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Ibovespa tem 25 ações "baratas", mas vale a pena investir?

Apesar do desconto, poucas ações "baratas" do Ibovespa representam alguma oportunidade


	Ações "baratas" não necessariamente significam que é hora de ir às compras; algumas merecem a má avaliação
 (Getty Images)

Ações "baratas" não necessariamente significam que é hora de ir às compras; algumas merecem a má avaliação (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 18h15.

São Paulo – Umas das máximas do mercado diz que o investidor deve comprar ativos “na baixa” (quando estão baratos) e vendê-los “na alta” (depois de terem se valorizado). Esse raciocínio pode levar muitos investidores a pensar que, após apanhar tanto, a Bolsa brasileira está barata, cheia de oportunidades. Mas será que as ações negociadas com um desconto são pechinchas injustiçadas, ou essas empresas merecem a má avaliação do mercado sobre elas?

Um levantamento da consultoria Economatica com as 65 empresas mais negociadas da Bolsa – aquelas que compõem o Índice Bovespa – mostra que 25 delas são negociadas abaixo de seu Valor Patrimonial. Isso significa que o mercado acredita que elas valham menos do que o valor da soma de todo o seu patrimônio – ou, em outras palavras, que uma liquidação da empresa seria mais interessante para o investidor. A julgar por alguns dos nomes presentes na lista, como Petrobras e Gerdau, é um pouco difícil de acreditar que este seja o caso.

Mas afinal, por que essas empresas estão apanhando? Representam boas oportunidades de investimento ou armadilhas a serem evitadas? Como no caso de qualquer outro múltiplo, a comparação entre Valor de Mercado e Valor Patrimonial para saber se a empresa está “barata” não deve ser o único fator a ser levado em conta antes de investir. É apenas um deles, podendo significar, em alguns casos, que o mercado não consegue enxergar o verdadeiro potencial de uma empresa.

Confira a lista das ações “baratas” do Ibovespa:

Empresa Setor Valor Mercado em 19/07/13 em milhões R$ Patrimônio Líquido em milhões R$ Valor de Mercado X Patrimônio Líquido (%)*
Eletrobrás Energia Elétrica 7.396 66.792 11,1
OGX Petróleo e Gás 1.618 6.909 23,4
Brookfield Construção 975 2.808 34,7
MMX Mineração 1.324 3.436 38,5
Usiminas Siderurgia & Metalurgia 7.589 16.547 45,9
Rossi Construção 1.139 2.329 48,9
Gafisa Construção 1.307 2.489 52,5
PDG Realty Construção 2.616 4.943 52,9
Copel Energia Elétrica 6.967 12.486 55,8
Petrobras Petróleo e Gás 204.170 335.437 60,9
Cesp Energia Elétrica 6.232 10.219 61,0
Oi Telecomunicações 6.650 10.793 61,6
Santander BR Finanças e Seguros 51.748 79.478 65,1
Gerdau Metalúrgica Siderurgia & Metalurgia 6.586 9.843 66,9
LLX Outros 597 866 68,9
BR Properties Outros 6.108 8.035 76,0
Bradespar Outros 7.130 9.361 76,2
Suzano Papel Papel e Celulose 8.418 11.008 76,5
Eletropaulo Energia Elétrica 1.306 1.708 76,5
Gerdau Siderururgia & Metalurgia 22.315 27.017 82,6
MRV Construção 3.338 3.881 86,0
Marfrig Alimentos e Bebidas 3.745 4.232 88,5
JBS Alimentos e Bebidas 19.367 20.900 92,7
Fibria Papel e Celulose 14.185 15.155 93,6
V-Agro Outros 1.422 1.459 97,5

Fonte: Economatica
(*) 100% equivale à empresa que recebe uma avaliação justa do mercado, com Valor de Mercado equivalente ao Valor Patrimonial. Abaixo de 100%, significa que a empresa tem um desconto; acima, significa que é negociada com um prêmio.


A pedido de EXAME.com, alguns especialistas avaliaram a lista para tentar garimpar quais dessas ações “baratas” podem representar boas oportunidades de investimento no momento. Mas o resultado não foi muito animador. Pelo contrário, as ações interessantes são justamente as mais caras ou papéis que não compõem o Ibovespa.

“As ações que aparentemente estão mais baratas precificam um cenário futuro difícil. Acho que o cenário vai ser ainda mais difícil do que elas precificam”, diz Carlos Eduardo Rocha, sócio do banco Brasil Plural, que gere um dos melhores fundos ativos de Ibovespa dos últimos dois anos, com rendimento de mais de 20% no período.

Duda, como é conhecido, não indicaria qualquer ação dentre as descontadas do Ibovespa, as quais acredita serem muito arriscadas. Ele afirma que um dos principais erros do investidor pessoa física é avaliar a empresa começando por um múltiplo que indique que ela está barata, como essa comparação entre Valor de Mercado e Valor Patrimonial. “Quando avaliamos uma empresa, não devemos só olhar se elas estão baratas ou não. Em geral, não acho as empresas do Ibovespa realmente baratas”, diz.

Ele explica que o sucesso do fundo do Brasil Plural se deve a uma análise bastante rigorosa dos fundamentos das empresas e de sua gestão, além do cenário macroeconômico, inclusive internacional. O fundo investe cerca de 20% de seu patrimônio no exterior e tem métricas próprias para avaliar empresas e setores. Segundo Duda, como os próprios gestores investem nos fundos da casa, sua aversão a risco é bastante grande.

Em função disso, o Brasil Plural evita empresas e setores que considera como os mais arriscados, para tentar conseguir o máximo de retorno com o mínimo de risco. Assim, descartam de cara empresas pré-operacionais, como a OGX, uma vez que demandam o consumo intensivo de caixa para pôr projetos de pé. Também têm evitado o setor de commodities, que representa 75% do Ibovespa, devido à desaceleração chinesa e ao viés de baixa para os preços no mercado internacional.

“Minha primeira recomendação é evitar o Ibovespa e as empresas de commodities. Minha segunda recomendação é ser seletivo na compra de ações. O Brasil está em um processo de desaceleração e estamos em um processo de consumir nosso superávit primário. O próximo presidente terá que fazer ajustes fortes na economia, sacrificando o crescimento”, prevê Carlos Eduardo Rocha.

Há quem goste de uma ou outra ação

“Quando uma ação é negociada abaixo de seu Valor Patrimonial significa que o mercado acha que o futuro da empresa será pior que o presente. Mas há algumas empresas do Ibovespa que não me parece fazer sentido estarem descontadas”, diz João Pedro Brugger, economista da gestora Leme Investimentos.

Para ele, é o caso de Gerdau, cujo setor vem sofrendo com a elevação dos preços do minério, bem como com a concorrência do aço importado. Mas nos múltiplos atuais, Gerdau poderia voltar a se recuperar, diz Brugger.


No setor de construção civil, MRV e BR Properties se destacam como empresas com negócios consolidados e resistentes, avalia Brugger, que acredita que as empresas tenham aprendido com os erros do passado em relação ao aumento dos custos. BR Properties é, aliás, a única ação descontada do Ibovespa que o analista-chefe da corretora Geral Investimentos, Carlos Müller, recomenda.

“É uma empresa com patrimônio de valor muito alto e que vem vindo de um processo de desalavancagem, o que gera alguma incerteza. Daí o desconto. Mas oferece proteção contra a inflação”, diz Müller, que a considera uma opção defensiva, com forte geração de caixa e consistência nos resultados. As outras 24 ações o analista considera muito arriscadas.

Das ações descontadas do setor elétrico, Brugger diz gostar de CESP e Copel. As companhias sofreram não só com a mudança de regulação do setor elétrico no ano passado, mas também com a interferência dos governos dos estados onde atuam (São Paulo e Paraná). “Mas historicamente essas empresas tiveram bons resultados, o que deve continuar, devido à sua boa gestão”, avalia Brugger.

Para o economista da Leme, a Suzano é também uma empresa com bom potencial de recuperação, ajudada pela alta do dólar nas suas exportações. Apesar de seu endividamento em moeda estrangeira, Brugger acredita que a empresa não deva repetir os mesmos erros do passado. Finalmente, o economista acredita em Petrobras. “Anova diretoria tem sinalizado uma intenção de melhorar a gestão. É uma empresa de potencial enorme, mas com o risco da interferência do governo”, diz.

Carlos Eduardo Rocha, do banco Brasil Plural, tem uma visão distinta da companhia. “A Petrobras tem retorno sobre capital investido menor que a taxa de juros no Brasil. Não justifica investir na empresa com a taxa de juro atual. Ela está destruindo valor com esse modelo”, justifica.

Comprar na alta para vender na alta?

Não parecem estar nas ações descontadas as oportunidades. Segundo Carlos Eduardo Rocha, a análise setorial do Brasil Plural levou os gestores a ganharem, recentemente, com um setor que já não estava barato, mas cresceu mais de 20%: o setor de educação.

Entre as recomendações da Geral dentro do Ibovespa figuram ações que poderiam ser consideradas caras, mas que têm em comum o fato de serem defensivas: Cielo, Ambev, CCR, Localiza, Ultrapar, BRF, Duratex, Bradesco, Itaú Unibanco, Braskem e BR Malls.

Como características comuns de muitas delas estão receitas atreladas ao dólar ou à inflação, o pagamento de bons dividendos, o fato de serem líderes com folga em seus setores e de o consumo de seus produtos ou serviços não variar muito, independentemente do cenário econômico. Há ainda quem tenha folga para crescer apesar do baixo crescimento econômico, como é o caso de Localiza e Duratex.

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