Hidrelétrica da AES Tietê: ações são interessantes em relação aos títulos (AES Tietê/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2010 às 09h14.
A corretora do Itaú, que trabalha de forma independente do banco, acredita que, ao menos no Brasil, é uma boa hora para migrar parte dos recursos investidos em renda fixa para a bolsa. A instituição admite que esse não foi o movimento verificado nos últimos meses. Em todo o mundo desenvolvido, os bônus têm apresentado valorizações muito maiores do que as ações. Mas, neste momento, os preços das empresas listadas em bolsa parecem uma "barganha" quando comparados aos dos títulos de renda fixa.
Isso deveria levar a uma migração para a bolsa, mas os gestores de investimento parecem bem cautelosos com a renda variável. Quem administra o dinheiro parece não acreditar nas projeções de resultados futuros das empresas devido aos temores de que uma nova recessão cause impactos devastadores sobre os lucros das companhias. "Enquanto isso, bônus serão sempre bônus, oferecendo mais visibilidade, menor volatilidade e, acima de tudo, prioridade de pagamento", admite o Itaú em relatório.
Para a corretora, esse comportamento do mercado é "até razoável" em se tratando de bolsas de países desenvolvidos. "O que acreditamos não ser razoável é trazer esse raciocínio para a realidade brasileira." Para o Itaú, esse raciocínio dos gestores tem afetado os preços dos títulos e das ações em mercados emergentes como o Brasil porque os investidores tendem a comparar os preços dos papéis locais aos de seus pares internacionais. "Num claro efeito de contágio, os títulos corporativos brasileiros estão sendo negociados perto dos maiores valores históricos enquanto os preços das ações seguem baratos", diz o Itaú.
Muitas empresas têm se aproveitado das atuais condições de mercado para refinanciar suas dívidas em bônus. Os juros pagos pelos papéis costumam ser a soma da remuneração oferecida pelos títulos do Tesouro dos Estados Unidos com o risco-Brasil mais o risco de crédito da empresa. Mas o Itaú acredita que nenhum desses três componentes tende a apresentar queda acentuada de juros quando comparados aos atuais patamares. Por outro lado, com a emissão de novos débitos mais baratos e de prazo mais longo, os resultados das empresas tendem a melhorar. Em algum momento, isso terá reflexo no valor das ações - embora ainda não seja possível observar esse fenômeno.
Lucros favoráveis
Com uma relação entre o valor de mercado e os lucros das empresas em 9,9 vezes, a bolsa brasileira é atualmente negociada com desconto em relação a outros mercados emergentes. A expectativa é que os lucros das companhias brasileiras cresçam mais que na Índia, China, Estados Unidos e México nos próximos 12 meses. O risco para o mercado acionário estaria concentrado nos efeitos de contágio de eventuais turbulências externas - uma vez que ninguém vislumbra uma recessão no Brasil.
"As ações brasileiras atualmente oferecem grande visibilidade", diz a corretora. "Existe uma boa probabilidade de que muitos setores brasileiros passem por aumentos nas estimativas de lucro após os resultados acima do esperado para o segundo trimestre e os recentes aumentos de previsões pelas próprias empresas."
Em um exercício, a Itaú menciona o setor de energia como um caso particularmente interessante. Algumas dessas empresas devem distribuir em 2011 a seus acionistas dividendos superiores a 10% do valor de suas ações. Esse é o caso, por exemplo, da AES Tietê, Cteep e Coelce. Mesmo sem contar a possível valorização no mercado, essas ações parecem "atraentes" em relação aos títulos emitidos pelas mesmas empresas.
Tudo somado, agora seria uma boa hora para aumentar a exposição à bolsa. "Seria negligência ignorar o fator de que, num ambiente internacional de medo da deflação, a atividade econômica brasileira continua a criar pressão inflacionária - o que, em níveis moderados, é positivo para as ações", diz a corretora. "Enquanto isso, os títulos brasileiros parecem oferecer potencial adicional de ganho limitado."