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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Países emergentes devem se preparar para enfrentar condições contrárias a reduções de juros, num futuro próximo. A avaliação foi apresentada nesta sexta-feira (12/3) por Jürgen Stark, vice-presidente do Bundesbank (o banco central alemão). Estamos num momento de baixa de juros, mesmo nos mercados emergentes, afirmou Stark. Mas há grandes déficits nas maiores economias - Estados Unidos, Europa e Japão - e isso acabará levando a taxas maiores de juros. Temos de reconhecer que as taxas de longo prazo na Europa estão muito baixas.
O economista afirmou que a elevação dos juros nos países desenvolvidos trará um impacto negativo para países como o Brasil, que precisam oferecer a financiadores taxas mais atarentes, ou seja, mais altas.
Stark acredita, porém, que a situação da maioria dos mercados emergentes é muito diferente da ocorrida na segunda metade dos anos 90, o que tornaria esses países menos vulneráveis. O executivo é responsável por relações externas no Bundesbank e está no Brasil desde ontem, para conversar com a equipe econômica. Encontrou-se na quinta-feira com os secretários do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Arno Meyer, além de deputados da Comissão de Economia da Câmara. Hoje, será recebido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Sem criticar nenhum país explicitamente, o segundo homem do Bundesbank fez um alerta indireto a simpatizantes da tática argentina de pressionar o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em sua opinião, uma das conseqüências naturais de um calote, por parte de um grande devedor do fundo, seria a elevação das taxas de juros cobradas dos outros países-membros. Stark ressaltou, porém, que o Brasil é um dos membros que contribui de forma mais construtiva com o FMI. Ele afirmou que o fundo está decidido a distribuir melhor seu crédito, com volumes menores e por mais países. Atualmente, apenas Brasil, Argentina e Turquia concentram mais de 70% dos empréstimos dados pela instituição. Outra frente de trabalho é a redução do tempo de dependência dos países em relação ao FMI. A Alemanha é o segundo maior contribuidor, atrás apenas dos Estados Unidos.
Stark aproveitou sua passagem por Brasília para fazer o discurso comum a todos os bancos centrais: afirmou que não se obtém crescimento sustentável com relaxamento no combate à inflação; que a política monetária não resolve a estagnação econômica (no caso do Brasil, ele citou a dívida e a carga tributária como maiores problemas); e que políticos nunca concordarão com as metas de inflação estabelecidas (embora considere o sistema apropriado para países com histórico de hiperinflação).
A proposta do governo brasileiro, de modificar a forma de cálculo do superávit primário para excluir investimentos produtivos, não conquistou a simpatia do vice-presidente do Bundesbank. Ele lembrou que o objetivo da formação de superávit primário é reduzir a dívida pública. Segundo Stark, países europeus, como a Itália, precisaram de quase 30 anos para reduzir as dívidas que fizeram nos anos 70, após a crise do petróleo. A flexibilização (no superávit primário) no curto prazo poderia comprometer, no longo prazo, a meta de reduzir a dívida, disse ele.