Desenvolvimento do mercado e juros baixos criam ambiente para novas formas de financiamento (Photobuay/Thinkstock)
Karla Mamona
Publicado em 19 de outubro de 2020 às 09h35.
Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 15h59.
Uma opção para quem busca crédito mais barato no mercado é oferecer o carro ou a casa como garantia. É uma modalidade conhecida como home equity. Tantos bancos como fintechs oferecem esse tipo de empréstimo com taxas mais atrativas do que as tradicionais de mercado, com juros a partir de 0,60% ao mês. Para ter ideia, nas linhas de crédito pessoal, as taxas cobradas são de 3,16% ao mês, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O Brasil ainda tem uma carteira tímida de home equity, de cerca de 11 bilhões de reais contratados, segundo dados divulgados pelo Banco Central. Mas o próprio BC já afirmou que essa modalidade de empréstimo tem potencial para alcançar 500 bilhões de reais nos próximos anos. A perspectiva da Selic baixa é a maior incentivadora desse mercado, já que estimula a contratação de linhas de crédito no longo prazo. No home equity, o consumidor pode pagar em até 20 anos.
A Caixa é a maior detentora desse mercado com 32% de participação. No final de julho, o banco público anunciou uma revitalização da linha de crédito de home equity. Denominada de Renda Fácil Caixa, ela permite que o consumidor escolha pela forma de atualização do empréstimo, que pode ser tanto pela Taxa Referencial (TR), como pelo IPCA (índice de inflação ao consumidor) ou uma taxa fixa.
Além dos bancos, quem ajuda a fomentar o mercado são as fintechs. A Creditas, por exemplo, cobra juros de 0,75% ao mês e empresta entre 30 mil reais e 3 milhões de reais, com prazo para pagar em até 240 meses. A Pontte, especializada em crédito, cobra uma taxa de 0,79% a.m e IPCA. Desde o início da pandemia, em março, a fintech afirma que houve um aumento mensal de 22% nesse tipo de empréstimo.
Também houve um aumento na busca de empréstimo com carro como garantia. Na SIM, fintech de empréstimo pessoal do Santander Brasil, o aumento registrado foi de 288% no terceiro trimestre. No empréstimo, a SIM cobra uma taxa de 1,79% ao mês e a possibilidade de parcelamento em até 60 vezes. O limite de crédito é de 50 mil reais. O foco da fintech são pessoas físicas, assim como micro e pequenos empreendedores.
Segundo a SIM, o crescimento nos últimos meses ocorreu principalmente por causa da dificuldade do acesso a linha de crédito tradicionais pelos pequenos empreendedores. “Eles têm nos procurado como uma opção realmente para manter seus negócios funcionando, mesmo que a oferta não seja específica para pessoa jurídica”, afirmou Vinicius Aloe, presidente da fintech.
Mas antes de tomar essa modalidade de empréstimo é fundamental ter em mente a capacidade de pagamento. Caso, contrário a pessoa pode perder a casa ou carro.
Para Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fipecafi, é importante que o consumidor entenda o conceito de alienação fiduciária que existe neste tipo de contrato.
A alienação fiduciária é regulamentada pela lei nº 9514/97 e usada em modalidades de empréstimo e financiamento no qual uma pessoa solicita um crédito e, para transmitir confiança em relação ao pagamento, transfere o bem para o credor. O bem cedido permanece com o status até que o contrato seja quitado pelo devedor. “Se houver dificuldade de pagamento haverá a recuperação do bem. Há celeridade na retomada do bem pela instituição financeira”, alerta Paixão.
Por isso é fundamental avaliar a capacidade de pagamento no empréstimo com a casa ou o carro como garantia. Carlos Castro, planejador financeiro pela Planejar, afirma que, no caso dos pequenos empreendedores, o risco de inadimplência é maior, já que renda é mais volátil. A orientação dada pelo especialista é observar a capacidade de geração de renda do negócio. “A dívida não pode ser maior do que 30% da receita.”
Apesar do risco de perder a casa ou o carro, o home equity (ou com o carro como garantia) é vantajoso em casos em que o consumidor consegue trocar uma dívida mais cara (cheque especial, cartão de crédito) por uma mais barata. No cheque especial, por exemplo, os juros cobrados são de 150% ao ano ano, enquanto no cartão de crédito chegam a 300%. Ao trocar a dívida, o consumidor acaba ganhando fôlego financeiro, porque os juros e a parcela diminuem.
Já para os consumidores que estão superendividados, ou seja, não têm condições de pagar por esse tipo de crédito, a orientação é que ele não faça um novo empréstimo. A orientação do planejador financeiro é que quem está no sufoco venda algum bem para tentar abater uma parcela da dívida.
A EXAME levantou quanto os bancos cobram nos empréstimos de home equity. Confira:
Caixa
IPCA + a partir de 0,60% ao mês com prazo de pagamento até 180 meses e até 50% do valor do imóvel
TR + a partir de 0,70% ao mês com prazo de pagamento de até 180 meses e até 60% do valor do imóvel
Taxa fixa + a partir de 0,80% ao mês com prazo de pagamento de até 180 meses e até 60% do valor do imóvel
Itaú
Taxa de 0,94% ao mês + TR e prazo de 10 anos para pagar e até 60% do valor do imóvel
O banco lançou também o crédito com com garantia de imóvel financiado, deixando de limitar este tipo de empréstimo aos clientes que já tenham um imóvel quitado. Ou seja, quem tiver um imóvel ainda financiado junto ao banco poderá utilizá-lo como garantia. Neste caso, os juros são a partir de 0,56% ao mês.
Santander
Taxa de 1% ao mês + prazo de até 20 anos limitado a 60% do valor do imóvel
Banco do Brasil
Taxa de 0,78% ao mês + prazo em até 238 meses e valor mínimo de empréstimo de 35 mil reais.