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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
O grande apetite dos investidores estrangeiros pelos países emergentes, a capacidade da economia de superar a crise política do governo Lula e continuar estável, e a perspectiva de que o país caminha para o grau de investimento animaram o mercado de capitais no ano passado. O resultado foi um volume recorde de operações. As emissões somaram 68,62 bilhões de reais - um salto de 159% em relação a 2004, quando as captações bateram em 26,527 bilhões.
O recorde anterior pertencia ao ano de 2000, quando as emissões atingiram 35,2 bilhões de reais, puxadas por operações de porte, como a troca das ações da Telesp e da Tele Sudeste por Brazilian Depositary Receipts (BDRs - sigla em inglês para certificados de ações negociadas no Brasil) da Telefônica, e pela emissão secundária de ações da Petrobras.
No ano passado, o mercado de renda fixa de títulos corporativos representou 79,39% das emissões, totalizando 54,48 bilhões de reais. A cifra é 213% superior à do ano retrasado e foi liderada pela emissão de debêntures simples. Somente esses papéis representaram 41,539 bilhões. Ao contrário de 2004, quando quase 80% das debêntures emitidas prestaram-se ao alongamento de dívidas, no ano passado, 74,4% dos papéis levantaram recursos para capital de giro.
Segundo Luiz Fernando Resende, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), o principal motivo da inversão foi o aumento das operações de leasing efetuadas pelos bancos. Pelos critérios da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Anbid, essas captações são consideradas como capital de giro. Em 2005, o leasing respondeu por 28,5 bilhões de reais do total captado via debêntures.
Renda variável
As operações com papéis de renda variável cresceram 54% no ano passado, para 14,142 bilhões de reais. O principal motivo foram as distribuições secundárias de ações. Essa modalidade de negócio alcançou 9,777 bilhões de reais, contra 4,683 bilhões no ano retrasado. Segundo a Anbid, o processo foi puxado pela saída dos fundos de private equity do capital de diversas empresas, com a intenção de aproveitar a valorização do mercado e realizarem o lucro de seus investimentos.
Já as emissões primárias de ações apresentaram uma ligeira queda de 2% sobre o volume de 2004 e totalizaram 4,365 bilhões de reais. O interesse dos investidores estrangeiros pelos papéis de renda variável foi grande - o grupo absorveu 60,2% das emissões, o equivalente a 9,76 bilhões de reais. Desse volume, 51,81% ocorreu por participação direta no país, ou seja, o investidor comprou o papel no Brasil, e não em pregões de outros países, como as ADRs negociadas em Nova York, por exemplo.
A troca de títulos da dívida pública brasileira teve forte impacto sobre as emissões externas no ano passado. A operação que retirou do mercado os C-Bonds (títulos ainda vinculados à moratória da dívida externa, nos anos 80) e emitiu A-Bonds somou 4,508 bilhões de dólares - o equivalente a 19% dos 23,264 bilhões de dólares captados pelo governo, empresas e bancos no exterior.
Perspectivas
De acordo com Resende, a sucessão presidencial não deve atrapalhar o mercado de capitais neste ano. "O Brasil amadureceu muito. Tanto a oposição, quanto a situação têm linhas econômicas muito semelhantes", diz. O vice-presidente da Anbid destacou que, apenas em relação à emissão de ações, nove operações já foram realizadas no primeiro trimestre, e a CVM já analisa outros dez processos. "Tenho certeza de que veremos, pelo menos, 20 operações com ações no primeiro semestre", afirma.
Isso não significa que as eleições não terão nenhum efeito sobre o mercado. Resende acredita que a maior parte das operações se concentrará no primeiro semestre. "Haverá volatilidade no mercado no segundo semestre, como sempre, mas sem muita força", diz.
Resende confia na permanência da liquidez internacional neste ano, o que manterá o interesses dos investidores internacionais em países emergentes. Otimista, o executivo acredita que o país está mais próximo da nota de investimento do que muitos analistas supõem. Enquanto vários economistas afirmam que a promoção do Brasil não chegará antes das reformas tributária e previdenciária e da queda da relação dívida/PIB, Resende acredita que o mercado poderá "se antecipar às agência de risco e forçar a revisão da nota".
"O risco-país hoje está muito próximo ao desejado para obter o grau de investimento", afirma. "Acredito que o país chegará ao investment grade no final de 2007 ou começo de 2008", afirma. Com isso, Resende prevê a entrada de um grande volume de capitais. "Os ativos brasileiros estão baratos e haverá uma forte demanda", estima.