Intenção de comprar carros subiu 33,3% em relação ao último trimestre do ano passado (Exame)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 07h39.
São Paulo – No fim do ano passado o governo baixou medidas para diminuir o prazo do financiamento de veículos. Alguns meses antes disso, foi a vez de acabar com a redução do IPI para o setor automotivo. Mas ainda que a facilidade de compra não seja exatamente a mesma, engana-se quem pensa que os brasileiros estão menos dispostos a levar o carro novo para a garagem. Segundo pesquisa do Programa de Administração do Varejo (Provar) da FIA/USP, a intenção de adquirir automóveis no primeiro trimestre de 2011 foi a única entre 10 categorias a crescer tanto quando comparada ao mesmo período de 2010 - com um aumento de 5,3% - quanto em relação ao último trimestre do mesmo ano, com alta de 33,3%.
Com um freio na farta concessão de crédito, por que os consumidores não estão deixando o sonho do carro próprio de lado? “A confiança das famílias mantém-se elevada”, responde Claudio de Angelo, diretor-presidente da FIA. De um lado, persiste a sensação de bem estar econômico que leva as pessoas a confiarem na sua capacidade de pagar as contas. De outro, a incorporação recente de milhões de consumidores à classe C aumenta a massa de potenciais motoristas. Segundo Angelo, as condições mudaram, mas comprar um veículo não deixa de ser uma grande aspiração.
Para o diretor de pesquisas do Provar, Nuno Manoel Fouto, a indústria automobilística conta com uma poderosa estratégia de marketing e comunicação a seu favor. Além disso, as concessionárias conseguem negociar prazos e condições individualmente. “É uma cadeia longa, bem relacionada com o governo e com sindicatos patronais alinhados. Por isso, é politicamente improvável que as restrições ao financiamento fiquem ainda mais severas”, acredita.
Hoje, a taxa média para o financiamento de veículos é de 22,6% ao ano, conforme apontam os últimos dados divulgados pelo Banco Central, referentes a novembro de 2010. A título de comparação, este percentual era de 40,35% em novembro de 2001. Se colocado ao lado dos exorbitantes juros do cartão de crédito, que ultrapassam 230% ao ano, o custo de parcelar um carro atualmente soa inclusive econômico.
Mas especialistas em finanças não titubeiam: dividir a compra tem um preço e no caso dos veículos, que perdem valor a partir do momento em que ganham as ruas, a aquisição pode corroer o orçamento do consumidor. Por isso, a dica é nunca financiar um bem por um prazo superior à sua utilização. Para carros, esse tempo costuma ser de 36 meses. Acima disso, a desvalorização sofrida não compensará os gastos que deverão ser reservados para quitar a dívida, manter o IPVA em dia e realizar eventuais reparos mecânicos, elétricos e de funilaria.
Segundo o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a melhor recomendação é poupar dinheiro e negociar um desconto no pagamento único. O Instituto alerta que não existe juro zero, e uma taxa sempre estará embutida no valor do carro financiado. “Basta dizer que irá quitar a conta à vista e pedir um abatimento para ter essa constatação”, orienta a cartilha da instituição.
Jurandir Macedo, consultor financeiro e autor do livro “A árvore do dinheiro”, defende que o financiamento é sim uma boa alternativa, já que poucos têm condições de comprar o veículo de uma só vez. “A organização financeira é justamente para ajudar o sujeito a realizar sonhos”, afirma. Para ele, antes de assumir um compromisso de tão longo prazo, o consumidor precisa calcular quanto pode gastar na prestação para, a partir daí, guardar essa quantia por três meses. “Se não conseguir, este será um poderoso indício que ele terá problemas. E se for bem sucedido, o artifício vai possibilitar que ele junte dinheiro e dê uma entrada maior no veículo”, aconselha Macedo.