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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
Qual será o papel do Banco do Brasil no governo Lula? Terá a função social de financiar a produção ou irá concorrer com bancos de varejo? Sem uma resposta convincente do governo petista, os investidores institucionais preferiram não aderir à oferta pública de ações do BB. "Eles estão certos", afirma Carlos Daniel Coradi, diretor-presidente da EFC - Engenheiros, Financeiros & Consultores. "Querem saber primeiro qual a missão do banco nos próximos quatro anos."
Diante do baixo interesse dos investidores institucionais, o Conselho Monetário Nacional (CMN) cancelou nesta terça-feira a oferta pública de ações do Banco do Brasil. "Fica claro que o investidor subiu no muro e tomará sua decisão no futuro", afirma Coradi. "Se eu fosse um grande fundo de pensão estrangeiro, teria feito a mesma coisa. Lá fora ainda há dúvidas sobre a saúde econômica do Brasil."
A prudência dos investidores se justifica porque ainda não se sabe quem serão os controladores do banco no governo Lula. "Há o medo de que ele empreste mais dinheiro do que o recomendável", diz o analista de bancos Tomas Awad. "Seria prejudicial à carteira de crédito dos investidores." Há consenso também de que os meses de transição política não eram os mais indicados para a oferta pública. "Na verdade, foi a hora possível", afirma Awad. "O governo Fernando Henrique não teve muita escolha."
O governo precisava pulverizar entre os acionistas minoritários mais 17,8% das ações do banco. Somente com tal percentual o BB cumpriria uma das exigências para entrar no Novo Mercado da Bovespa, que reúne as empresas que atingiram o mais avançado grau de governança corporativa. Exige-se que pelo menos 25% do capital votante da companhia esteja circulando pelo mercado. Em princípio, isso garantiria maior liquidez ao papel e, afirma Awad, serviria para diminuir o risco de uso político do banco. "A transparência seria maior. Qualquer ação política do governo teria impacto maior no bolso dos minoritários", diz ele.
De acordo com os especialistas ouvidos pelo Portal EXAME, porém, o governo Lula poderá fazer uma nova oferta pública já em 2003, desde que deixe claro quais são seus planos para o futuro do Banco do Brasil. "Não há pressa. A entrada no mercado mais transparente pode muito bem esperar alguns meses", diz Coradi, da EFC. "O Banco do Brasil está saneado e preparado. Superada a incerteza política, os investidores institucionais irão embarcar."
Só pequeno investidor aderiu
A oferta de varejo, destinada a pessoas físicas e jurídicas domiciliadas no Brasil, no entanto, atendeu plenamente às expectativas. Atingiu o volume de R$ 1,239 bilhão, com 220.157 investidores. "Convencer o pequeno investidor a embarcar no Banco do Brasil é bem mais simples", diz Awad. "Uma boa conversa com o gerente da agência é suficiente."
Realidade bem diferente quando se trata dos grandes investidores. "Eles tomam decisões técnicas e não são levados pelo apelo do marketing do banco", disse à agência Reuters Fábio Cardoso, diretor da consultoria e administradora de investimentos Adinvest.
Só o interesse do pequeno investidor, porém, não garantiu o sucesso da oferta pública. Para concluir a operação, era preciso que investidores de varejo e os institucionais demandassem, juntos, o volume total de 132.334.586.966 ações ordinárias nominativas do Banco do Brasil, que correspondem a 17,8% do capital total e votante da empresa. A valores atuais de mercado, a oferta deveria atingir o montante de cerca de R$ 1,32 bilhão. A oferta de varejo totalizou R$ 757,3 milhões (R$ 500 milhões de recursos do FGTS, mais R$ 257,3 milhões em dinheiro). Seria necessário que a oferta institucional atingisse R$ 563 milhões, o que não aconteceu.