Minhas Finanças

Diárias de hotéis vão ficar mais caras

Preços subiram 10% mesmo em um ano de crise como 2009; falta de investimentos deve manter tarifas em escalada

Hotel Nacional, no Rio: comprado em leilão, empreendimento pode ser reaberto (.)

Hotel Nacional, no Rio: comprado em leilão, empreendimento pode ser reaberto (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - As diárias médias cobradas pelos hotéis brasileiros tiveram um reajuste de 10,4% no ano passado, para 181 reais. O aumento aconteceu apesar de a crise ter derrubado a taxa média de ocupação dos hotéis em 1,4 ponto percentual, para 63%. Com o pequeno número de novos projetos em andamento, a tendência é que os preços das diárias continuem nos próximos anos o movimento de escalada iniciado em 2005.

Essas são as principais conclusões do estudo "Hotelaria em Números - Brasil 2010", elaborado pela Jones Lang LaSalle Hotels, líder mundial em consultoria para investimentos em hotelaria. O levantamento, obtido por EXAME, mostra que a crise mundial causada pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos reduziu a ocupação dos hotéis brasileiros, mas um movimento de reversão começou a ser percebido no segundo semestre do ano passado. Em 2010, a tendência de crescimento se acentuou. Entre janeiro e maio, a receita por quarto dos hotéis brasileiros registrou um aumento de 15%, segundo o Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB).

A forte expansão está diretamente atrelada ao bom momento da economia brasileira. Governo e bancos de investimentos estimam que a expansão do PIB neste ano deva ficar próxima a 7%, uma das maiores das últimas décadas. Para que o aumento da demanda por quartos não gerasse pressão sobre os preços, seriam necessários volumosos investimentos.

Mas não é isso que se vê no setor. Existem atualmente 153 projetos hoteleiros em construção ou em fase adiantada de planejamento no Brasil. São no total 24.147 novos apartamentos a serem colocados à disposição dos hóspedes nos próximos anos, o que representa um acréscimo de apenas 5,5% à rede hoteleira já instalada no país. "O crescimento dos índices de ocupação e da diária média, a melhoria da economia e o baixo aumento da oferta hoteleira indicam uma tendência de expansão significativa da receita dos hotéis nos próximos três anos", diz Ricardo Mader, sócio da Jones Lang LaSalle.


Principal cidade de negócios da América Latina, São Paulo ilustra bem o cenário. É verdade que a cidade já possui alguns dos melhores hotéis do país (clique aqui e veja os principais empreendimentos). "Mas não há nenhum grande hotel em construção na capital paulista", diz Mader.

O único hotel de luxo que poderia aumentar as opções de hospedagem de alto padrão na cidade permanece com as obras paralisadas desde 2001. O Palácio Tangará nasceu do sonho do grupo Birmann de erguer o primeiro hotel seis estrelas de São Paulo. O empreendimento de 27.000 metros quadrados foi parcialmente construído ao lado do parque Burle Marx, no bairro do Panamby, na zona sul. As obras foram iniciadas ainda no fim da década de 90 e consumiram cerca de 40 milhões de dólares em investimentos. A incorporadora Gafisa foi contratada para construir o esqueleto do prédio e entregou 70% da obra.

No entanto, o contrato para a conclusão do empreendimento não foi renovado por desentendimentos entre os sócios. A construtora Birmann é dona de 51% do empreendimento e a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) controla os outros 49%. Quando o grupo Birmann entrou em dificuldades financeiras, a Previ não quis tocar o projeto sozinho. Os sócios buscaram uma injeção de capital de uma terceira empresa. A rede canadense de hotéis Four Seasons estaria entre as que chegaram a negociar a compra do projeto. Neste ano, foi a vez do grupo espanhol OHL estudar um plano de concluir o empreendimento, mas o negócio também não prosperou (clique aqui e saiba mais).

Na capital fluminense, a situação é parecida. "Há pouco espaço para a construção de hotéis nos bairros mais atraentes do Rio", diz Mader. Os principais projetos em andamento são de reformas de hotéis que já existem - e não de novos empreendimentos. O mais ambicioso deles é o do empresário Eike Batista. O bilionário comprou o hotel Glória por 80 milhões de reais e iniciou sua reforma em outubro de 2008, uma obra que custará outros 120 milhões de reais. Ao final de 2011, quando o hotel for reaberto com o nome de Glória Palace, deverá ser um dos mais luxuosos da cidade. O número de apartamentos e suítes, no entanto, vai cair de 621 para 231. 


Outro antigo ícone carioca que pode ser reaberto é o hotel Nacional. Localizado em São Conrado, o prédio foi construído na década de 70 e abrigava 510 apartamentos. Na década de 90, o hotel entrou em decadência, fechou e permanece abandonado há 15 anos. No final de 2009, o hotel, em liquidação extrajudicial, foi arrematado em leilão pelo empresário Marcelo Gonçalves, ex-sócio do laboratório farmacêutico Neo Química. Ele pagou 85 milhões de reais e pode reabri-lo, mas dois problemas precisam ser equacionados. O prédio projetado por Oscar Niemeyer com jardins de Burle Marx foi tombado pelo Conselho Municipal de Proteção Ambiental da Secretaria da Cultura. Logo, eventuais reformas terão de preservar boa parte da atual estrutura e a fachada. O segundo problema é a localização do hotel, muito próximo à favela da Rocinha, uma das maiores do país.

Um terceiro grande hotel em reforma no Rio de Janeiro é o antigo Le Méridien, em Copacabana. O espanhol José Oreiro Campos, dono da rede Windsor, a maior do Rio, comprou o prédio de 38 andares e iniciou um grande reforma. Quando for inaugurado, possivelmente no final deste ano, passará a se chamar Windsor Atlântica, terá 540 apartamentos e duas suítes presidenciais. Também contará com estrutura para eventos de até 1.500 pessoas. A rede Windsor também planeja começar a construir em 2011 um grande hotel na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.

Outros empreendedores, como a rede francesa Accor e o Banco Espírito Santo, veem a Barra como um possível local para a expansão hoteleira, mas há dois problemas. Boa parte dos terrenos disponíveis ainda não conta com licença ambiental para a construção de hotéis. Além disso, os terrenos precisam ser disputados com incorporadoras interessadas em abrir prédios residenciais, torres de escritórios comerciais e até shopping centers. "Na Barra, existe a concorrência de todo o mercado imobiliário ", diz Mader. "Acredito que um bom espaço para o desenvolvimento de projetos hoteleiros no Rio será aberto com a revitalização da região portuária."

Para atrair empreendedores, o BNDES lançou um linha de crédito de 1 bilhão de reais destinada a financiar a construção e a reforma de hotéis que possam ajudar a receber os turistas que virão ao Brasil para a Copa e a Olimpíada. Com juros anuais máximos de 8,8% e prazos de pagamento de até 18 anos, a linha atraiu o interesse do setor hoteleiro, que já apresentou projetos cujo valor está próximo ao total disponibilizado pelo governo. Até o momento, no entanto, nenhum deles foi aprovado pelo banco. Com isso, os preparativos para a Copa começam a ficar com o cronograma apertado. "Como o desenvolvimento de um projeto hoteleiro leva cerca de três anos, há pouco tempo para que novos empreendimentos sejam anunciados", diz Mader.

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