Minhas Finanças

Investidor fica à espreita de virada na bolsa para arriscar mais

As ações de empresas de energia e telefonia têm atraído investidores, mas é preciso ficar atento para não perder a chance de entrada em papéis mais arriscados

O Ibovespa acumula queda de 26,4% no ano até 5 de outubro, com desempenho bastante pior que o de bolsas internacionais (Raul Júnior/VOCÊ S/A)

O Ibovespa acumula queda de 26,4% no ano até 5 de outubro, com desempenho bastante pior que o de bolsas internacionais (Raul Júnior/VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2011 às 15h22.

São Paulo - Investidores permanecem cautelosos e mantendo dinheiro em caixa enquanto esperam uma solução na crise da dívida na zona do euro e melhora nas perspectivas de inflação brasileira para voltar a comprar ações na Bovespa.

Especialistas no painel "Rumos da Bolsa 2012 - Perspectivas e Oportunidades", no lançamento do serviço ampliado de notícias em português da Reuters em São Paulo, apostam num deslocamento natural de ações defensivas para as de maior risco.

"Haverá uma migração natural para setores de maior risco quando houver a percepção de que chegamos ao fundo do poço. Ninguém vai querer ficar no setor defensivo no momento da virada", afirmou o analista-chefe da Bradesco Corretora, Carlos Firetti, na noite de quarta-feira.

O Ibovespa acumula queda de 26,4 por cento no ano até 5 de outubro, com desempenho bastante pior que o de bolsas internacionais. Mesmo o FTSEUrofirst --que reúne as principais ações da Europa, epicentro da crise-- perdeu 18,3 por cento no mesmo intervalo.

Para Firetti, essa diferença pode ser resultado da percepção, desde o final do ano passado, de que teria havido uma deterioração dos fundamentos macroeconômicos do Brasil.

"Com a inflação subindo, o quadro fiscal e o real apreciado, vários fundos ficaram vendidos no Brasil", afirmou.

"Com o real um pouco mais desvalorizado, as empresas com valores atrativos e a melhora da inflação, pode ser que o mercado brasileiro se recupere." Sobre a crise da dívida na zona do euro, ele acredita que, mesmo que haja um default da Grécia, a situação para a bolsa brasileira poderá melhorar. "Pode ter um evento mais dramático com a Grécia, mas na esteira desse evento, virão novas medidas que tragam equilíbrio novamente." O diretor e co-head da divisão de banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, Roberto Barbuti, avalia que "o mercado passa por momento de volatilidade muito grande", o que dificulta fazer apostas em qualquer direção.

"Os investidores estão em posição mais defensiva, mas sem grandes convicções", afirmou.

Embora otimista com o país, o diretor do banco de investimentos Madison Williams no Brasil, Anand Hemnani, prevê que um eventual desfecho mais dramático na Europa --como a saída da Grécia da zona do euro-- teria reflexos em outros países da região e na economia global.

Apostas

As ações de empresas de energia e telefonia --usualmente boas pagadoras de dividendos e refúgio em momentos de crise-- têm atraído investidores, mas é preciso ficar atento para não perder a chance de entrada em papéis mais arriscados quando vierem sinais de melhora no mercado.


Para Firetti, há dois setores atrativos no momento: "o financeiro está muito descontado e construção apanhou muito".

Sobre Petrobras e Vale , que possuem maior peso no Ibovespa, o analista-chefe da Bradesco Corretora tem visão positiva principalmente para a primeira.

"Achamos que vamos ter notícias boas da Petrobras até o fim do ano e achamos que (a ação) está barata", afirmou.

Sobre Vale, Firetti lembra que o papel reflete os riscos do atual cenário global e da possível desaceleração na China. "De certa forma, Vale é uma forma de investir em China. A performance (da ação) reflete a preocupação com a China." O diretor do Madison Williams no Brasil afirmou ter preferência para o setor de infraestrutura, olhando para 2012.

"Ficaria comprado no setor de infraestrutura, em logística, inclusive algumas 'utilities'" disse, em referência ao defensivo setor elétrico.

Ofertas de ações

Além dos efeitos sobre o preço das ações que já estão na bolsa, o agravamento da crise externa desestimula ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês).

Segundo Barbuti, do BofA Merrill Lynch, há diversas empresas brasileiras se preparando para ir à bolsa, mas não no atual ambiente. "Quem faria abertura de capital nesse cenário?", indagou.

Hemnani, do Madison Williams, afirmou que há investidores estrangeiros apenas aguardando uma maior visibilidade no front global para apostar no Brasil --seja em empresas na bolsa ou em novatas, via IPOs.

"Vemos uma série de investidores que estão interessados em comprar Brasil... Passado o susto, o país oferece muito." Hemnani destacou que há gestores no exterior que administram entre 500 milhões e ao redor de 4 bilhões ou 5 bilhões de dólares dispostos a alocar recursos em empresas brasileiras.

Segundo ele, tais fundos são ignorados nos roadshows das companhias --que se restringem a falar com cerca de 30 grandes investidores estrangeiros.

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