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Cresce a procura por seguros que cobrem diagnóstico de câncer

Prêmio total nos seguros de doenças graves ou terminais em 2017 cresceu quase 10% sobre 2016 e a tendência continua sendo de alta. Entenda o produto

Mulher em tratamento de câncer (Peathegee Inc/Getty Images)

Mulher em tratamento de câncer (Peathegee Inc/Getty Images)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 30 de outubro de 2018 às 16h30.

Última atualização em 31 de outubro de 2018 às 10h27.

São Paulo — A analista contábil Rosângela Albernaz, 50 anos, sempre foi precavida. Além de ter seguro para o carro e o imóvel, também contratou um seguro de vida através da empresa em que trabalha. Mas, quando o corretor ofereceu uma segunda apólice de proteção pessoal, ela hesitou.

“Eu disse para ele que eu já tinha o seguro da empresa e, por isso, não fazia sentido contratar uma nova proteção”, conta. “Ele me explicou que a nova apólice era diferente, era um seguro contra câncer, que não cobria só morte, mas vida também.” Pensando na filha de cinco anos, ela contratou o serviço.

Um ano e dois meses depois, veio o diagnóstico: câncer na tireóide. “Fiz a biópsia e deu tumor malígno. Foi surpresa até para o médico. Decidimos fazer a cirurgia para retirar o tumor, que já estava se espalhando para o meu tórax”, diz. Ela tinha plano de saúde, mas que não cobria o serviço. Foi quando ela se lembrou da proteção extra que tinha contratado.

“Dei entrada nos papéis e recebi a indenização em dez dias. A cirurgia deu certo, mas ainda estou em tratamento, seguindo o protocolo de acompanhamento de cinco anos. Paguei o cirurgião sem precisar de empréstimo ou outro tipo de ajuda. Foi um alívio, já que meu marido estava desempregado. Também paguei a dívida da escola da minha filha. Ajudou no nosso sustento. Veio no momento que eu precisava. É um dinheiro que eu não contava.”

A analista contábil Rosângela Albernaz, 50, contratou um seguro contra câncer pensando na filha

A analista contábil Rosângela Albernaz, 50, contratou um seguro contra câncer pensando na filha (Arquivo pessoal/Divulgação)

Assim como Rosângela, cada vez mais pessoas contratam seguros que cobrem o diagnóstico de câncer e outras doenças graves no Brasil. Segundo a Susep (Superintendência de Seguros Privados, órgão regulador do setor), o prêmio total nos seguros de doenças graves ou terminais em 2017 foi de 765,8 milhões de reais —crescimento de 9,66% sobre 2016. De janeiro a agosto deste ano, o valor já era de 571,9 milhões de reais, alta de 12,5% sobre o mesmo período do ano passado.

“É uma tendência que veio para ficar. O crescimento é alto, mas a penetração desse produto no Brasil ainda é baixa”, diz Luciano Snel, vice-presidente da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) e presidente da Icatu Seguros. Os seguros de doenças graves ou terminais representam pouco mais de 2% do mercado total de seguros de pessoas no país (24,8 bilhões de reais até agosto). “O aumento da expectativa de vida tem colaborado bastante. As pessoas estão vivendo mais e todo mundo está sujeito a uma doença inesperada.”

As seguradoras brasileiras lançaram esse tipo de seguro há 18 anos, mas, segundo o vice-presidente da FenaPrevi, “o produto ainda leva um tempo para ganhar popularidade. Demora para os clientes entenderem do que se trata”. O aumento no número de casos de câncer no Brasil, seguindo uma tendência mundial, deve ajudar a tornar o produto mais popular com o tempo.

Um estudo da Agência para a Pesquisa do Câncer, entidade ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em setembro, mostrou que 18,1 milhões de novos casos de câncer serão registrados em 2018 no mundo, com um total de 9,6 milhões de mortes. Se nada for feito, segundo o órgão, as incidências vão atingir 29,4 milhões de novos casos em 2040 —crescimento de 63% nos próximos 20 anos. Já a mortalidade deve subir para 16,3 milhões até lá.

Ainda de acordo com o estudo, serão os países emergentes que mais terão aumento de casos de câncer, com um avanço expressivo de 62% até 2040 e um total de 10 milhões de novos diagnósticos da doença. O Brasil deve registrar ao todo 559 mil novos casos de câncer em 2018, com 243 mil mortes. Até 2040, a entidade estima que a doença pode sofrer um aumento de 78,5% no país, um dos maiores saltos entre as principais economias do mundo. Isso significa que 998 mil novos diagnósticos de câncer serão registrados por aqui no período.

Como funcionam os seguros contra câncer?

Diversas seguradoras oferecem proteção contra câncer e outras doenças graves. As características específicas dos produtos variam de seguradora para seguradora, mas, no geral, são seguros de vida que proporcionam uma indenização mediante diagnóstico da doença, que equivale a um percentual do prêmio contratado em caso de morte. O uso da indenização por doença grave não anula a validade do seguro de vida —ou seja, se ocorrer a morte do segurado durante a vigência do contrato, mesmo que a indenização por doença já tenha sido paga, os beneficiários receberão uma nova indenização.

Em comum, os produtos de todas as seguradoras preveem que o segurado não esteja previamente diagnosticado com a doença antes da contratação do seguro. É o próprio segurado que atesta isso ao adquirir o serviço e as seguradoras só vão investigar a veracidade da informação prestada em caso de abertura de sinistro. Também é comum que as seguradoras estabeleçam um período de carência para a solicitação de indenizações, que varia de empresa para empresa —a prática é idêntica a dos planos de saúde.

A Bradesco Seguros oferece dois tipos de proteção para o diagnóstico de câncer: o Vida Máxima Mulher, que é direcionado ao público feminino e prevê indenização em caso de diagnóstico de câncer de mama ou ginecológico, e o Vida VIP, que pode ser contratado por qualquer pessoa e prevê indenização em caso de diagnóstico de câncer de qualquer tipo, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e infarto.

“No mercado internacional, a cobertura de doenças graves não é mais tendência. Já é consagrada. Aqui no Brasil, tem ganhado relevância nos últimos três anos”, diz Claudio Leão, diretor da Bradesco Vida e Previdência. No seguro exclusivo para mulheres, a cobertura mínima é de 30 mil reais e máxima de 900 mil reais. Já no VIP, vai de 500 mil a 5 milhões. Os preços variam de acordo com o tamanho da cobertura e a idade do segurado. A Bradesco Seguros detém 19% do mercado de seguros de pessoas no país. A indenização em caso de diagnóstico da doença é sempre de 10% do valor da cobertura, em ambos os produtos.

“Esses dois produtos existem há pelo menos 10 anos, mas ainda têm uma representatividade baixa dentro da nossa carteira de seguros de pessoas, apesar de estar crescendo ano após ano”, diz Leão. Em 2018, o prêmio dos seguros Vida Máxima Mulher e Vida VIP somou 7 milhões de reais. O volume total de prêmio em seguros de pessoas na empresa é de 4,75 bilhões de reais.

Segundo Leão, a Bradesco deve lançar no início de 2019 uma nova modalidade de seguros de pessoas com foco em doenças graves. “Hoje, os seguros que temos que cobrem câncer, por exemplo, são contratados por ‘pacotes’. No ano que vem, o segurado vai poder escolher exatamente quais os serviços que estarão incluídos em sua cobertura. Nos espelhamos no modelo do mercado inglês, já que o Reino Unido tem uma estrutura de seguros bastante desenvolvida.”

O executivo aposta nos planos corporativos para tornar os produtos mais populares. “Os planos corporativos são os principais interessados na proteção para câncer hoje em dia e isso deve continuar. As empresas buscam agregar valor aos seus times.”

Na Porto Seguro, todos os seguros de vida individuais podem ter cobertura para qualquer tipo de câncer, se o cliente contratar esse serviço. Além disso, a seguradora tem um produto específico que batiza de Vida Mais Mulher, que também cobre qualquer câncer, mas tem esse nome para chamar a atenção das mulheres para o câncer de mama.

Quando o segurado recebe o diagnóstico, independentemente do nível da doença, recebe a indenização e pode usar o dinheiro para o que quiser. Pode usar, por exemplo, para complementar o tratamento coberto pelo plano de saúde, contratar enfermeira, melhorar a infraestrutura em casa ou viajar. A indenização em caso de diagnóstico de câncer equivale a 50% da indenização contratada para caso de morte.

Em média, o seguro custa 150 reais por mês para uma mulher de 40 anos, para um valor de cobertura de 200 mil reais. Ou seja, se tiver câncer, a segurada recebe 100 mil reais. Em caso de óbito, seu beneficiário recebe mais 200 mil reais.

“Há uma crescente conscientização entre as mulheres sobre a importância de se proteger contra o câncer. Há dois momentos do ano em que vemos a procura pelo nosso seguro aumentar muito: No Dia da Mulher, em março, e no Outubro Rosa”, diz Fernanda Pasquarelli, Diretora da Porto Seguro Vida, Previdência e Investimentos.

Nos últimos 3 anos, as contratações do produto Vida Mais Mulher Porto Seguro vêm crescendo a uma média de 27% em número de clientes. Em outubro, por causa da Campanha Outubro Rosa, as contratações chegam a aumentar 40% em relação ao mês anterior.

“O mercado de vida como um todo têm crescido bastante. Por causa do envelhecimento da população, as doenças têm crescido. Uma em cada três pessoas vai ter uma doença grave na vida. Precisamos comprar uma proteção para isso. É inerente ao aspecto demográfico. A população vive mais e sofre mais de doenças do envelhecimento. As mulheres têm filhos mais tarde e precisam proteger sua renda e a renda de seus filhos, que ainda vão ser muito novos quando elas envelhecerem. Uma mulher que engravida aos 40 anos terá 70 anos quando seu filho tiver 30 anos e estiver recém começando a construir patrimônio”, diz Fernanda.

Outra seguradora que também viu o interesse pela proteção contra câncer aumentar foi a Tokio Marine. Até meados de 2017, a empresa só vendia esse tipo de cobertura em planos corporativos, mas passou a oferecê-lo a pessoas físicas avulsas no ano passado. “Tínhamos a expectativa de vender 4 milhões de reais, e fechamos 2017 com 7 milhões de reais. Este ano, queremos chegar a 15 milhões de reais. E em 2020, em 50 milhões de reais”, diz Marcos Kobayashi, Superintendente Comercial Nacional Vida da Tokio Marine. A seguradora pretende chegar em 2020 com 60 mil segurados.

“Todo esse crescimento é fruto da conscientização da população. Além disso, o medo de ter câncer impulsiona as vendas. Todo mundo conhece alguém que já teve a doença. Falamos muito sobre isso”, completa o executivo. Na Tokio Marine, a indenização em caso de diagnóstico de câncer equivale a 50% da cobertura contratada para o caso de morte, limitada a 200 mil reais para o diagnóstico.

A Caixa Seguros também possui um produto específico para as mulheres, o Vida Mulher, que cobre diagnóstico maligno de câncer de mama, ovário e útero, além da cobertura básica de morte. A indenização é de 50% do valor da cobertura básica de morte, limitada a 50 mil reais, independentemente do grau da doença.

Uma particularidade do seguro da Caixa é que, quando a segurada recebe a indenização, pode ficar dois anos sem pagar o prêmio, mas continua coberta para morte. “Focamos no produto feminino, mas temos produtos para outros cânceres. E, ano que vem, teremos seguro para todos os tipos de câncer”, diz Castelano Santos, gerente de seguros de vida da Caixa Seguros. Segundo ele, as contratações do Vida Mulher cresceram cerca de 20% de 2017 até agora.

Vale a pena contratar um seguro contra câncer?

Especialistas consultados pelo site EXAME são categóricos ao afirmar que já passou da hora de as pessoas pensarem no seguro de vida como um item básico do planejamento financeiro. Se a cobertura também abranger o diagnóstico de câncer e outras doenças graves, melhor ainda, já que a população está cada vez mais velha e a probabilidade de você ter um problema de saúde no futuro é cada vez maior.

Um dos mitos que mais afastam o interesse pelo produto costuma ser o preço. Muitas pessoas não veem problema em gastar 2 mil reais no seguro de um automóvel por ano, mas não gastam 10% desse valor em uma proteção para si próprio e para sua família. “As pessoas estimam que preço de seguro de vida é três a quatro vezes maior do que realmente é”, afirma Snel, da FenaPrevi.

Já quando decidem contratar um seguro, a maior dificuldade das pessoas é com a escolha do tamanho da cobertura. Não existe uma fórmula para fazer essa conta. Comece calculando todos os gastos que você tem na vida e quanto eles custam por mês, para manter todas as pessoas que dependem de você financeiramente. Lembre-se de que, no caso do seguro para câncer, a indenização pelo diagnóstico não é de 100% do valor da cobertura, então isso deve ser levado em consideração na hora da escolha.

Em seguida, estime por quanto tempo sua família precisaria desse dinheiro para se manter sem você, até se reestruturar. Se não tem tanto dinheiro assim para bancar um seguro com uma indenização tão alta, invista em um produto que pague, pelo menos, um ano de despesas. Lembre-se de incluir na conta sua renda investida em aplicações financeiras, se tiver, e suas dívidas que ficarão para a sua família pagar. Se achar muito difícil fazer essa conta sozinho, o corretor de seguros ou um planejador financeiro podem ajudar.

Faça uma revisão a cada cinco anos para entender se a cobertura contratada continua adequada para a sua necessidade. O tamanho da indenização que você precisa pode aumentar ou diminuir com o tempo, conforme o que acontecer na sua vida. Quando os seus filhos se tornarem independentes financeiramente, por exemplo, você poderá pagar um seguro mais barato, com uma indenização menor.

Que cuidados é preciso ter ao contratar um seguro?

É importante que você saiba exatamente que pacote de coberturas está contratando, pois eles podem ser muito diferentes um do outro. Converse com um corretor de seguros, alguém que possa auxiliar você a entender o que precisa. O corretor de seguros apresentará a você produtos de diferentes seguradoras.

Essa pesquisa de mercado é essencial para comparar preços e coberturas. No contrato, observe as exclusões, que são todos aqueles riscos que não serão cobertos pelo seguro que você escolheu. Algumas apólices possuem carência, um período em que não se pode usar o seguro, mesmo estando em dia com o pagamento.

Ao preencher o documento com todas as informações sobre a sua condição de saúde, seja o mais sincero possível, mesmo que corra o risco do seu seguro ficar mais caro. Em caso de má-fé, a seguradora pode recusar o pagamento da indenização.

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