com as contas, troca de hábitos e olho atento ao orçamento são alguns requisitos para enfrentar a crise (ThinkStock/AndreyPopov)
Da Redação
Publicado em 17 de agosto de 2015 às 10h36.
São José do Rio Preto, SP, e Recife - A família do representante comercial Ernesto Francisco Andrade é o exemplo do aperto vivido pelas famílias brasileiras que são obrigadas a reduzir o consumo para sobrar dinheiro para pagar as contas do fim do mês.
Funcionário de uma empresa de materiais elétricos para construção civil que entrou em recuperação judicial, Andrade teve de reduzir gastos, mudar hábitos de consumo e dar "pedaladas" no orçamento doméstico para manter um mínimo de conforto no dia a dia da família.
"Ainda bem que consegui quitar o carro (um Kia Sportage, 2007), mas a troca por um modelo mais novo vai ficar para depois", afirma Andrade. "As vendas caíram e a empresa passou a não cumprir prazos de entrega, e comecei a faturar bem menos, resultando numa queda de renda brutal."
Segundo ele, "desde 2013, a coisa vem apertando, mas este ano, piorou demais". A saída foi usar criatividade e "jogo de cintura". "Em algumas contas, dou pedaladas. Se tem juros altos, como cartão de crédito, dou prioridade no pagamento, mas outras, menores, ficam para o mês seguinte e assim vou revezando para não deixar de pagar ninguém", conta. "A gente atrasa aqui e ali e vai levando."
O consumo da família também mudou. "Troquei as marcas de produtos de limpeza e de consumo na casa", diz Célia. Agora a família compra grandes quantidades em lojas de atacado. "O sabão em pó, por exemplo, eu compro embalagens de cinco quilos, que sai mais barato. Parei com o refrigerante e agora o negócio é o suco de saquinho."
Segundo Ernesto até mesmo conseguir outro emprego está difícil. "As empresas mais conceituadas estão com o quadro formado", explica. "Vamos esperar que as coisas melhorem para que a gente volte a consumir, mas não vejo muitas mudanças em pouco tempo não", concluiu.
Nova realidade
Em Fortaleza, Clébia Nobre, dona de uma pequena confecção de roupas masculinas no bairro Serrinha, deixou a Coca-Cola de lado e substituiu pelas "tubaínas", como são chamados os refrigerantes de marcas menos conhecidas.
O sabão em pó que lavava a roupa da família - ela, o marido e as duas filhas menores - também foi trocado. De olho mais atento ao orçamento, Clébia deixou de lado a fidelidade a certas marcas de produtos.
Até pouco tempo atrás, a situação financeira da família era ótima. Em 2011, Clébia até ampliou a confecção, mas, com o aumento no custo de vida, a família começou a enfrentar alguns problemas financeiros. "A gente aperta o supérfluo e gasta o essencial. É melhor do que ter dívidas para o futuro."
Professora da rede municipal de Fortaleza, Christiane Costa também teve de fazer ajustes no orçamento para não acumular dívidas. "Como as coisas estão piorando cada dia, a situação da classe média está no corte de despesas. Marcas caras nem pensar."
Para continuar bancando o combustível do carro usado para ir ao trabalho e para os passeios com a filha, ela reduziu o consumo de certos alimentos, como peixe, feijão verde e algumas frutas. Além da gasolina, outra conta que tem pesado é a de luz.
Já para o administrador de empresas Glauber Henrique de Carvalho, que trabalha no setor de construção, é separado e tem uma filha, a crise ainda não chegou. Ele costuma planejar tudo. "O segredo é não gastar com besteira", diz.
Carvalho usa um software para administrar as contas pessoais. "Às vezes, pagamos caro por um produto, mas na verdade, estamos pagando pela marca."