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Impeachment? Veja como ele afeta seu bolso e como se blindar

Confira as possíveis consequências do impeachment para o seu bolso e veja onde investir neste momento

Proteção: Investimentos atrelados à taxa Selic são os mais indicados neste momento (Thinkstock/Pogonici)

Proteção: Investimentos atrelados à taxa Selic são os mais indicados neste momento (Thinkstock/Pogonici)

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Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2015 às 08h29.

São Paulo – Qual é o impacto da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff sobre suas finanças? Quais investimentos devem se sobressair e quais devem micar, caso o impedimento ocorra de fato? E o que fazer enquanto o clima de incerteza reinar? EXAME.com consultou alguns especialistas para responder essas perguntas.

Antes de mais nada, vale ressaltar que, ainda que Eduardo Cunha tenha acatado o pedido de impeachment, existe um longo processo até que se chegue a uma conclusão sobre o impedimento ou não do mandato. Ainda não há um consenso, mesmo entre juristas, sobre o que pode ocorrer e o tempo que o processo pode levar (veja aqui como funciona o processo de impeachment).

Portanto, ainda que algumas hipóteses possam ser levantadas, ainda há muita água para rolar.

Confira a seguir como preparar seu bolso para os possíveis impactos do impeachment e quais são os melhores investimentos para encarar esse momento.

1) Prepare o seu orçamento

Com o impeachment acontecendo ou não, o cenário econômico é adverso e incerto. Diante dessa conjuntura, planejamento é a palavra de ordem. É importante ter o orçamento pessoal sob controle e não gastar mais do que você ganha (veja algumas opções de planilha para controlar seus gastos).

Também é essencial manter uma reserva de emergência para driblar imprevistos como a perda de emprego e novos aumentos de preços (confira dicas para formar sua reserva).

De acordo com André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, apenas no primeiro trimestre do ano que vem a inflação dos últimos 12 meses deve arrefecer e a taxa de desemprego ainda deve subir.

“O Banco Central acha que os salários ainda estão gerando inflação”, diz Perfeito. Assim, para conter a inflação e também os gastos, o governo deve continuar segurando seus investimentos. Sem os recursos da máquina pública irrigando a economia, a atividade se reduz e, consequentemente, o desemprego sobe.

2) Fique longe das dívidas

Para Márcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest, a maior preocupação que o brasileiro deve ter no momento é ficar longe das dívidas. “As taxas estão altíssimas, este não é o momento de pagar juros, é o momento de ganhar”, afirma.

Com a taxa Selic em um patamar elevado – hoje ela está em 14,25% ao ano – os juros praticados em diferentes operações de crédito do mercado também ficam mais altos. A taxa do cartão de crédito rotativo, por exemplo, cobrada quando o cliente paga o mínimo do cartão e parcela o saldo devedor, chegou a absurdos 406,1% ao ano em outubro.

A possibilidade de uma nova elevação da taxa Selic pode tornar as dívidas ainda mais perigosas. Na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), dois diretores votaram por uma elevação de 0,5 ponto porcentual na taxa e foi retirado do comunicado o trecho que fala sobre manutenção dos juros "por tempo suficientemente prolongado".

“Eu acho que a taxa Selic vai subir, sim, mas ainda é cedo para avaliar. Acho que o Banco Central vai esperar até o fim do primeiro trimestre para ver se a inflação de 12 meses cai”, opina André Perfeito.

3) Vislumbre os cenários possíveis

Segundo o economista-chefe da Gradual, apesar de toda a incerteza, a abertura do processo de impeachment já deixa o cenário um pouco mais previsível do que antes.

“O processo deve ser bem mais demorado do que o de Collor e ainda guarda muitas dúvidas, mas a queda de braço entre Eduardo Cunha e o governo acabava resvalando o tempo todo no Congresso e desaguando em pautas-bombas. Agora, os congressistas finalmente vão começar a criar uma ideia de agenda para blindar a economia”, diz Perfeito.

Ao vislumbrar os dois possíveis desfechos do impeachment, o sócio-diretor da Easynvest acredita que, se o mandato não for impedido, a economia deve seguir na mesma toada dos últimos meses. “Vai continuar nesse marasmo e as eleições de 2016 podem evidenciar mais ainda a fraqueza do PT, o que pode agravar a situação.”

Nesse caso, segundo Cardoso, os investimentos que acompanham a taxa Selic são a opção mais certa, uma vez que quanto maior o risco da economia, maior é a tendência de elevação dos juros. O outro lado dessa moeda, no entanto, é que a alta taxa de juros encarece as operações de crédito no geral, o que contribui para manter economia desaquecida e, consequentemente, a alta taxa de desemprego.

Já se o impeachment ocorrer e o PMDB assumir, adotando o tom proposto no documento Uma Ponte para o Futuro - divulgado em outubro pelo partido, com propostas para a retomada da economia - o cenário deve ser melhor do que o previsto com a permanência da presidente, na opinião de Cardoso.

“Se o partido mantiver a linha proposta no documento, que agrada o empresariado, pode haver uma retomada dos investimentos e a economia sai do clima de incerteza”, afirma. Se esse cenário mais calmo se concretizar, e projetos importantes para o ajuste fiscal forem aprovados, a economia tende a se normalizar e então a tendência é que a taxa de juro e a inflação voltem a cair.

4) Pense na sua estratégia não após o impeachment, mas desde já

O processo de impeachment deve demorar. Por isso, é importante planejar o que fazer nos próximos meses. Enquanto o clima de incerteza permanecer, a taxa de juro deve se manter alta ou pode até ser elevada, conforme mencionado anteriormente.

Nesse caso, investimentos que acompanham a Selic são o caminho natural. “Neste momento, eu não recomendo nada, senão investir em aplicações atreladas ao juro”, afirma Cardoso.

Investir em ativos de renda fixa que acompanham os juros é uma recomendação praticamente unânime entre especialistas neste momento porque esses tipos de investimento têm baixo risco e estão em alta. Enquanto isso, investimentos de renda variável, como a bolsa, que têm alto risco, não estão nada bem neste momento. 

5) Invista em aplicações atreladas à taxa Selic para evitar riscos

Alguns investimentos de baixo risco que são atrelados à taxa Selic ou à taxa DI, que segue comportamento semelhante à Selic (entenda a taxa DI) são: Tesouro Selic, título público vendido pelo Tesouro Direto; os títulos emitidos por bancos, como CDBs, LCIs e LCAs; e fundos DI e fundos de renda fixa (que devem ser vistos com mais cautela porque podem ter altas taxas de administração).

Por acompanhar a taxa Selic ou a taxa DI, esses investimentos sempre pagam juros em linha com as taxas que o mercado está praticando. Assim, o risco de perder dinheiro em relação a outros investimentos é muito baixo.

Em outras palavras, se a taxa Selic subir e puxar o rendimento de diversos investimentos do mercado, essas aplicações também acompanharão esse movimento e não se mostrarão desvantajosas. E caso a taxa caia, esses investimentos também pagarão juros menores, mas se manterão em linha com as taxas praticadas no mercado.

6) Avalie também outros tipos de investimentos de renda fixa, mas com cuidado

Por serem menos arriscados, os investimentos que acompanham as taxas DI e Selic podem também gerar retornos menores. Existem aplicações que pagam taxas de juros prefixadas, ou taxas prefixadas mais a variação da inflação, que podem oferecer remunerações maiores, mas seus riscos também são igualmente superiores.

A lógica é mais ou menos esta: se o título é prefixado, no momento do investimento ele já diz a taxa que você vai receber. Suponha que a taxa seja de 16% ao ano (taxa próxima às taxas pagas pelo título público Tesouro Prefixado), caso a taxa Selic suba ainda mais e novos títulos acompanhem essa alta, passando a pagar 17% ao ano, o título de 16% pode se mostrar desvantajoso.

Assim, se o dono do título que paga a taxa de 16% ao ano precisar resgatá-lo antes do vencimento, ele terá de vendê-lo com desconto e pode perder dinheiro. No entanto, caso o título seja mantido até o vencimento ele pagará exatamente os 16% prometidos, sem risco de prejuízo.

O diretor da Easynvest afirma, portanto, que o investidor deve avaliar se a taxa oferecida no título prefixado é vantajosa de acordo com o período que ele quer investir. “Existem CDBs que pagam hoje 18% ao ano. Se o investidor acredita que essa a taxa o protege pelo prazo de três anos, então ele deve comprar o título e chancelar essa taxa. Se a Selic cair ótimo, seu título se valoriza, e se a Selic subir, ao menos ele tem a opção de levá-lo até o vencimento e ganhar 18% ao ano, que está excelente.”

Como existem chances de que a taxa Selic suba, o que é desvantajoso para os títulos prefixados, uma boa estratégia é diversificar os investimentos, aplicando parte dos recursos em títulos que acompanham a Selic e são mais seguros e parte em títulos prefixados, que cravam as altas taxas de juros oferecidas neste momento.

7) Proteja-se da inflação

Existem ainda títulos que pagam uma taxa de juros mais a inflação. Em um momento como o atual, de inflação pressionada, eles são uma ótima opção, segundo Márcio Cardoso.

Como esses títulos têm uma taxa prefixada, eles também sofrem os mesmos riscos mencionados no item anterior. No entanto, se o objetivo for segurá-los até o vencimento, eles pagam exatamente o que foi acordado no início da aplicação.

Por essa razão, é importante observar o prazo do título. Se o investidor tiver em mãos um Tesouro IPCA (título público atrelado à inflação) que pague, por exemplo, 7% ao ano mais o IPCA, caso a taxa Selic suba, ele pode ser vendido com prejuízo se for resgatado antes do prazo.

Como os prazos de vencimento do Tesouro IPCA são longos, variam de 2019 a 2050, o risco de perda é ainda maior porque o investidor não consegue prever com tanta clareza se precisará ou não resgatar o título antes do prazo.

As alternativas, portanto, seriam investir apenas uma parte do dinheiro nesses títulos, que protegem da inflação e ainda pagam taxas de cerca de 7% ao ano ano, e também manter recursos investidos em outras aplicações que não geram perdas se forem resgatadas antes do prazo.

Outra alternativa ainda é investir em títulos atrelados ao IPCA, mas que possuem prazos de vencimento mais curtos. Segundo Cardoso, existem no mercado hoje CDBs que pagam a variação da inflação mais 7% ao ano com vencimentos bem curtos, de um ou dois anos.

8) Só invista na bolsa se você tiver sangue frio e dinheiro suficiente para correr riscos

Apesar de achar que os preços de algumas ações estão extremamente atrativos, o diretor da Easynvest não recomenta o investimento. “Eu prefiro comprar bolsa quando houver algum sinal mais claro de recuperação economia.”

Em uma conta rápida, Cardoso compara a bolsa com os investimentos atrelados à Selic. Ele afirma que, caso a taxa Selic suba a 15% no meio do que vem, para que o investimento em bolsa seja mais vantajoso que as aplicações atreladas ao juro, a bolsa teria que saltar dos atuais 46 mil pontos para cerca de 54 mil pontos no meio do ano que vem. “A bolsa só chegará nessa pontuação se o cenário melhorar muito”, afirma Cardoso.

De todo modo, o investidor que dispõe de recursos para arriscar um pouco mais pode se dar bem ao comprar ativos em um momento de baixa, já que ao esperarar a bolsa subir para realizar o investimento, os preços podem não ficar mais tão atrativos. O problema é que existe o risco de as ações caírem ainda mais antes de subir.

Por isso, o investimento em bolsa só é indicado se o investidor estiver consciente de que pode sofrer prejuízos e que, se isso ocorrer, ele tem outras aplicações que podem mitigar suas perdas. 

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