Gráfico de queda: cotistas são chamados a depositar mais recursos para que o fundo honre os compromissos (flytosky11/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 17h29.
Última atualização em 12 de março de 2019 às 15h45.
Os fundos de ações da gestora GWI, do empresário Mu Hak You, voltaram a perder mais de 100% de seu patrimônio, coisa rara em carteiras de ações tradicionais. Isso acontece quando o fundo, por fazer apostas mais arriscadas em mercados de derivativos, como o mercado a termo, acaba tendo um prejuízo que supera todo o valor investido e o fundo ainda fica devendo no mercado. Os cotistas são então chamados a depositar mais recursos para que o fundo honre os compromissos.
São quatro fundos, o GWI Classic, o GWI Leverage, o Pipes e o High Value. Juntos, esses fundos fecharam dezembro com um patrimônio total de R$ 28,6 milhões. Em 26 de fevereiro, esse patrimônio estava negativo em -5,393 milhões.
Os fundos da GWI foram fechados para movimentação por prazo indeterminado em 15 de fevereiro pelo administrador das carteiras, a Planner Corretora, já sob o impacto das perdas previstas.
As maiores posições desses fundos eram aplicações em ações da construtora Gafisa, que foi alvo de uma tomada hostil de controle pelo empresário Mu Hak. Ele trocou todo o controle da empresa e assumiu pessoalmente o comando do negócio. A ação da empresa chegou a bater quase R$ 17, mas se desvalorizou e chegou a menos de R$ 9,00, o que fez a bolsa B3 exigir que a gestora e o investidor aumentassem as garantias dadas para suas operações de termo na bolsa. O termo é a compra futura de uma ação por determinado preço, apostando na alta dos papéis. Se os preços sobem além do previsto no termo, o investidor ganha a diferença. Mas, se o papel cai, é preciso pagar a diferença entre o valor do termo e o valor de mercado.
Sem recursos para depositar mais garantias na bolsa, a gestora optou por vender os papéis da Gafisa para a Planner, que comprou os papéis por meio de dois fundos. Esses fundos assumiram o controle da empresa. Mas os prejuízos dos fundos da GWI e de seus investidores ficaram.
O Classic, com 38 investidores, tinha R$ 8 milhões no fim de dezembro e, em 26 de fevereiro, o saldo havia se tornado negativo em -R$ 1,012 milhões, o equivalente a um prejuízo de 112,6% do saldo do fim do ano passado. A cota ficou negativa, em -28.164,63, que seria o valor da dívida do investidor por cota do fundo, além da perda do valor investido. No ano passado, o fundo já havia perdido 59,89%.
O GWI Leverage, com 272 investidores, viu seu patrimônio cair de R$ 5,134 milhões no fim de dezembro para -R$ 555,7 mil, uma perda equivalente a 110,82% do valor que o fundo tinha no fim do ano passado. O valor da cota saiu de R$ 53,65 para -R$ 5,81.
Já o Pipes, com 30 cotistas, que tinha R$ 9,762 milhões de patrimônio em dezembro, agora tem um prejuízo de R$ 2,370 milhões. A perda equivale a 124,29% do valor do patrimônio em dezembro. A cota saiu de R$ 934,57 em dezembro para -R$ 227,05
Outro fundo, o High Value, com 8 cotistas, que tinha R$ 5,7 milhões no fim do ano passado, agora está com patrimônio negativo de -R$ 1,456 milhões. A perda foi de 125,81% em pouco mais de dois meses deste ano.
Esta não é a primeira vez que isso ocorre com fundos da GWI, que têm como principal característica assumir posições muito acima de seu patrimônio, a chamada alavancagem. Em 2011, os fundos da gestora ficaram devendo também, e a divida acabou sendo paga pela corretora que trabalhava com a GWI na época, a Socopa. O caso acabou sendo resolvido por arbitragem e a GWI teria pago dezenas de milhões à Socopa como indenização.
O empresário também foi condenado em 2017 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a cinco anos de inabilitação em processo que concluiu que ele havia concentrado as posições dos fundos em ações da Marfrig além do permitido.