Homem com cédulas: recomendação é compras moedas aos poucos em um cenário de alta volatilidade e incertezas (DeanDrobot/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 3 de maio de 2018 às 16h36.
Última atualização em 3 de maio de 2018 às 17h07.
São Paulo - Quem tem viagem marcada para o exterior e precisa comprar dólares teve de enfrentar, na última semana, a angústia de ver a moeda americana registrar uma forte alta em relação ao real até atingir, nesta quarta-feira (2), um valor próximo a 3,55 reais —maior nível em dois anos.
Em corretoras de câmbio cadastradas no site comparador de preços de moedas MelhorCâmbio, cada dólar era vendido por a partir de 3,69 reais na tarde desta quinta-feira (3). Era possível fazer uma oferta às corretoras por, no mínimo, 3,66 reais por dólar, mas, como o próprio sistema sinalizava, as chances de a barganha dar certo eram quase nulas.
Buscando conter a rápida valorização do dólar em relação ao real, o Banco Central anunciou ontem à noite a rolagem de contratos de swap cambial (entenda o que é swap cambial e swap cambial reverso).
Mas, afinal, quem vai viajar para fora do país pode respirar aliviado após a intervenção do BC? É hora de comprar a moeda americana?
De acordo com especialistas ouvidos pelo site EXAME, mais do que nunca vale a recomendação conservadora de comprar a moeda aos poucos, de forma a garantir uma cotação média e diminuir prejuízos com eventuais oscilações. O ideal é que o valor a ser adquirido seja dividido por semana até a data da viagem.
Isso porque as intervenções do Banco Central tendem a provocar uma maior volatilidade no preço da moeda. Apesar de servirem para conter a alta do dólar no curto prazo, ele pode voltar a se valorizar aos poucos. "A ação do Banco Central deve apenas diminuir a intensidade da alta da moeda americana. Afinal, o cenário que incentiva a valorização do dólar já está estabelecido", diz Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO Câmbio.
Apesar de o mercado financeiro apostar que a moeda americana deve terminar 2018 cotada a 3,35 reais, conforme o boletim Focus divulgado pelo Banco Central, Nehme não é tão otimista. O especialista espera que o dólar esteja cotado a 3,75 reais no final do ano. "O viés de alta deve persistir, principalmente com a proximidade da corrida eleitoral, que é nebulosa."
O professor de economia da FGV Campinas Anderson Pellegrino não arrisca uma previsão, mas acredita que o BC deve continuar a intervir no mercado para conter a alta da moeda. "O dólar chegou a um patamar que pode pressionar a inflação. Isso não é interessante para um país que luta para se recuperar de uma crise econômica". Pellegrino acredita que a moeda deve continuar oscilando dentro do atual patamar, na casa dos 3,50 reais, por enquanto.
O real está se desvalorizando em relação ao dólar principalmente por conta do aumento dos juros nos Estados Unidos.
Apesar de os juros americanos não terem sido alterados na reunião desta quarta-feira do BC americano, o Fed, há uma grande expectativa de que sofram pelo menos três aumentos até o final do ano, um ciclo que foi iniciado em março, quando subiram 0,25 ponto porcentual, para o intervalo entre 1,5% e 1,75%.
A expectativa é motivada por indícios de que a economia americana deve continuar a crescer. Como consequência, o Fed tem de aumentar os juros para conter a inflação provocada pela recuperação do consumo no país.
O aumento dos juros nos Estados Unidos atrai dinheiro de todo o mundo para os títulos do tesouro americano, aplicação segura que fica mais atraente com a alta das taxas. Principalmente recursos que são aplicados em países emergentes, como o Brasil, ficam em desvantagem, pois oferecem um risco bem maior.
Nesse cenário, o Brasil oferece um risco maior do que outros países emergentes: além de registrar uma recuperação lenta da economia, enfrenta um ciclo de juros menores e incertezas crescentes em relação às eleições presidenciais, o que diminui ainda mais o apetite dos investidores pelo país.
Para diminuir prejuízos com a alta da moeda americana ante o real, além de comprar dólares aos poucos, o caminho é pesquisar.
A pesquisa pode ser feita inicialmente no site do Banco Central, com a ferramenta Ranking do VET, que mostra as corretoras de câmbio que praticam o Valor Efetivo Total (VET) mais vantajoso na compra da moeda.
O VET é uma taxa que inclui não apenas o custo da moeda estrangeira, mas também as tarifas e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidentes na conversão.
Contudo, os valores praticados pelas instituições financeiras hoje podem ser diferentes daqueles praticados no mês de referência da pesquisa. O ranking, portanto, deve ser utilizado apenas como uma sinalização sobre quais casas podem cobrar os menores preços.
Para chegar a uma conclusão mais precisa, é recomendável pesquisar os custos que as corretoras oferecem no dia em que será feita a conversão e, por fim, checar se a conversão é, de fato, a mais vantajosa em sites comparadores de preços, que mostram as cotações em tempo real, tomando o cuidado de verificar se todas as corretoras que cobram uma taxa de conversão melhor estão incluídas na listagem.
Em momentos de alta da moeda e volatilidade do mercado, o viajante deve evitar ao máximo realizar gastos no cartão de crédito durante a viagem. No cartão de crédito, a cotação da moeda normalmente é definida na data de fechamento da fatura, enquanto na aquisição de moeda em espécie e recarga do cartão pré-pago vale a cotação do momento em que foi realizada a transação.
A desvantagem do cartão pré-pago é a incidência de 6,38% de IOF, que baixa para 1,1% sobre o valor da compra no caso de moedas em espécie.