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Gastar férias em bets? Funcionários veem apostas como investimento, diz estudo inédito

Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas, vê resultado do estudo como alerta e afirma que não temos controles sobre os ganhos com as apostas

56% dos entrevistados relatam que uma parcela dos funcionários enxerga as bets como uma estratégia válida de investimento (Bruno Peres/Agência Brasil)

56% dos entrevistados relatam que uma parcela dos funcionários enxerga as bets como uma estratégia válida de investimento (Bruno Peres/Agência Brasil)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 16h49.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 16h55.

Com a crescente popularidade das apostas online, a preocupação dos órgãos públicos têm ido muito além do endividamento da população. Não por acaso, o governo federal anunciou no final do ano passado a criação de um grupo de trabalho para estabelecer ações e enfrentar problemas de saúde relacionados às plataformas de bets. O foco está em estratégias para prevenir, mitigar danos e oferecer suporte a indivíduos e comunidades afetados por práticas de jogo compulsivo. O impacto da febre das bets que toma conta do Brasil é tanto que começou a ser notado inclusive no ambiente de trabalho — e deveria ser também uma preocupação das empresas, segundo estudo inédito.

Realizada pela Creditas Benefícios em parceria com Wellz by Wellhub e Opinion Box, a pesquisa destaca que os funcionários não deixam de apostar mesmo durante o horário comercial, trazendo consequências para a produtividade e para a saúde financeira e mental dos trabalhadores.

Entre profissionais de RH e pessoas em cargos de liderança, 53% relatam que os funcionários enfrentam dificuldades financeiras devido às apostas, e 54% afirmam que eles utilizam horários de descanso, como a pausa para o almoço, para jogar.

Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas, vê a pesquisa como um alerta. "Ao implementar estratégias abrangentes que incluam educação financeira, apoio e comunicação aberta, as empresas podem mitigar os impactos negativos do jogo", afirma.

[grifar]À pesquisa, 56% dos entrevistados relatam que uma parcela dos funcionários enxerga as bets como uma estratégia válida de investimento. Tanto que metade dos entrevistados disseram que alguns colaboradores pretendem apostar com o dinheiro que recebem das férias e do 13º salário.

A própria definição de investimento é a alocação de um recurso que, após um período, vai trazer uma remuneração. As bets, no entanto, têm uma forte relação com a sorte. "Apesar de ações e ativos de renda variável também não terem garantias fixas de retorno, eles já passaram por vários testes no mercado, com classificações de riscos envolvendo estes investimentos. Já sobre a sorte não temos este mesmo controle", explica Casagrande.

Apesar dos números alarmantes sobre o envolvimento dos trabalhadores com as plataformas de jogos online, apenas 36% dos entrevistados sentem que a liderança de suas organizações está preparada para lidar com o problema e só 6% relatam que as empresas abordaram o tema por meio de treinamentos, workshops ou outras ações de comunicação interna.

A questão também é de saúde mental

Para 77% dos entrevistados, a falta de apoio psicológico pode piorar o impacto do vício em apostas dentro do trabalho e mais de 79% acreditam que programas de apoio psicológico e de educação financeira poderiam ajudar a prevenir o aumento deste comportamento.

“A alta capacidade de gerar dependência faz das apostas e jogos de azar – reconhecidos no DSM-5 como ‘Gambling Disorder’ – um problema de saúde mental grave, que pode levar a consequências extremas. O envolvimento excessivo em apostas e jogos de azar afeta não apenas o indivíduo, mas também todo o seu entorno, reforçando a necessidade de estratégias de prevenção, acompanhamento psicológico e educação contínua”, afirma Ines Hungerbühler, psicóloga PhD e head de estratégia clínica do Wellz.

Foram realizadas 405 entrevistas com profissionais que atuam no departamento de RH e em cargos de gestão de empresas com mais de 100 funcionários (71% delas com mais de 500 colaboradores), entre novembro e dezembro de 2024.

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