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É melhor investir em BDRs ou diretamente em ações no exterior?

Corretoras de baixo custo sediadas nos Estados Unidos vêm atraindo brasileiros. O que é melhor?

Valor de ações adquiridas de forma direta por brasileiros aumentou 84% de 2016 a 2019 (Daniel Barry/Getty Images)

Valor de ações adquiridas de forma direta por brasileiros aumentou 84% de 2016 a 2019 (Daniel Barry/Getty Images)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 11 de setembro de 2020 às 17h18.

Última atualização em 11 de setembro de 2020 às 19h07.

Recentemente, a B3 anunciou que, com o aval da CVM, vai passar a oferecer ações estrangeiras ao pequeno investidor por meio dos BDRs (recibos de ações). A mudança da regulação acontece em meio a um fenômeno: dados do BC mostram que a posição de brasileiros em ações adquiridas de forma direta lá fora aumentou 84% de 2016 a 2019, para 35,4 bilhões de reais.

Corretoras de baixo custo que operam no exterior, como a Avenue, sediada em Miami, mas que por um arranjo com a gestora Vitreo passou a poder distribuir seus serviços no Brasil, deram impulso ao investimento de pequenos investidores em outros países. O serviço da corretora chamou a atenção por ser especializado em aplicadores latinos, especialmente brasileiros, com página em português.

Além disso, a corretora desburocratizou o processo: a Avenue não exige a abertura de uma conta em um banco americano. O processo é feito na própria corretora, em alguns minutos: são necessários apenas um documento de identificação e um comprovante de residência. Além disso, a transferência de valores pode ser feita por meio de bancos brasileiros nos quais o investidor já tem conta. A corretora converte os valores da remessa online em dólares, por meio de um parceiro. Além disso, oferece consultoria tributária.

Outros nomes, como DriveWealth e Passfolio, que operam de forma semelhante, também entraram no rador dos investidores que buscam diversificação lá fora. Mas, diferentemente da Avenue, essas corretoras não têm acordo para distribuir produtos por aqui. Ou seja, não podem fazer esforço de divulgação para captar clientes no país, sob o risco de serem alertadas pela CVM. Foi o que aconteceu com a Passfolio em dezembro. 

O estagiário Lucas Rodrigues, de 18 anos, nem bem começou a investir e já aplica 10% de seu portfólio em ações no exterior. Ele tomou a decisão de começar a aplicar lá fora quando teve de encarar a queda de ações brasileiras no início da pandemia. “Pretendo ampliar a fatia de investimento no exterior para 20%. Minha estratégia é de longo prazo. É bacana se sentir um pouco dono da Apple. Também tenho papéis da Microsoft, Amazon e Facebook.”

Rodrigues pensou em investir em BDRs. Mas quando viu que os recibos eram inacessíveis, buscou informações sobre como investir de forma direta. Encontrou a Passfolio. Agora, com a abertura do mercado, cogita passar a investir em BDRs. “Vou conseguir gerenciar todos os meus investimentos em um lugar só”.

Qual tipo de aplicação é a mais vantajosa?

Mas afinal, o que é mais vantajoso para o investidor, investir diretamente em ações lá fora ou nos BDRs, que estarão disponíveis daqui a dois meses pela B3, por meio da abertura de conta e aplicação em corretoras nacionais?

A primeira questão que deve ser pesada é o preço da corretagem. Para encarar a potencial concorrência dos BDRs, a Avenue zerou há um mês sua taxa. Como os BDRs ainda não estão sendo comercializados, e a corretagem vai depender da política de cada corretora, não é possível compará-los. A expectativa é que o valor de corretagem, quando houver, seja semelhante ao preço cobrado por ações. Na Easynvest, por exemplo, há a cobrança de 2,50 reais por operação no mercado fracionário, e 4,99 reais no lote-padrão.

O segundo cálculo que deve ser feito é qual o spread da operação. A Avenue cobra de 1,5% a 2% para converter dólares em reais via remessa online, o que significa, em média, um custo de 0,70 real por operação. Nos BDRs, é mais difícil identificar esse custo, já que ele provavelmente estará embutido no preço.

Com relação a impostos, o advogado Roberto Justo, sócio do escritório Choaib, Paiva e Justo, aponta que, para o pequeno, não há praticamente diferença em investir lá fora de forma direta ou em BDRs. Enquanto lá fora há isenção de imposto para vendas de até 35.000 reais em um mês, no Brasil os BDRs têm o mesmo tratamento tributário de uma ação: isenção para vendas de até 20.000 reais em um mesmo mês.

Mas os BDRs oferecem uma desvantagem: geralmente quem importa o ativo cobra um pequeno pedágio sobre dividendos, equivalente a 0,5% do valor, diz Lee. “É um custo que, com o tempo, machuca o investidor”. Na remessa de valores para o exterior também há a cobrança de 0,38% de IOF.

Na Passfolio, Rodrigues paga 1% de spread no câmbio, IOF de 0,38%, 0,20% de taxa de intermediação e 0,5% de taxa de transferência.

Vantagens e desvantagens de investir lá fora

A diversificação da carteira de investimentos dos brasileiros em ativos diretamente no exterior exige saber administrar adequadamente a variação cambial, que, em caso de valorização do real, pode zerar os ganhos, por mais que a ação tenha subido no mercado de origem. Por isso, em momentos de fortes oscilações no câmbio, é recomendável que o investidor aplique em ativos do mercado externo aos poucos, para buscar uma cotação média. Por isso, é importante que o investidor saiba se está disposto a correr o risco do câmbio, diz Adriano Cantrevas, gestor da Portofino.

O BDR de ações faz parte de uma gestão ativa de carteira, que busca bater um índice. Por causa dessa característica, o investidor que buscar companhias estrangeiras também tem de entender o modelo de negócios e os fatores de risco das companhias em que quiser aplicar. Resta, portanto, saber se a corretora, tanto nacional como sediada no exterior, oferece estrutura de análise para auxiliá-lo, ou se é mais fácil entregar a gestão dessas ações para um gestor profissional, por meio de um fundo de BDRs.

A tendência é que, além da compra direta dos BDRs também sejam criados mais veículos de investimento indiretos nos recibos de ações. A Franklin Templeton, por exemplo, pretende criar fundos que invistam 100% do patrimônio em BDRs, diz Marcus Vinicius Gonçalves, diretor presidente da gestora no Brasil. “Atualmente investimos em BDRs em pequenas porções e apenas em alguns fundos, pois faltam ativos. Estamos montando um com foco em inovação e outro em ESG.”

Se a opção for por uma gestão passiva, o investidor também pode optar por BDRs de índices internacionais, como o S&P500, listados na B3.

Por causa da variação cambial e dos custos, é prudente que a decisão de investir em BDRs ou em outros ativos no exterior seja adotada como estratégia de longo prazo de diversificação. A diversificação no exterior não deve ser encarada como uma maior aceitação de risco, e sim como uma proteção adicional. O investimento em economias e moedas diferentes cumpre o papel de reduzir a volatilidade de um portfólio ao registrar uma baixa correlação ou correlação negativa com ativos nacionais.

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