Geração Y: jovens têm mais conhecimento do que a média sobre mudanças na Previdência, mas não entendem caminho da aposentadoria (Cyndi_Easterly/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2016 às 10h56.
São Paulo - Os jovens da geração Y serão diretamente afetados pelas prováveis mudanças na Previdência Social que estão em gestação no País.
Embora tenham conhecimento disso, pesquisas mostram que eles falham no planejamento e veem a aposentadoria como algo muito distante e não sabem - ou não querem - lidar com isso.
A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) e o instituto de pesquisa Ipsos fizeram um recorte de um ampla pesquisa sobre o tema divulgada na semana passada.
A conclusão é que 62% dos jovens entre 23 e 34 anos já ouviram falar a respeito de mudanças que o atual governo pretende fazer nas regras da Previdência, número superior à média geral (54%) e de grupos mais próximos de se aposentar, como a faixa de 50 a 59 anos (46%).
Mas, apesar de conhecerem a discussão, os jovens pouco sabem sobre o funcionamento do sistema de Previdência Social. Metade disse não saber nada ou desconhecer detalhes sobre o caminho para a aposentadoria - acima da média da população (46%).
De acordo com uma pesquisa do banco BNY Mellon, feita em parceria com a Universidade de Cambridge, isso não é, necessariamente, reflexo de falta de interesse dos jovens, mas sim uma grande falha na comunicação que é feita com eles.
"Não está sendo falado para essa geração qual é o tamanho da montanha de dinheiro que eles precisam escalar", diz a pesquisa, que ouviu jovens do Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Japão e Holanda, nascidos entre meados de 1980 até a virada do século.
No caso particular do Brasil, no entanto, percebe-se um sentimento de negação da realidade. Na amostra geral, 77% dos jovens disseram que querem saber a verdade sobre como será a sua aposentadoria, enquanto no Brasil esse número cai para 48%.
Mais do que isso, um terço dos jovens brasileiros afirmou que prefere não saber como será o futuro financeiro na terceira idade, por "não saber lidar com a verdade", bem acima da média global (12%).
A verdade é que não dá para esperar o tempo passar. Nas contas do superintendente de investimentos do banco Santander, Marcos Figueiredo, para garantir a mesma renda do tempo da ativa aos 65 anos, um jovem de 25 anos precisa investir 10% do salário. Aos 45 anos, esse valor sobe para 31%.
Para Vanessa Vidutto, advogada especializada em planejamento previdenciário, a negação do jovem brasileiro é reflexo de uma característica de imediatismo dessa geração. "Existe uma falta de compromisso a longo prazo e isso se reflete diretamente na questão da previdência, que exige planejamento", disse.
Aline Sun, sócia da Guide Investimentos e responsável por um novo projeto de planejamento financeiro da empresa, é mais otimista. "Acredito que o protagonismo dessa geração supera o imediatismo. Esse jovem quer ter controle da própria vida, e a melhor forma de ter isso é se planejando financeiramente."
Em um cenário em que a Previdência Social deve ficar mais restrita, a oferta de produtos financeiros para complementar a renda na aposentadoria tende a crescer no País.
Para o economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Paulo Tafner, a reforma do modelo previdenciário é importante porque pode gerar oportunidades para a criação de produtos que atendam às particularidades da juventude.
Com 25 anos e apenas dois de contribuição ao INSS, o servidor público Rodrigo Blanco Galvão está pessimista com o futuro da Previdência Social no País e, por isso, quer começar a investir em uma previdência privada a partir do ano que vem.
Ainda sem objetivos muito claros, ele pensa em contratar o produto no próprio banco, mas não pensando em guardar o dinheiro exclusivamente para a aposentadoria. "O objetivo é ter uma reserva para quando eu precisar, como para dar entrada em um imóvel", explica.
Para Aura Rebelo, diretora de marketing e canais da Icatu Seguros, esse desejo mostra a necessidade de criar produtos mistos, que possam, ao mesmo tempo, atingir objetivos diversos, como estudo, viagens, casamento e filhos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.