Dinheiro: se você ganhasse exatamente os juros que o banco cobra, chegar ao primeiro milhão seria fichinha (Thinkstock/tiero)
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2016 às 07h04.
São Paulo – Com o endividamento atingindo 58,7% das famílias do país, é possível dizer que os brasileiros têm mantido uma relação bem íntima com os juros. Se você faz parte dessa estatística, tem usado o cheque especial quase como uma extensão da renda e já incorporou os empréstimos à sua rotina, que tal ver as coisas de uma outra perspectiva para sentir o tamanho do drama?
Para dar a real dimensão da exorbitância dos juros que os brasileiros têm pagado nas linhas de crédito mais populares do país, EXAME.com mostra a seguir em quanto tempo você chegaria ao primeiro milhão se ganhasse exatamente os mesmos juros que você costuma pagar aos bancos nesses empréstimos.
Para que a simulação retratasse fielmente a realidade, as taxas médias dos empréstimos foram retiradas da pesquisa mensal de juros do Banco Central e foi considerado um empréstimo de 3.422,29 reais, que é o valor médio da dívida do brasileiro, segundo dados do SPC Brasil.
Confira a seguir em quanto tempo uma dívida desse valor passaria a marca de 1 milhão de reais nos principais tipos de empréstimos do país.
Linha de crédito | Taxa média de juro ao ano // ao mês | Empréstimo de 3.422,29 reais em um ano | Empréstimo de 3.422,29 reais em dois anos | Em quanto tempo você seria um milionário |
---|---|---|---|---|
Cheque especial | 308,7% // 12,44%% | R$ 13.975,48 | R$ 57.071,19 | 4,08 anos |
Rotativo do cartão | 339,4%// 13,12% | R$ 15.024,14 | R$ 65.957,22 | 3,91 anos |
Crédito consignado | 43,9% // 3,07% | R$ 4.919,31 | R$ 7.071,17 | 15,66 anos |
Crédito pessoal | 130,8% // 7,21% | R$ 7.891,15 | R$ 18.195,50 | 6,83 anos |
*Fonte: EXAME.com e Banco Central. Cálculos realizados na ferramenta Calculadora do Cidadão, do Banco Central.
A simulação fala por si só, mas vale reforçar que não seria nada mal poder se tornar um milionário em apenas quatro anos. Pena que isso acontece apenas com os bancos, e não com seus clientes.
Para escancarar ainda mais o fato de que os juros que você paga são infinitamente maiores do que os juros que você recebe, veja a seguir quanto tempo você demoraria para chegar ao primeiro milhão com os mesmos 3.422,29 reais em alguns dos principais investimentos oferecidos pelos bancos hoje: a poupança e os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs).
Linha de crédito | Taxa média de juro ao ano // ao mês | Investimento de 3.422,29 reais em um ano | Investimento de 3.422,29 reais em dois anos | Em quanto tempo você seria um milionário |
---|---|---|---|---|
Poupança* | 8,36% // 0,67% | R$ 3.707,81 | R$ 4.017,15 | 70,91 anos |
CDB** | 10,52%// 0,83% | R$ 3.779,15 | R$ 4.173,22 | 57,25 anos |
*Foi considerara a remuneração da poupança no último ano, segundo a Calculadora do Cidadão do Banco Central.
**Foi considerado um CDB que pague 90% da taxa DI, remuneração normalmente oferecida em CDBs de bancos grandes.
Para repensar
Como pode ser observado nas simulações, os juros que o banco paga quando você empresta dinheiro a ele – por meio dos investimentos – são muito inferiores aos juros que ele te cobra quando é você quem está pedindo dinheiro emprestado.
Ao comparar os juros do empréstimo mais caro e do investimento menos rentável, a discrepância é gigantesca: enquanto no crédito rotativo 3.422,29 reais evoluem para 1 milhão de reais após 4,08 anos, na poupança, o mesmo só acontece depois de 70,91 anos.
A conclusão não causa grandes surpresas: o banco sempre ganha muito, mas muito mais do que você. Portanto, se você está pagando juros altíssimos em empréstimos, sendo que possui algum dinheiro investido na poupança, repense sua estratégia.
Como os juros que você ganha com a poupança são muito menores do que os juros que você paga no empréstimo, ao manter seu dinheiro investido em vez de usá-lo para pagar o empréstimo você não está fazendo nada mais nada menos do que contribuir para que o banco aumente seus lucros, já que você está pagando caro para usar o dinheiro do banco sendo que poderia usar seu próprio dinheiro.
Busque alternativas
Ainda que a comparação evidencie como os juros são caros no Brasil, infelizmente recorrer a um empréstimo em alguns casos não é uma opção, mas a única alternativa viável para conseguir fechar as contas no fim do mês.
De todo modo, antes de optar por um empréstimo, é essencial avaliar se seria possível resolver o problema de caixa organizando as finanças.
Existem alguns hábitos que você pode interromper para finalmente conseguir economizar dinheiro, tais como: dedicar mais tempo ao planejamento financeiro; evitar gastar para compensar frustrações; parar de subestimar pequenos gastos; evitar altos gastos fixos, como financiamentos; e conhecer dicas que podem te fazer economizar nas compras de supermercado. Veja a matéria completa com essas e outras dicas sobre como economizar dinheiro.
Pensar em formas de obter rendas extras (veja 20 opções); cortar gastos supérfluos (confira 5 gastos que podem ser limados sem grandes prejuízos); e seguir algumas dicas que podem te ajudar a parar de gastar dinheiro à toa, como não fazer compras imediatamente e contabilizar gastos parcelados como uma única parcela, também podem ajudar.
Se mesmo ao seguir todas as dicas possíveis para enxugar o orçamento e ampliar sua renda não for possível evitar o endividamento, busque mitigar os gastos com os juros dos empréstimos buscando as linhas de crédito mais baratas.
Entre as opções de empréstimo mais usuais, o crédito consignado é o que tem os menores custos hoje. Como as parcelas da dívida são descontadas da folha de pagamento, os bancos têm mais garantia de que não sofrerão calote e assim cobram juros menores.
Mas, existem também outras alternativas, como o crédito com garantia do carro e do imóvel (veja como funciona), que tem juros mais baixos, mas ao mesmo tempo envolve o risco de perda do bem (saiba mais sobre as opções de crédito que costumam ter juros mais baixos).
O importante, em todo caso, é fugir das linhas de crédito automáticas, como o cheque especial e o rotativo do cartão. No primeiro caso, basta seu saldo em conta ficar negativo para que você passe a pagar os (altíssimos) juros. Já no segundo, se você não pagar 100% da fatura do cartão de crédito, pagando apenas o valor mínimo ou um valor até maior, mas que ainda deixe parte da fatura para o mês seguinte, os juros também passam a rolar.