O caso da Mega Sena é interessante por ilustrar outra relação das pessoas com o risco (Thinkstock/Uelder Ferreira)
Da Redação
Publicado em 31 de dezembro de 2015 às 17h40.
Como em todo fim de ano, a Mega da Virada engrossou as filas das casas lotéricas de todo o Brasil. E também como sempre, famílias e amigos fazem bolões na tentativa de aumentarem as chances de acertar as seis dezenas deste ano – o prêmio, de 280 milhões de reais, será sorteado hoje (31).
E, como não pode deixar de ser, a maioria dos apostadores é composta por perdedores.
Sim, sim. Perdedores, quase todos nós! Afinal, a parcela esmagadora das pessoas perde dinheiro apostando na loteria e nunca leva nada em troca. O possível prêmio é gigantesco? Sim. Mas a chance de ganhar é minúscula.
O valor do prêmio não compensa a probabilidade de ganhar ser baixíssima. Uma parte significativa do valor das apostas fica nos cofres do governo, não retorna aos acertadores das dezenas. Essa informação está, para quem quiser ver, no site das Loterias da Caixa: apenas 32% do valor arrecadado com a Mega Sena fica nas mãos dos vencedores (prêmio líquido).
Essa explicação não pretende desencorajar a fezinha de ninguém – aliás, boa sorte aos participantes. A intenção aqui é ilustrar como a maioria das decisões que tomamos envolve riscos. No caso de apostar na Mega da Virada, esse fator fica mais claro.
Quando você escolhe sair de casa todos os dias, por exemplo, lida com uma série de riscos. Há a chance de um assalto, de você ser atropelado, sabe-se lá, um raio pode cair na cabeça de todos nós.
E jogar na loteria também envolve riscos: ou você ganha uma bolada ou perde o valor apostado. O risco maior, no entanto, recai sobre a segunda alternativa, a de não ganhar nada com a aposta.
O que são riscos na economia?
Em geral, supomos que as pessoas não gostam de correr quase risco algum. Que a maioria de nós é suscetível até a gastar dinheiro para diminuir a sua exposição a riscos, para evitar experiências ruins.
É por isso que existe o mercado de seguros, por exemplo. Considere que você tenha um carro. O que acontece se ele não for segurado?
Em caso de roubo, você sofre uma perda significativa.
Ou (1) você fica sem carro ou (2) tem de gastar uma dinheirama, inesperadamente, com um carro novo.
Se acontecesse a segunda possibilidade, você passaria a ter menos dinheiro para o consumo de outras coisas. E isso não é nada bom… Para evitar esse tipo de expectativa, a des seus carros serem roubados, que as pessoas fazem seguro de carro.
Você paga um pouco todo mês e, sim, seu consumo de outros itens é reduzido. No entanto, essa redução de poder de compra é bem moderada se comparada hipótese de seu carro, sem sugiro, ser lavado por ladrões.
E o que tem a Mega da Virada a ver com isso?
A lógica acima vale para quase todo tipo de contrato de seguro, sobretudo contra risco de roubo. Mas não só de automóveis, também como de jóias e até celulares.
No caso da Mega Sena é diferente. Em outros exemplos, como o dos seguros contra roubos, a maioria de nós opta por desembolsar algumas quantias esparsas para não sofrer riscos de um desembolso único, muito maior, no futuro.
O caso da Mega Sena é interessante por ilustrar outra relação das pessoas com o risco. Neste caso, que envolve apostas, as pessoas pagam para correr riscos, não para evitar a experiência.
Então, vejamos:
1) No caso de um automóvel, muitos escolhemos gasta dinheiro com o seguro para afastar os riscos;
2) No caso da aposta numa loteria, muita gente gasta dinheiro para se aproximar de riscos.
Por que a nossa reação é tão diferente nos dois casos?
Porque é divertido apostar na Mega, simples assim. As pessoas gostam de pensar no que fariam com milhões de reais. As pessoas se reúnem para acompanhar o sorteio das dezenas, dão risadas, torcem e tudo o mais. E esse componente, convenhamos, não está presente em situações como ter ou não o carro roubado.
Muito pelo contrário.
Além disso, o apostador na prática perde muito pouco (basicamente o valor apostado) se ele não acertar as dezenas da Mega. Assim, o risco pelo qual ele passa não traz tanta redução de bem-estar para os apostadores. A diversão envolvida no jogo provavelmente mais que compensa essa pequena perda, o que motiva as pessoas a apostarem.