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Mercado se prepara para oferecer sistema de pagamento instantâneo

Novo sistema do Banco Central prevê que transferências bancárias funcionarão 24 horas por sete dias da semana

Internet Banking: pagamentos a estabelecimentos, no débito, também devem ser Instantâneos (ArisSu/Getty Images)

Internet Banking: pagamentos a estabelecimentos, no débito, também devem ser Instantâneos (ArisSu/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 08h24.

Última atualização em 3 de fevereiro de 2020 às 10h31.

São Paulo — Transferir dinheiro de forma instantânea para qualquer tipo de conta corrente ou de pagamento, seja de pessoas físicas ou de um estabelecimento comercial, a qualquer hora, em qualquer dia da semana, sem nem precisar saber todos os dados do destinatário e em poucos cliques.

É isso que o Banco Central prevê para o novo sistema de pagamentos, que começa a passar por testes de conectividade neste mês e deverá ser implementado a partir de novembro.

Após o lançamento, instituições financeiras de grande porte (como os bancos de varejo) e instituições de pagamento (como fintechs que trabalham com contas e carteiras digitais) serão obrigadas pelo BC a oferecerem esse serviço para os clientes.

"O sistema de pagamento instantâneo tem a característica de operar 24 horas por dia, sete dias por semana. Ele vai incluir todos as instituições financeiras e de pagamento. Hoje em dia, você tem o TED e o DOC, que englobam todo o sistema financeiro, mas eles não funcionam nesse esquema 24 por 7", diz Angelo Duarte, chefe do departamento de competição e de estrutura do mercado financeiro do BC.

Duarte explica que, no sistema atual, mesmo uma operação com cartão de débito não gera crédito em conta no mesmo momento da operação em uma loja.

No novo sistema, esse problema promete ser resolvido, creditando o valor pago instantaneamente na conta do recebedor. Segundo a Febraban, o sistema permitirá enviar e receber dinheiro em dez segundos.

A mudança busca ainda reduzir os custos do sistema. "As transações do dia a dia com cartão de débito e crédito têm custos maiores do que no sistema de pagamentos instantâneos. Esses custos não são visíveis para quem usa o cartão", diz Duarte. Com custos reduzidos e um sistema aberto a qualquer instituição, a intenção é incentivar a competitividade.

"Como o sistema financeiro no Brasil é concentrado, o custo de transferências, por exemplo, é relativamente alto. Com mais competitividade, em um sistema aberto, os custos das transações para os clientes também devem diminuir", diz Tulio Oliveira, vice-presidente do Mercado Pago, instituição de pagamento do Mercado Livre.

É justamente a característica de incentivo à competição que deve diferenciar o sistema de pagamentos brasileiro do que se observa, por exemplo, na China.

No país asiático, duas carteiras digitais dominam o setor e praticamente substituíram o dinheiro.

"O mercado daqui não vai ser igual ao chinês. Daqui a três ou cinco anos, creio que teremos cinco ou seis grandes ecossistemas de pagamento convivendo e competindo", diz Gueitiro Genso, presidente da carteira digital PicPay. É consenso também que os cartões e o próprio dinheiro não vão deixar de existir de uma hora para outra. "As formas de pagamento podem coexistir. Vale levar em consideração o diferente momento da economia do Brasil em relação a outros países", diz Carlos Nomura, diretor de pagamentos da PayPal.

Na visão do coordenador do curso de administração do Ibmec de Minas Gerais, Eduardo Coutinho, porém, a redução de custos do sistema e o ambiente aberto não são garantia da redução de custos para o cliente final.

"Toda a cadeia de pagamentos vai ter redução de custos, mas temos de observar para saber como isso vai se refletir no consumidor." Ele acrescenta que a competição dependerá das condições de acesso ao mercado para as novas empresas.

Outros caminhos

Enquanto as mudanças não chegam, as carteiras digitais se movimentam para ganhar inserção no mercado.

As chamadas e-wallets já permitem pagamentos instantâneos entre seus usuários e em estabelecimentos credenciados às suas redes. No entanto, trata-se de sistemas fechados que, no geral, não se comunicam com os concorrentes.

Uma das características mais interessantes desse modelo é que não é preciso nem mesmo possuir uma conta bancária tradicional para utilizar as carteiras. É possível depositar dinheiro em cada uma delas por meio de boletos e, assim, fazer as demais transações normalmente dentro da rede credenciada. Para aumentar sua inserção, porém, essas fintechs têm buscado parcerias.

É o caso da Payly, fintech do grupo Cosan, que anuncia nesta semana parceria com a Cielo. "Somos muito otimistas com o ecossistema do Banco Central, mas não vamos esperar a concretização desse processo para avançar", diz o presidente da Payly, Juliano Prado.

Com esse tipo de parceria, é possível realizar transações com lojistas não credenciados, mas que tenham a máquina de cartões parceira. Para o executivo da área de produtos da Cielo, Norberto Sanches, mesmo sabendo que o BC desenvolve um sistema em que as transações possam acontecer da carteira digital do cliente diretamente para a conta do estabelecimento comercial - sem intermediários -, essas parcerias fazem sentido.

"A solução do BC está em desenvolvimento e é complexa. A gente não sabe como o cliente vai utilizá-la. Apoiamos a proposta do BC, mas ainda tem muito a ser esclarecido. Com essas parcerias, a gente estende a nossa estrutura. Futuramente as formas de pagamento podem conviver. E para nós, é importante chegar na frente", diz Sanches.

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