Bets: cresce o número de pessoas endividadas que apostam (Hirurg/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 21 de maio de 2025 às 15h48.
As bets, palco de uma CPI e discussões financeiras, ainda seguem sendo um problema para o bolso do brasileiro – e isso pode ser visto em dados. Um levantamento da fintech de inteligência de dados Klavi mostrou que o número de pessoas endividadas que apostaram em 2024 aumentou.
No entanto, os ganhos com as casas de apostas ainda são minoria entre quem joga. Em 12 meses até outubro de 2024, 29% das 400 mil pessoas analisadas apostaram. Já os que ganharam algum valor foram apenas 8%.
Cada pessoa endividada fez 2,8 transações no mês.
Para Bruno Chan, CEO e cofundador da Klavi, o movimento reforça uma realidade conhecida: as casas de apostas são projetadas para serem lucrativas, e não para distribuir ganhos com regularidade.
“Embora alguns apostadores ganhem pontualmente, a lógica algorítmica dos jogos, as probabilidades e os incentivos para reinvestir os ganhos tornam a perda o cenário mais provável para a maioria”, pontua.
Essa assimetria entre expectativa e realidade, segundo ele, é um dos principais perigos do vício em apostas.
No intervalo analisado, houve um aumento de 4% para 10,6% no número de endividados que apostam, um crescimento de 6,6 pontos percentuais (p.p.).
Esse crescimento pode ser atribuído a uma combinação de fatores, como explica Chan. Um dos principais é o forte apelo das propagandas de casas de apostas, muitas delas com presença massiva em eventos esportivos e redes sociais.
“Essas campanhas costumam associar as apostas a ganhos fáceis, emoção e status, o que pode atrair especialmente pessoas em situação financeira vulnerável”, afirma.
Para quem já está endividado, segundo ele, apostar pode parecer uma "saída rápida" para resolver problemas financeiros. Mas, na prática, é um agravante da situação. A baixa educação financeira entre a população também entra na equação do problema.
O estudo utiliza uma base de pessoas conectadas à Fintech via Open Finance, que em novembro do ano passado era de 1,6 milhões de pessoas.
Dentre esse número, 406.330 estavam com histórico de endividamento recente no mesmo mês.
Este último número que foi considerado para a pesquisa e, a partir dele, foram analisadas as movimentações nas contas bancárias, ou seja, quem estava transferindo dinheiro para as bets. A maioria dessas pessoas eram mulheres, do Sudeste, da classe C, entre 35 e 54 anos.
Foram consideradas na base de dados tanto pessoas que recentemente haviam quitado suas dívidas quanto aqueles com dívida em aberto.
Dentre as pessoas endividadas, 88,7% estavam com a dívida em aberto quando apostaram, enquanto 11,3% já haviam quitado. E o estudo mostrou que mesmo pessoas que conseguiram pagar suas contas ainda estavam apostando.
De acordo com Chan, esse comportamento mostra que o problema não é só financeiro, mas também comportamental e psicológico.
“Mesmo após quitar as dívidas, continuar apostando pode indicar um padrão de dependência, no qual o ato de apostar está associado a impulsos emocionais, como ansiedade, busca por adrenalina ou fuga da realidade”, afirma.
E o pior pode acontecer: quem quitou suas dívidas pode retornar rapidamente ao ciclo de endividamento, especialmente se enfrentarem novos desafios financeiros.
Os números mostram que o grupo de pessoas que quitaram suas dívidas recentemente tem um comportamento mais controlado em relação ao grupo com dívida aberta.
Em março de 2024, 3,5% das pessoas com dívidas quitadas apostaram. Em novembro do mesmo ano, esse número saltou para 6,8%.