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Longevidade exige planejamento antes e depois da aposentadoria

Segundo o presidente da BrasilPrev, saída é ter mais disciplina, guardar mais dinheiro e começar o mais cedo possível

Aposentadoria: um dos desafios do planejamento financeiro é o chamado risco de sobrevivência (AndreyPopov/Thinkstock)

Aposentadoria: um dos desafios do planejamento financeiro é o chamado risco de sobrevivência (AndreyPopov/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2017 às 13h47.

A maior longevidade dos brasileiros vai exigir maior economia para arcar com gastos maiores, ao mesmo tempo em que os juros mais baixos vão reduzir os ganhos das aplicações, tornando mais difícil acumular os recursos necessários para a velhice.

O alerta é do presidente da BrasilPrev, Paulo Valle, durante o Congresso da Planejar, Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. A saída será ter mais disciplina, guardar mais dinheiro e começar o mais cedo possível, alerta.

Segundo Valle, que também participa da Federação Nacional de Previdência e Vida (Fenaprevi), é preciso fazer um bom planejamento dos gastos ao longo da vida, levando em conta também que os hábitos de consumo mudam com o passar dos anos.

“Antigamente se consumia café em grão, depois moído, e hoje compramos cápsulas de café que custam R$ 2,00, para tomar em casa”, cita. Isso tudo tem de entrar no planejamento futuro e nas economias.

Além disso, há o aumento dos gastos com saúde com o avanço da idade. “Cerca de 80% dos gastos com saúde ocorrer nos dois últimos anos de vida”, afirma Luciano Snel, presidente da Icatu Seguros. “Por isso é preciso ter algum seguro-catástrofe saúde na velhice”.

O setor de previdência privada tem algumas sugestões para compensar esse aumento da longevidade. A principal é estimular as pessoas a guardar dinheiro mais cedo, com mais disciplina, o que passa por investimento maciço em educação financeira e na melhora dos produtos de previdência privada. “Nosso setor de previdência privada ainda é muito jovem, ainda pequeno, mas já tem de se modernizar, ganhar escala”, diz Vale.

“O desafio é que, assim como as pessoas fazem um check-up anual para verificar a saúde, façam também um check-up anual financeiro, que funcione como um gatilho para reorganizar as despesas e as economias para o futuro”, acrescenta Snel.

Um dos “empurrõezinhos” para essa preocupação com a aposentadoria, além da educação financeira, é a própria discussão da reforma da Previdência Social pública, acrescenta Snel.

“A reforma da Previdência é um fator que despertou muito a atenção para a questão da necessidade de a pessoa guardar dinheiro para a aposentadoria”, afirma o empresário.

Melhorias nas regras dos planos de previdência

Entre as melhoras estariam mudanças na legislação dos planos corporativos, que hoje não permitem a pequenas empresas abaterem as contribuições feitas para os funcionários em planos de previdência do imposto a pagar.

“Quem paga o Simples ou por lucro presumido não tem vantagem em contribuir para o funcionário, e deixamos um enorme número de trabalhadores sem essa poupança”, diz Valle. A estimativa é que 41% dos trabalhadores sejam funcionários dessas pequenas e micro empresas.

Outra medida seria dar incentivos maiores para planos individuais, cujos incentivos, como abatimento do imposto e alíquotas menores poderiam ser ampliados. Há propostas até de zerar o imposto nas aplicações superiores a 20 anos. “Além disso, é preciso criar incentivos para os autônomos, que não têm o benefício de abater as contribuições do imposto de renda como os assalariados”, diz.

Valle diz que o setor deve incentivar cada vez mais estratégias comportamentais para estimular a adesão a planos de previdência. É o caso da adesão automática.

“Em vez de o funcionário fazer a opção de aderir ao plano, a empresa já o inscreve e, se ele não quiser, tem de se manifestar para sair”, diz. Essa estratégia vence uma barreira psicológica da inércia das pessoas de começarem a poupar com compromisso de longo prazo. “Na Inglaterra, essa medida simples fez a adesão aos planos de previdência crescer de 2012 a 2016 de 47% para 64% e, na Nova Zelândia, de 17% para 71%”, diz.

Além da adesão automática, Valle sugere a varredura automática, que prevê que se o empregado sair do plano de previdência, após três anos, ele é novamente inscrito automaticamente.

“Há ainda outras ferramentas que podem incentivar a pessoa a guardar mais, como a escalação automática, que vai aumentando a contribuição do plano à medida que a idade e a renda avançam”, diz.

Custo ainda elevado da previdência privada

O custo dos planos de previdência no Brasil ainda é alto, afirma Celso Rosa, CFP, planejador financeiro da AXA Advisors nos Estados Unidos, especialista em aposentadoria e patrimônio imobiliário.

“O Brasil precisa melhorar muito o custo de carregamento, que é bem mais alto que o americano e obriga o investidor a guardar mais”, explica. Segundo ele, parte desse custo vem do tamanho do mercado, ainda pequeno, e da carga tributária, que é mais alta no Brasil.

“É difícil termos produtos semelhantes aos americanos aqui, mas essa é uma realidade que temos também em outros países, como na Europa”, diz. Ele alerta que, com a longevidade, outros problemas precisam ser levados em conta, como a perda de capacidade cognitiva das pessoas. “Há casos de parentes e até profissionais que se aproveitam da senilidade dos idosos para tirar proveito financeiro delas”, diz.

Previ-Saúde volta a ser discutido com o governo

Está em discussão com o governo também o projeto de criar um plano de previdência vinculado à despesas médicas. “Retomamos o assunto com o Executivo de criar um Previ-Saúde, que permitira abater as contribuições e depois o resgate do dinheiro para pagamento de despesas médicas seria isento de imposto sobre o rendimento”, afirma Paulo Valle.

Poderiam ser criados PGBLs e VGBLs com essas características que, segundo Valle, que já foi secretário do Tesouro Nacional, teriam pouco impacto fiscal.

“Hoje os gastos de saúde já são dedutíveis, não haveria grande perda e isso permitiria a criação de uma poupança de longo prazo vinculada que será muito significativa no futuro, com oaumento dos gastos médicos”, explica.

Risco de sobrevivência

Um dos desafios do planejamento financeiro é o chamado risco de sobrevivência, ou seja, o risco de o dinheiro guardado para a aposentadoria acabar antes de a pessoa morrer. Esse risco existe em qualquer lugar do mundo, e não há uma fórmula exata para evita-lo. A crise do subprime de 2008, que devastou as bolsas americanas e reduziu a pó as economias de muitos americanos, é um exemplo desse risco.

“É impossível prever o que vai acontecer daqui 30 anos, mas podemos dizer que a disciplina de guardar é mais importante que qualquer conselho de estratégia que se possa dar”, afirma Valter Police Junior, planejador CFP. “Isso reforça nosso papel de educador dos consutores”, diz.

A disciplina é o principal ponto levantado pelos americanos que conseguiram passar pela crise de 2008, diz Luciano Snel, presidente da Icatu Seguros.

“Questionados sobre o segredo de conseguir manter as economias, eles não falaram de estratégias de investimento ou mercados, mas de disciplina para guardar”, diz. Outro ponto é a visão desses aposentados americanos sobre sua própria situação. “Eles veem essas quedas dos valores das ações não como perdas, mas uma transferência de renda da geração atual para a próxima, que poderá comprar os papéis mais barato”, afirma.

Investimentos pós-aposentadoria

Snel chama a atenção também para o fato de que, com a longevidade, as pessoas precisam ter estratégias para investir o dinheiro depois da aposentadoria.

“Se uma pessoa se aposenta com 65 anos e vai viver até 90 anos, ela precisará aplicar esse dinheiro por 20, 25 anos, então temos um horizonte de longo prazo que permite uma boa diversificação”, diz. Pode-se por exemplo pensar em aplicações mais agressivas, de maior risco, como ações, para parte do dinheiro, com um horizonte de 20 anos.

Renda vitalícia, parte fundamental

Outro ponto importante é a renda vitalícia, que tem de fazer parte de qualquer plano de aposentadoria, afirma Valle. “Hoje pouca gente opta por transformar o plano de previdência em renda porque tem medo de morrer amanhã e deixar o dinheiro para o banco”, diz. “Ela tem um papel importante, não para todo o dinheiro, mas é uma parte fundamental do planejamento”, explica.

Uma alternativa é que uma parte dos recursos seja transformada em renda vitalícia e a outra parte seja resgatada aos poucos pelo investidor. “O ideal é ter um leque de opções, um pouco de renda vitalícia, um pouco de resgates”, diz, lembrando que as mudanças aprovadas recentemente pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) permitem usar mais de uma forma de conversão dos planos de previdência privada no vencimento, começando com resgate e depois permitindo converter o valor em renda vitalícia. Nos Estados Unidos, há hoje US$ 2 trilhões investidos em renda vitalícia, afirma Carlos Rosa, da AXA.

Renda vitalícia com desconto

Já Snel diz que uma boa estratégia seria comprar a renda vitalícia logo na aposentadoria, aos 65 anos, para ser usada mais adiante. “Se a pessoa pensa que pode viver até os 90, compra a renda vitalícia aos 65 mas válida só a partir dos 80”, explica.

“Como nessas condições há uma chance de 50% de a pessoa não chegar aos 90, a seguradora cobrará um valor menor, até 15% mais barato que se a pessoa comprasse a renda vitalícia aos 80, e com isso o investidor paga mais barato”, diz. Outro conselho de Snel é que a pessoa faça um seguro de vida como planejamento fiscal e para garantir a tranquilidade da família.

“O seguro de vida não entra no inventário, é liberado imediatamente e pode ser usado pela família para se manter ou para pagar as custas dos processos, que podem levar anos até a liberação do espólio”, diz.

Consultoria tem de melhorar

Diante de todas essas alternativas, porém, é preciso que o setor de previdência privada tenha uma boa evolução também na parte de consultoria ao investidor, diz Paulo Valle.

“Temos maneiras diferentes de montar essas estratégias, com mais renda vitalícia ou mais renda diferida, por isso é preciso ter uma boa consultoria que ajude o investidor não apenas a escolher um plano de previdência, mas a organizar sua vida, e isso inclui bastante educação financeira”, diz. “Hoje isso ainda precisa melhorar muito nessa parte de consultoria”, admite.

Ele lembra que a educação financeira é fundamental pois, diferentemente de outros setores, a previdência privada precisa fazer o cliente atingir seus objetivos. “Criamos um relacionamento que pode durar 40, 50 anos e temos esse compromisso com investidor de ele atingir os objetivos”, diz.

Este conteúdo foi originalmente publicado na Arena do Pavini.

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