Energia elétrica: duas associações e nove empresas já deixaram de pagar taxa a Aneel, que deve ser bancada por consumidores ou pelo Tesouro. (Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2016 às 09h09.
Brasília - Distante do foco da crise política que abala o País, o setor elétrico volta a produzir uma bomba jurídica e financeira.
O imbróglio, que já começou a recair sobre os ombros do consumidor - e que pode estourar nas contas de luz deste ano -, atinge um custo de R$ 6 bilhões.
A confusão envolve mais uma vez a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial que banca subsídios do setor elétrico.
Nos últimos dias, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi alvo de uma série de decisões judiciais obtidas por empresas que, por meio dessas liminares, conseguiram travar, nos tribunais, a exigência de pagamento desse encargo.
Quem abriu a trilha para suspender a cobrança da CDE foi a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), que representa 50 companhias eletrointensivas.
A Aneel informou que, além da liminar da Abrace, a Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace) e nove empresas já conseguiram também barrar o pagamento da taxa.
Outras seis companhias aguardam a decisão sobre mandados de segurança impetrados na Justiça para suspender a cobrança.
Nas contas da Abrace, cerca de R$ 6 bilhões deverão ser alvo de contestação judicial somente este ano. É praticamente metade do que os consumidores de energia de todo o País têm previsão de pagar ao longo de 2016.
Como essa conta da CDE tem um orçamento anual pré-definido, se algum agente deixa de participar do rateio, a conta sobra para o consumidor doméstico, a não ser que o Tesouro Nacional assuma a despesa.
A suspensão de pagamento teve início em julho do ano passado. Com decisões na Justiça que apontaram uma série de custos irregulares embutidos no fundo setorial, a Abrace conseguiu uma liminar que eximiu seus clientes de pagar, em 2015, cerca de R$ 1,6 bilhão.
Os problemas que levaram à suspensão do pagamento incluem desde falhas como cobrança em duplicidade para bancar combustíveis de usinas térmicas em áreas isoladas do País, até compra de gás em quantidade superior à que seria efetivamente utilizada, além de uso de recursos para obras do gasoduto Coari-Manaus, paralisado por causa de uma série de irregularidades apontadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Neste ano, segundo Paulo Pedrosa, presidente executivo da Abrace, os consumidores de todo o País serão responsáveis pelo pagamento de mais de R$ 12 bilhões em despesas do fundo. "É incrível como o setor elétrico tem a capacidade de passar custos indevidos ao consumidor."
Nas discussões sobre o orçamento da CDE, a Abrace convenceu a Aneel de que o fundo tinha embutido uma cobrança em duplicidade de custos da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC).
A agência reconheceu o erro de metodologia e cortou a cobrança em R$ 1,6 bilhão, reduzindo esse custo da conta de luz dos consumidores do País.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.