Ação da Cemig teve uma das maiores quedas de setembro, de 35%; veja as maiores altas e baixas do mês.
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2012 às 14h56.
São Paulo – O pacote de revisão tarifária e de concessões anunciado pelo governo no fim de agosto - e detalhado no início de setembro - caiu como uma bomba sobre as ações de empresas de energia elétrica. Tradicionais pagadoras de dividendos, muitas dessas companhias viram seus papéis e perspectivas de lucro desabarem, o que deixou os investidores em ações defensivas apreensivos. Mas enquanto os fundos ativos de dividendos e o índice que reúne as empresas de energia elétrica tiveram desempenho negativo no mês, o Índice de Dividendos e o fundo de índice atrelado a ele, o ETF DIVO11, tiveram desempenho levemente positivo.
“O índice reúne apenas as melhores pagadoras de dividendos, não ficando tão concentrado no setor de elétricas”, diz Tatiana Grecco, superintendente de fundos indexados da Itaú Asset Management. Ela explica que este ETF, gerido pelo Itaú, acompanha um índice que não tem compromisso com a exposição em concessionárias de energia elétrica, mas sim com o bom pagamento de dividendos. Assim, se estas empresas realmente tiverem redução significativa na distribuição de lucros, serão retiradas do Índice de Dividendos e, consequentemente, da carteira do fundo. Isso garante que o investidor do ETF DIVO11 esteja sempre investindo em papéis que pagam altos dividendos.
Desde o dia 30 de agosto, quando o governo anunciou o pacote de energia, o Índice de Energia Elétrica (IEE), que reúne empresas do setor, teve queda 12,16%. No mês de setembro, até o dia 25 (data do último dado), os fundos de dividendos ativos (em que o gestor escolhe as ações que vão compor a carteira) tiveram rentabilidade média negativa em 0,91%. Nos 30 dias corridos até então, a queda foi de 3,55%. Já o Índice de Dividendos viu alta de 0,51% de 30 de agosto a 28 de setembro, e o DIVO11 rendeu 0,43% no mesmo período.
Ações perdedoras não duram no fundo
Os ETFs (Exchange Trading Funds) são fundos atrelados a índices, com cotas negociadas em Bolsa. Isso significa que eles replicam, nas mesmas proporções, a carteira que compõe os índices que eles seguem da maneira mais fiel possível e sem elevar demais os custos. A taxa de administração é bem baixa, não chegando a 1%, uma vez que eles são fundos passivos, isto é, o gestor não tem prerrogativa na hora de escolher que ações vão compor o fundo. No caso do DIVO11, a taxa de administração é de apenas 0,5% ao ano.
Por replicarem a carteira de índices da Bolsa, os ETFs estão também sujeito às revisões que a BM&FBovespa faz a cada quatro meses em seus indicadores. A Bolsa verifica se as ações que compõem o índice ainda atendem aos critérios metodológicos, retirando aquelas que não mais se enquadram e acrescentando ações que estavam de fora e passaram a se enquadrar.
O Índice de Dividendos, por exemplo, é composto pelas melhores pagadoras de dividendos dos últimos 24 meses, com ponderação feita de acordo com o tamanho da empresa. Existem ainda limites máximos de exposição a cada empresa. Por isso, caso empresas de energia elétrica que o compõem deixarem de atender aos critérios do indicador, elas serão retiradas da carteira teórica na próxima revisão.
Se as elétricas diminuírem sua distribuição de dividendos, é possível que a média de distribuição das melhores pagadoras de fato caia, uma vez que as elétricas têm tradição de ficar no topo da lista das ações mais defensivas. Mesmo assim, para quem gosta da estratégia de investir em dividendos, o DIVO11 garante que o investidor esteja sempre posicionado nas ações das melhores pagadoras daquele momento, independentemente do setor. Os fundos de dividendos ativos seguem lógica parecida, mas normalmente não há um compromisso rígido de composição da carteira, sendo prerrogativa do gestor determinar quais ações vão entrar e em que proporção.
Diversificação compensa perdas
ETFs normalmente são maneiras de aplicar em cestas diversificadas de ações com pouco dinheiro, o que os torna ativos atraentes para a pessoa física. É claro que isso se aplica a ETFs como o DIVO11, o PIBB (indexado ao IBrX-50) e o BOVA11 (indexado ao Ibovespa), atrelados a índices compostos por várias empresas de diversos setores. ETFs indexados a índices setoriais, como o CSMO11 (atrelado ao Índice de Consumo), têm concentração em apenas um setor, diluindo apenas o risco individual das empresas que o compõem.
O setor de energia elétrica é o segundo com mais peso no Índice de Dividendos, atrás apenas do setor de mineração, com 22% do índice. Mesmo assim, o setor elétrico atualmente representa apenas 18% do índice, e nem todas foram afetadas negativamente pelo pacote governamental. Além desses dois setores, o indicador ainda é composto por bancos e outras empresas financeiras, empresas de consumo (como fumo e bebidas), de serviços, de siderurgia, de madeira e papel, concessionárias de serviços públicos, entre outras, totalizando 41 empresas em oito setores. “Essa diversificação acaba compensando os efeitos negativos no setor elétrico e vai a favor do investidor, especialmente a pessoa física”, diz Tatiana Grecco.
Riscos e vantagens para o longo prazo
De acordo do Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper, no longo prazo o mau desempenho das ações do setor elétrico realmente não vai afetar muito o ETF DIVO11, por causa da própria lógica de revisão dos índices da Bolsa. Mas ele lembra que, se uma ação desvalorizada sai do índice e, portanto, da carteira do ETF, há um prejuízo para o fundo no curto prazo, que pode ou não ser compensado pelas demais ações. “Na hora do giro da carteira, o fundo perde dinheiro de alguma forma. Mas no longo prazo isso desaparece, uma vez que o fundo volta a ganhar com os dividendos de ações melhores”, diz Chaia.
A superintendente de fundos indexados da Asset do Itaú confirma o risco, mas completa com a compensação que ocorre dentro do índice. “Os investidores que deixam uma ação entram em outras empresas que também pagam bons dividendos, o que diminui o impacto dentro do índice”, explica Tatiana Grecco.
Para ela, quem já estava comprado em empresas do setor elétrico antes do anúncio do pacote do governo não deveria sair de sua posição, pois ainda há muita incerteza a respeito de como ficarão os contratos de concessão, as renovações e possíveis devoluções ao governo. “Melhor aguardar as negociações. As empresas também estão se movimentando para que as medidas não causem um impacto tão negativo”, diz.
Tatiana acredita ainda que o ETF DIVO11 é uma boa alternativa para quem quer se expor ao setor elétrico com menor risco, por causa da diversificação. Contudo, ela recomenda a aplicação apenas para quem tem visão de longo prazo, entre três e cinco anos pelo menos. “Essa carteira tende a se diferenciar sim, para formação de poupança, não só como carteira defensiva. Não gosto de oferecer essa estratégia para quem olha para o curto prazo, pois há efeitos cíclicos nesse índice também. Especialmente o investidor pessoa física acaba tomando decisões equivocadas ao tentar operar o timing da Bolsa”, explica.
Outra coisa que beneficia esse ETF no longo prazo é o fato de ele não distribuir dividendos, mas sim reinvesti-los, potencializando o desempenho. “Se o objetivo for receber dividendos em conta periodicamente, o investidor precisa procurar um fundo de dividendos convencional que tenha essa prática”, alerta Tatiana.