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Crédito para pessoa física avança 16%, mas efeito no consumo é limitado

Analistas concordam que a greve dos caminhoneiros, que parou o país em maio, foi um marco da reversão de expectativas

Concessão de crédito para pessoas físicas cresceu 16% no segundo trimestre, em relação ao mesmo período de 2017 (Gabriel Queiroz/Thinkstock)

Concessão de crédito para pessoas físicas cresceu 16% no segundo trimestre, em relação ao mesmo período de 2017 (Gabriel Queiroz/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de agosto de 2018 às 11h23.

A concessão de crédito para pessoas físicas cresceu 16% no segundo trimestre, em relação ao mesmo período de 2017, e somou R$ 72 bilhões, excluindo o cheque especial. Ao mesmo tempo que a tomada de recursos livres aponta que o brasileiro vê uma luz no fim do túnel da recessão, a retomada lenta mostra que o efeito do crédito no consumo é limitado, segundo analistas ouvidos pelo Estado.

"O crédito para pessoa física vem de uma base muito baixa dos anos de crise, mas, em geral, vem subindo desde o último trimestre do ano passado. Teve um pequeno tropeço, mas o nível de concessões é outro", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, que representa as instituições de crédito.

No segmento de pessoa física, a carteira do Banco do Brasil teve incremento de 2,2% tanto no segundo trimestre ante o primeiro como em um ano. No Bradesco, esse aumento foi de mais de 6%. No Itaú Unibanco, de 10,2%. Já a carteira de crédito de pessoa física do gaúcho Banrisul cresceu 15,4% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

Nos anos de recessão, diz Tingas, foi o consumidor quem segurou o mercado de crédito. Endividadas, ociosas e sem razão para investir, as empresas frearam a tomada de recursos. No primeiro semestre, os dados de pessoas jurídicas ainda são piores que os de pessoas físicas. Em 12 meses, o total de crédito tomado para capital de giro caiu 9,3%, segundo o Banco Central.

Os analistas ouvidos pelo Estado concordam que a greve dos caminhoneiros, que parou o país em maio, foi um marco da reversão de expectativas. Em abril, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, chegou a prever que o País cresceria 3% este ano. No último boletim Focus, também do Banco Central, a expectativa do mercado é que o Brasil cresça 1,49%.

"A greve renovou a preocupação fiscal, abalou a confiança e levou a uma revisão de expectativas. Se ela não tivesse acontecido, seria nítido que o segundo semestre seria melhor do que foi o primeiro", diz Tingas.

Ainda preocupado

Um indicativo de que a preocupação do consumidor passou a pesar mais depois de maio é que a única modalidade de crédito para pessoa física que cresceu em junho, em relação ao mês anterior, foi o consignado concedido a aposentados do INSS - uma das modalidades em que a garantia de pagamento faz com que os juros para o consumidor sejam mais em conta.

Enquanto a média de juros ao ano para o crédito consignado era de 25% em junho, no crédito não consignado era de 114,7% e de 304,9% no cheque especial.

A bancária aposentada Míriam Costa, de 68 anos, está no terceiro crédito consignado em dois anos. Em 2017, quando o desemprego atingiu um pico, a empresa de seguros em que seu filho mais velho trabalhava dispensou metade dos funcionários. "Ele voltou a morar comigo, trouxe os filhos e o orçamento apertou. Entrei no consignado para ajudar a pagar a dívida do cheque especial dele."

No primeiro semestre, as maiores altas de concessão de crédito foram justamente para consignados a servidores públicos (23,2%) e trabalhadores do setor privado (23,4%). Para os aposentados, a alta foi de 15%.

Os dados de crédito do começo do ano não trazem um resultado excepcionalmente forte, mas devem garantir um crescimento melhor este ano do que o do ano passado, analisa o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Ele destaca o crédito para compra de veículos, que foi 22,5% maior no acumulado de 12 meses até junho.

O segmento de automóveis é um exemplo concreto da melhora do crédito para pessoa física. "Os números deste ano são melhores, dando a impressão de que o consumidor, apesar de retraído, percebe uma luz de recuperação da economia no fim do túnel", analisa Vale.

Ele lembra que a saída da crise tem de ser uma união entre consumo e investimento por parte das empresas. "O investimento tende a crescer de maneira lenta, com a capacidade ociosa das empresas elevada. É natural que o empresário seja mais cauteloso que o consumidor." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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