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Melhores fundos de 2011 estão otimistas com a bolsa

Gestores da Western Asset e da Duna destoam da maioria do mercado e dizem que ativos de risco têm potencial para render mais que ações defensivas neste ano

Bovespa: apesar de tantas incertezas econômicas, gestores dos fundos mais rentáveis estão otimistas (Luiz Prado/Divulgação/BM&FBOVESPA)

Bovespa: apesar de tantas incertezas econômicas, gestores dos fundos mais rentáveis estão otimistas (Luiz Prado/Divulgação/BM&FBOVESPA)

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Da Redação

Publicado em 16 de março de 2012 às 18h32.

São Paulo – Apesar da queda de mais de 18% do Ibovespa no ano passado, um grupo seleto de fundos de ações conseguiu alcançar resultados muitos bons no período. A maioria dos gestores que atravessaram a tormenta ilesos pertence a duas categorias bem específicas de fundos: dividendos e “long and short”. Segundo um estudo elaborado a partir de consulta à ferramenta de análise de fundos da consultoria Economática, 17 dos 20 fundos mais rentáveis que investem primordialmente em ações estão em alguma dessas duas classes.

Nome Classificação Anbima Empresa gestora Tipo de investidor Taxa adm max %/ano Rentabilidade em 2011
Legg Mason Acoes Dividendos FICFI Ações Dividendos Legg Mason Western Asset Todos 3 19,84
BB Acoes Energia FI Ações Setoriais BB Dtvm S.A Todos 2 19,53
Duna Long Short 60 FICFI Mult Long And Short - Direcional Duna Asset Management Ltda Todos 2,5 15,26
Advis Equity Hedge FICFI Mult Long And Short - Direcional Advisor Asset Management Todos 2,5 14,78
CSHG Equity Hedge FICFI Mult Long And Short - Direcional Credit Suisse Hedging Griffo Am S.A. Todos 1 14,01
FI Vot Equity Hedge Mult Long And Short - Direcional Votorantim Asset Invest. Qualificado 2 13,42
Xp Long Short FI Mult Long And Short - Neutro Xp Administracao de Recursos Ltda Todos 2,5 13,40
Santander FI Energy Acoes Ações Setoriais Santander Brasil Asset Manag Dtvm SA Todos 2 13,26
Advis LS FICFI Mult Long And Short - Neutro Advisor Asset Management Todos 2,5 13,09
BRZ LS Advanced FICFI Mult Long And Short - Neutro BRZ Investimentos Ltda Todos 2,5 12,78
Itau Equity Hedge Advanced Mult FI Long And Short - Direcional Itau Unibanco SA Todos 2 12,77
Marlim Dividendos FIA Ações Dividendos Jmalucelli Investimentos Todos 2,5 12,68
Squadra Long Biased FI Cotas de FIA Ações Livre Squadra Investimentos Invest. Qualificado 2,3 12,62
Guepardo FIC FIA Ações Livre Guepardo Investimentos Ltda Invest. Qualificado 2 12,56
Guepardo Allocation FICFIA Ações Livre Guepardo Investimentos Ltda Invest. Qualificado 2 12,52
BBM Equity Hedge FICFI Mult Long And Short - Direcional BBM Gestao de Renda Variavel Todos 2,2 12,02
Duna Long Short FICFI Mult Long And Short - Direcional Duna Asset Management Ltda Todos 2,5 11,97
Oceana Long Short FI Mult Long And Short - Neutro Oceana Investimentos Todos 2,5 11,96
Fides Long Short Plus FI Mult Long And Short - Direcional Fides Asset Todos 3 11,51
Quest Equity Hedge FI Mult Long And Short - Direcional Quest Investimentos Ltda Todos 2,5 11,37

A explicação para essa concentração de bons resultados é trivial. Os fundos de dividendos investem em empresas com fluxo de caixa previsível mesmo em cenários econômicos turbulentos – e que se sobressaíram na bolsa em 2011. Já nos fundos “long and short”, o gestor monta tanto posições compradas quanto vendidas e, desta forma, pode lucrar com a alta ou a queda das ações.

Para 2012, não há um consenso no mercado sobre a melhor estratégia a ser adotada. É verdade que a maioria dos analistas e investidores ainda permanece bastante defensiva, aguardando um sinal de que a crise na Europa terá uma solução breve antes de tomar mais risco. Mas EXAME.com conversou com os gestores dos fundos de dividendos e “long and short” mais rentáveis de 2011 e descobriu que eles estão otimistas com a Bovespa neste ano. Veja abaixo os principais trechos das entrevistas com os gestores:

Gleidson Leite, gestor de portfólio da Western Asset, do grupo Legg Mason

O ano de 2011 foi muito ruim para a bolsa como um todo devido aos problemas na Europa e nos Estados Unidos. Os investidores que anteciparam esse cenário correram para as ações de empresas com maior previsibilidade de fluxo de caixa e boas pagadoras de dividendos. Foi por esse motivo que nosso fundo Legg Mason Ações Dividendos FIC FI conseguiu obter uma rentabilidade de quase 20% mesmo em um ano tão ruim para o mercado acionário.

Neste ano, acreditamos em um movimento diferente. Achamos que a performance dos fundos de dividendos não será assim tão destacada em relação ao Ibovespa como um todo. Não que eu ache que os fundos de dividendos darão prejuízo aos investidores. Estou dizendo apenas que os fundos de ações com gestão ativa podem até mesmo superar os de dividendos em rentabilidade.

Fizemos uma avaliação do valor justo de todas as empresas do Ibovespa e chegamos à conclusão de que o índice poderia fechar este ano um pouco acima dos 80.000 pontos. Não estou dizendo que isso vai acontecer nos próximos meses porque não dá para prever o nível de aversão ao risco dos investidores estrangeiros no futuro próximo em um cenário como o atual. Para chegar até 80.000 pontos, seria necessário um fluxo positivo importante dos estrangeiros, e isso só vai acontecer se houver um sinal sólido de resolução dos problemas europeus.

Mas como a gente acredita que tem muito valor escondido no Ibovespa, já começamos a comprar ações que devem andar bem quando o cenário melhorar. Desde meados do ano passado, temos aumentado nossas posições em bancos e incorporadoras. Houve momentos em 2011 em que ninguém queria saber das ações das maiores instituições financeiras brasileiras. Conseguimos comprar Itaú e Banco do Brasil por preços muito interessantes. Alguns bancos se recuperaram bem no final do ano passado.


Já nossa aposta nas incorporadoras ainda não se pagou. Os estrangeiros estão fugindo desses papéis com medo de que possa haver uma bolha de crédito imobiliário no Brasil. Nós não achamos que isso vai acontecer e que uma hora ou outra essas empresas vão se recuperar.

É quase impossível acertar o “timing” de entrar no mercado mesmo. Ainda mais em uma empresa como a nossa. A Western Asset é a maior gestora de recursos no Brasil que não é ligada a nenhum banco. Administramos cerca de 35 bilhões de reais, sendo que 3,5 bilhões de reais estão na bolsa. Por questões de liquidez das ações, precisamos nos antecipar ao movimento de valorização futura de determinas empresas com uma boa antecedência. Então a gente seleciona o que achamos que tem valor, compramos e esperamos os resultados no longo prazo.

No fundo de dividendos, achamos que não será possível obter uma rentabilidade tão boa quanto a do ano passado considerando apenas os proventos distribuídos pelas empresas. O Legg Mason Ações Dividendos FIC FI teve em 2011 uma rentabilidade bruta (sem descontar as taxas de administração e performance) de 25,46%, sendo que os pagamentos de dividendos chegaram a 13,79% e a apreciação das ações garantiu um retorno de 11,66%. Como as empresas que distribuem mais lucros já estão bem valorizadas, acho que é possível entregar um retorno de 8% a 9% com dividendos neste ano.

O fundo procura fugir um pouco daquelas ações já consagradas nesse segmento de dividendos. O que a gente tenta fazer é olhar para frente, estimar o lucro de uma companhia, entender a política de dividendos do ano atual, avaliar a relação disso com o preço da ação e calcular o potencial de retorno. Montamos então um ranking com as ações que devem pagar os melhores dividendos e selecionamos aquelas em que o retorno parece mais garantido.

No ano passado, tivemos um caso emblemático sobre essa nossa política que foi o da Vale. É uma empresa do setor de commodities que tem feito pesados investimentos em ampliação da capacidade – o que geralmente reduz a distribuição de lucros aos acionistas. Mas nosso analista fez as contas, conversou com a companhia e chegou à conclusão de que a distribuição dos dividendos chegaria a 7% ou 8% do valor de mercado.

Tínhamos a expectativa de que a mineradora distribuiria 15 bilhões de reais em 2011, mas o número foi ainda maior. A Vale pagou 9 bilhões de dólares em proventos e ainda recomprou 3 bilhões de dólares em ações. Isso não quer dizer que em 2012 a empresa vai surpreender novamente. Temos que refazer todos os cálculos para este ano. O que quero dizer é que dá para ganhar dinheiro fugindo daquelas empresas que todo mundo sabe que distribuem a maior parte do lucro.

Cerca de 70% do fundo está empresas do setor elétrico, que tradicionalmente se destacam nesse quesito. A AES Tietê e a Transmissão Paulista são as duas maiores posições, com mais de 12% dos recursos do fundo cada uma. As duas companhias devem distribuir entre 10,5% e 11% do valor de mercado da ação em dividendos.

Em telefonia, nossa maior posição está em Telesp (Telefônica Brasil). Mesmo levando em conta o aumento previsto para os investimentos e a maior competição entre as teles, acreditamos que o retorno em dividendos ficará entre 7,5% e 8,5%. Já no setor financeiro temos a ação do Banco do Brasil. Os bancos sempre pagam dividendos no Brasil, mas o percentual costuma ser historicamente baixo. Com a queda das ações do BB, acreditamos que o banco pode pagar 6% a 7% em dividendos neste ano. E essa é uma ação que pode se valorizar bem caso a bolsa ande. Então achamos que vale o risco de haver uma queda temporária no valor do banco caso eles decidam fazer um aumento de capital.


Inácio Ponchet, gestor de investimentos da Duna Asset Management

O Duna Long Short 60 FIC FIM rendeu mais de 15% em 2011 devido principalmente a quatro posições. Compramos bancos em um momento de preços interessantes, tínhamos uma exposição relevante em operadoras de telefonia celular, ficamos vendidos em siderurgia e também apostamos na queda das incorporadoras. O fundo poderia ter ido melhor ainda se tivéssemos montado uma posição comprada relevante em empresas do mercado e em elétricas, mas não fizemos isso.

Neste ano, vamos apostar mais na alta do Ibovespa. Pode parecer loucura em virtude das atuais condições, mas estou mais otimista em relação a 2012. A dinâmica da atividade econômica e da inflação deve ser bem diferente da do ano passado. No primeiro semestre de 2011, Brasil e Ásia tinham inflação alta e ascendente e precisavam fazer um aperto monetário, com a elevação de juros e dos compulsórios bancários. A inflação até cedeu no segundo semestre, mas houve também uma desaceleração importante da atividade econômica.

Este ano começa bem diferente. A inflação está bem mais comportada e deve continuar cedendo na Ásia e no Brasil. Os bancos centrais têm espaço para continuar a relaxar a política monetária. A partir do segundo trimestre, acredito que vamos ter dados mais consistentes de crescimento. É lógico que há vários riscos. A Europa, sem dúvida, é um risco alto. Nos primeiros meses deste ano, vai haver uma concentração de rolagens de dívida. Mas acho que o Banco Central Europeu vai participar dos leilões de títulos de países endividados e injetar liquidez no mercado.

Acabo de voltar da China e também vejo certo exagero nas preocupações em relação à desaceleração econômica da Ásia. A China começa este ano com uma inflação bem comportada, com o governo relaxando a política monetária, com aumento de liquidez e com uma expectativa de retomada da atividade econômica ao longo do ano. O primeiro trimestre ainda deve ser ruim, mas acho que depois melhora.

A principal preocupação é com o mercado imobiliário. As vendas de imóveis estão fracas e caíram 10% nos últimos meses porque as pessoas não estão conseguindo tomar crédito. O consumidor chinês é meio esquisito. Quando ele vê essa dinâmica, se retrai ainda mais. Então os preços dos imóveis podem cair forte. No final de 2008 foi a mesma coisa.

Não estou tão preocupado porque acredito que a retomada também possa ser bastante rápida. A queda da demanda por imóveis me parece uma reação às medidas do governo para conter o crédito e evitar bolhas. Mas o governo pode mudar de lado rápido se sentir que isso é necessário. A inflação não é mais uma grande preocupação. Eles têm capacidade para aumentar gastos e anunciar estímulos fiscais. Então acho que a economia chinesa deva se recuperar depois do primeiro trimestre.

Em relação à bolsa, o mercado em geral acha que as coisas começam a melhorar no segundo semestre. Mas a hora certa de comprar ações pode ser antes disso. A bolsa deve começar a subir com mais consistência em breve se não houver um grande evento negativo. Os investidores ainda estão muito cautelosos e com posições em ações defensivas. Eu enxergo um bom potencial para tomar risco na bolsa.

Não que eu já tenha montado posições de risco elevado. Estamos otimistas principalmente com bancos no curto prazo e neutros em commodities. O que eu já fiz foram algumas posições vendidas em setores defensivos, o que é o contrário do consenso de mercado. Acho que o que dava para tirar dessas empresas que pagam bons dividendos já foi tirado. Os dividendos não são mais tão altos assim em relação ao valor da ação porque as cotações subiram muito. Os investidores embutiram prêmios muito grandes pelo fluxo de caixa previsível dessas empresas. Algumas já valem mais de 20 vezes o lucro líquido anual. Se houver um movimento em direção a ativos de risco, essas ações serão penalizadas.

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