Dólar: Diretor da corretora NGO diz que o ideal é comprar a moeda o quanto antes (ThinkStock/Hynci)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2015 às 17h40.
São Paulo - Nesta quarta-feira (16) o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, pode elevar a taxa de juros básica da economia norte-americana pela primeira vez desde 2006. Se essa alta, esperada por boa parte do mercado americano, se concretizar, existe uma possibilidade de desvalorização do real frente ao dólar?
Para Sidney Nehme, diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, como a possível alta dos juros americanos já é esperada, ela não deve gerar oscilações na cotação do dólar aqui. "A elevação da taxa pelo FED deve ser gradual e também não é nenhuma surpresa, por isso não deve impactar tanto no câmbio", diz.
No entanto, ele acredita que o dólar tende a subir nas próximas semanas principalmente por causa da expectativa de rebaixamento da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco Moody's e Fitch, o que pode ocorrer em janeiro.
"Para alguém que vai viajar em breve, o ideal é comprar o dólar o quanto antes. A moeda já subiu um pouco, mas ainda está em um bom preço tendo em vista que o viés é de alta", afirma Nehme.
De acordo com a Moody's, o Brasil é um dos países que corre mais riscos diante da possível elevação da taxa de juro nos Estados Unidos.
Segundo documento divulgado pela agência, países emergentes, entre eles o Brasil, devem sofrer volatilidade nos fluxos internacionais de capital. Em outras palavras, isso significa que pode haver uma saída de capital estrangeiro do país. Assim, com menos dólares circulando na economia brasileira a oferta da moeda fica menor e ela tende a subir.
A decisão do FED deve ser divulgada nesta quarta-feira à tarde, ao final da reunião de dois dias realizada pelo banco central norte-americano. A Moody's destaca ainda que a alta já é esperada, mas, mesmo assim, permanece um baixo risco de uma reação mais abrupta do mercado, o que pode gerar oscilações maiores na moeda.
Para o diretor da NGO, no entanto, esse risco de saída abrupta de capital não deve se concretizar. Em sua opinião, à essa altura, investidores estrangeiros que consideram migrar seus recursos para aproveitar maiores juros nos Estados Unidos já devem ter realizado esse movimento.
Além disso, ele acrescenta que o Banco Central do Brasil tem interferido no câmbio para impedir que o real se deprecie de maneira significativa, já que a valorização do dólar contribui para o aumento dos preços de produtos importados, atingindo a inflação em cheio. "Se os juros subirem nos Estados Unidos, o BC deve agir para coibir a alta do dólar e controlar a inflação", diz Nehme.
Dólar a 5 reais em 2016
Caso o país perca o grau de investimento - selo atribuído pelas agências de rating que atesta que o país é um bom pagador - seja por parte da Moody's ou da Fitch, aí sim a saída de capital pode ser forte e a moeda deve subir, na opinião de Nehme. "Se o
Brasil tiver o downgrade em janeiro, eu acredito que o dólar chega a 5 reais até o final de 2016."
Ele explica que diversos investidores estrangeiros e fundos de investimento internacionais que ainda estão aplicados no país podem sacar seus recursos caso as agências Fitch e Moody's sigam o movimento iniciado pela agência Standard & Poor's, que retirou o grau de investimento do Brasil em setembro.
Alguns fundos, segundo ele, definem em seus regulamentos que, a partir do momento em que mais de uma das três grandes agências de rating retira o grau de investimento do país, os recursos devem ser obrigatoriamente sacados do mercado em questão. Portanto, com o eventual rebaixamento do Brasil por mais uma das agências, a saída de capital é praticamente certa.
Além do rebaixamento da nota de crédito do Brasil, outros fatores, como os desdobramentos do processo de impeachment, também podem gerar aumento do risco do país, elevando a pressão sobre o dólar.
"Nossos fracos indicadores econômicos, o processo de impeachment e a divergência sobre o superávit de 2016 entre a Dilma e o Levy podem gerar estresses muito maiores do que o anúncio do FED", diz Sidney Nehme.
Até a publicação desta matéria, no dia 15 de dezembro, a cotação média do dólar turismo, segundo a Thomson Reuters, estava em 4,10 reais. Isso significa que nos últimos 12 meses, a moeda já acumula uma alta de 44,36%.