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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A Global Brasil, empresa formada por credores da Fazenda Reunidas Boi Gordo (FRBGSA), dá mais um passo rumo ao mercado de capitais. A empresa deu entrada no pedido de oferta pública de ações, na regional de São Paulo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os fundadores da empresa propõem a troca de Contratos de Investimento Coletivo (CICs) da Boi Gordo por ações da Global. A operação visa atrair o maior número possível de detentores de Cics para transformar a Global no maior credor da Boi Gordo. Nessa condição, a Global teria mais poder de fogo para reaver o dinheiro perdido em operações realizadas com a Boi Gordo.
Em outubro de 2001, a Boi Gordo entrou para história como a empresa que teve a maior concordata do Brasil. Deixou de pagar, em valores da época, 800 milhões de reais em CICs para 28 mil investidores. A dívida está avaliada hoje em 1,2 bilhão de reais. Os credores sozinhos ou reunidos em associações passaram os últimos anos buscando alternativas legais para recuperar o dinheiro. A Global Brasil é uma dessas iniciativas mas com o caráter diferenciado de tentar uma solução no mercado acionário.
Não tem sido fácil. A Global tenta emitir ações há mais de um ano. Na primeira operação, a empresa era uma sociedade anônima de capital fechado e recebeu sinal vermelho da CVC. Os técnicos do órgão entenderam que a empresa deveria abrir seu capital para fazer a emissão e a troca por CICs. O registro de companhia de capital aberto foi conseguido em maio deste ano, e só agora a Global está estruturada para reivindicar a emissão de ações.
A Global foi projetada pela Rosenberg & Associados, consultoria financeira da área de fusões e aquisições. O sócio diretor da empresa é o economista Luís Paulo Rosenberg, um dos pais do Plano Cruzado. Rosenberg acredita que a Global conseguirá reunir pequenos e grandes credores e representar entre 600 milhões e 800 milhões de reais do total da dívida dos CICs. A Global, então, se tornaria o maior credor e teria força para negociar com a concordatária. Nós sabemos que o mais complicado será convencer os credores, que ficaram desnorteados com as perdas , diz Rosenberg, Mas oferecemos um processo transparente e confiável. O primeiro passo é atrair grandes credores. Cerca de 75% da dívida da Boi Gordo estão em poder de 7 mil dos 28 mil investidores em CICs. Estima-se que 95% dos credores da Boi Gordo tenham aplicações nesses papéis.
Troca de CICs
Pela proposta da Global, um credor da Boi Gordo pode trocar CICs por ações preferenciais com direito a voto (isso mesmo, ações que têm preferência em receber dividendos, mas que também dão direito a voto). Na operação, o novo acionista deve também desembolsar o equivalente a 2,5% do valor nominal de seus CICs como aporte para manter as operações da Global e os custos judiciais. O acionista receberá em troca do aporte outro lote de ações, dessa vez ordinárias (com direito a voto).
A troca de CICs não é definitiva. Elas ficarão sob a custódia do Banco Itaú e poderão ser retomadas se a Global não conseguir seu objetivo final: receber os 300 mil hectares de terra de propriedade da Boi Gordo, a maioria em áreas supervalorizadas no estado do Mato Grosso.
Os advogados da Global tentarão evitar ao máximo o pedido de falência, que tende a ser arrastar por anos e terminar em perdas para os investidores. Se a empresa conseguir as terras, os credores passaram então a outra etapa: decidir o que fazer com o espólio. Podemos vender e dividir o dinheiro , diz Rosenberg. Mas há outras opções a serem avaliadas futuramente, como a utilizar a Global para gerenciar novos negócios. A operação conta com auditoria fiscal e contábil da Deloitte & Touche, que nos próximos meses vai levantar o valor das terras. A distribuição dos papéis ficará por conta da São Paulo Corretora de Valores. A Global tem ainda consultoria do professor Cláudio Haddad, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) de Piracicaba.
A Global foi fundada por 30 credores da Boi Gordo e reúne hoje cerca de 700 investidores. O grupo detém 55 milhões de reais em dívidas da Boi Gordo. Entre os dirigentes da empresa está o engenheiro Francisco Tatit, membro do conselho de administração, um funcionário de carreira da Sabesp. Tatit aplicou um milhão de reais em CICs da Boi Gordo e vê na empresa a única alternativa para recuperar tanto que desembolsou 25 000 para capitalizar a Global. Outro integrante é o advogado Marcos de Abreu Pereira, ex-corretor da Boi Gordo, que investiu 300 mil reais em CICs. Pereira é diretor superintendente da Global. Eu levei muita gente para a Boi Gordo e cometi a estupidez de colocar todas as minhas economias em CICs , diz Pereira. Tenho o compromisso social de apresentar uma solução coletiva.