São Paulo - A saga do impeachment chegou ao fim, mas a nuvem de incertezas permanece. Como as medidas do governo de Michel Temer vão afetar a economia do país e, consequentemente, o seu bolso?
Em seu primeiro pronunciamento no rádio e na TV como presidente, na última quarta-feira (31), Temer prometeu “resgatar a força da nossa economia e recolocar o Brasil nos trilhos”, mas, para isso, precisará aprovar suas medidas no Congresso e reconquistar a confiança do mercado.
Afinal, o desemprego, os preços dos produtos e os juros dos financiamentos vão cair? Onde é melhor investir agora? Especialistas explicam a seguir, ponto a ponto, como você pode ganhar ou perder dinheiro com os novos rumos do país.
Emprego
Temer assumiu o país com quase 12 milhões de desempregados e, em seu primeiro pronunciamento oficial, disse que a geração de empregos será um dos alicerces do seu governo. No entanto, essa recuperação do nível de ocupação será lenta e dependerá da retomada de confiança.
Se Temer conseguir aprovar suas medidas de ajuste da economia no Congresso e elas agradarem o mercado, a retomada de confiança dos empresários deve conter as demissões. Mesmo em um cenário otimista, o desemprego só deve cair a partir do segundo semestre do ano que vem, segundo Alexandre Espírito Santo, professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Ibmec-RJ) e economista da Órama.
“Mas antes de melhorar, o desemprego ainda vai piorar, e deve atingir 14 milhões de pessoas”, prevê o economista. Se os projetos de Temer não forem aprovados pelo Congresso ou não convencerem o mercado, o desemprego pode continuar em alta.
Ontem, em seu pronunciamento, Temer destacou alguns dos seus principais projetos para fazer a economia voltar a crescer: aprovar no Congresso a proposta de limitar os gastos públicos e reformar a previdência social e a legislação trabalhista.
Com a flexibilização nas leis trabalhistas, poderia ser mais barato para as empresas ter funcionários, e isso poderia reduzir as demissões. No entanto, com explica Espírito Santo, trabalhadores poderiam perder benefícios que hoje são garantidos.
Preços
No último Boletim Focus do Banco Central, os economistas do mercado financeiro elevaram as previsões para a inflação, tanto em 2016 quanto em 2017. Isso significa que o aumento generalizado dos preços dos produtos deve ser maior do que o que se esperava antes. Mesmo assim, a tendência é que a inflação seja mais baixa em 2017 do que em 2016.
“Acho difícil haver uma queda brusca de preços este ano”, avalia Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper. No ano que vem, no entanto, a tendência é que a inflação volte a cair, com o ajuste da economia e sem problemas climáticos tão graves, que colocaram os preços dos alimentos lá em cima este ano.
Juros
Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter, mais uma vez, a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, um nível bastante alto. Para que os juros começem a cair, a inflação também precisará ceder com mais velocidade e as medidas de ajuste fiscal precisarão ser aprovadas.
Assim, há perspectiva de queda de juros, mas ainda não se sabe quando. Talvez, seja só no ano que vem, segundo especialistas. Quando os juros caírem, ficará mais barato tomar empréstimos. Por outro lado, a rentabilidade dos investimentos de renda fixa, atrelada aos juros, deve ser menor.
Investimentos
Mesmo com perspectiva de queda de juros, investir em renda fixa (títulos públicos através do Tesouro Direto ou títulos privados, como CDBs) vai continuar sendo uma boa alternativa para quem quer unir segurança e boas rentabilidades, mesmo com a Selic mais baixa.Conheça mais investimentos de renda fixa para bater a pupança.
“Nao vemos uma redução brusca de juros. Nossa taxa ainda é muito ata em comparação com outras economias”, explica Mauro Mattes, gerente de investimentos da Concórdia Corretora.
Ámerson Magalhães, diretor da Easynvest, concorda. “Em um primeiro momento, é bom não mexer em nada dos seus investimentos”, orienta. O máximo que você pode fazer é investir ainda mais em renda fixa, agora, para aproveitar enquanto os juros ainda estão altos.
Já em relação aos investimentos de renda variável, como o mercado de ações, por exemplo, se você ainda não é um investidor, é melhor esperar para aplicar. “Para que haja uma nova valorização na Bolsa, é preciso ter certeza que o ajuste fiscal vai acontecer. Por enquanto, ainda existe o risco do governo não conseguir colocar seu plano em prática”, explica Magalhães.
Dólar
Em seu primeiro pronunciamento como presidente, Temer disse que a missão de seu governo é mostrar a empresários e investidores de todo o mundo a disposição do Brasil para proporcionar bons negócios.
Se ele conseguir, o dólar pode cair com o maior otimismo em relação à economia, já que o real tende a se valorizar com a entrada maior de moeda estrangeira no país. Mas se as medidas econômicas de Temer decepcionarem, o dólar pode subir.
Aposentadoria
A reforma da previdência é uma das principais medidas previstas para a gestão Temer. A reforma deve incluir uma idade mínima para se aposentar. Essa é uma medida que, apesar de necessária para as contas do governo, vai mexer bastante com o bolso dos brasileiros, segundo especialistas.
Você poderá ser obrigado a se aposentar mais tarde e os benefícios podem se menores, se forem desvinculados do salário mínimo. Por isso, é muito importante não contar só com o dinheiro do INSS para a sua aposentadoria.
Segundo economistas, a mudança será feita de forma gradual, para que pessoas com maior tempo de contribuição não tenham que postergar seus planos de se aposentar.
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1. O julgamento em fotos
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1/18 (REUTERS/Bruno Kelly)
São Paulo – O julgamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff foi finalizado na tarde desta quarta-feira. Ela foi declarada culpada de cometer crimes de responsabilidade fiscal durante o seu mandato. O processo foi iniciado em dezembro do ano passado, quando Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, aceitou uma denúncia contra a ex-presidente. Nos últimos dias, o Brasil acompanhou o julgamento da petista. Os 81 senadores brasileiros serviram de júri no processo. Durante a sessão (que foi dividida em diversos dias), defesa e acusação puderam levar testemunhas e fazer suas sustentações. O dia mais importante foi a segunda-feira, quando Dilma Rousseff compareceu como ré frente ao Senado. Lá, fez sua defesa e foi questionada por 47 senadores. Veja a seguir os dias do julgamento de Dilma Rousseff em fotos.
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2. O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e o relator do processo, o senador Antonio Anastasia, no segundo dia de julgamento do impeachment - 26/08/2016
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2/18 (Reuters)
Todo o julgamento final do processo contra Dilma Rousseff foi conduzido pelo presidente do STF Ricardo Lewandowski. O ministro foi paciente e tentou se distanciar ao máximo de disputas partidárias. Antes do início do julgamento, se esperava uma posição de serenidade e pulso firme por parte de Lewandowski. Foi isso que o Brasil viu durante os longos dias no Senado. Na foto, tirada durante o julgamento, o ministro aparece ao lado do senador Antonio Anastasia (PSDB). Anastasia foi o relator do processo e votou a favor da condenação de Dilma Rousseff.
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3. Janaína Paschoal
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3/18 (Reuters)
Uma das figuras centrais de todo o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi a jurista Janaína Paschoal. Autora do pedido de impedimento e acusação no processo, ela foi de extrema dedicação. Em poucas oportunidades Paschoal deixava o plenário. Na foto, ela está cercada por senadores.
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4. José Eduardo Cardozo
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4/18 (Reuters)
Do lado da defesa, quem atraiu as atenções foi o advogado José Eduardo Cardozo. Ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União do Brasil, ele foi o responsável pela defesa de Dilma Rousseff. Na foto, ele aparece ao lado de Ricardo Lewandowski e dos senadores Raimundo Lira (PMDB) e Ronaldo Caiado (DEM) no primeiro dia o julgamento do impeachment.
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5. Calheiros X Hoffman
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5/18 (Reuters)
Um episódio muito comentado do segundo dia da sessão foi a discussão entre Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, e Gleisi Hoffman (PT). A senadora petista disse que o Senado não tinha moral para julgar Dilma Rousseff. Calheiros começa uma fala para acalmar todos os presentes,
mas acaba falando mais do que deveria.
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6. Aécio Neves e Ricardo Lewandowski
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6/18 (Ueslei Marcelino / Reuters)
Aécio Neves foi outra figura central do julgamento. Ex-rival de Dilma Rousseff na corrida pela Presidência, em 2014, ele foi o senador ao qual Dilma dedicou mais tempo em sua resposta quando questionada no Senado. Na foto, Aécio conversa com o presidente da sessão, Lewandowski.
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7. Dilma Rousseff como ré
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7/18 (Agência Brasil)
A segunda-feira, dia 29 de agosto, foi o dia de maior importância em todo o julgamento. Nele, Dilma Rousseff compareceu ao Senado na condição de ré. Ela fez um longo discurso, no qual relembrou o período do regime militar, além de seu tratamento contra um câncer.
Dilma respondeu a perguntas diretas de 47 senadores.
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8. Lula
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8/18 (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Para sua defesa, Dilma foi acompanhada de seu padrinho político ao Senado. O ex-presidente Lula acompanhou o pronunciamento e as respostas de Dilma das galerias do Senado. Ele também usou seu tempo para conversar com senadores e para tentar mudar votos e evitar o impeachment da ex-presidente.
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9. Chico Buarque
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9/18 (Reuters)
Outra presença de renome no dia que Dilma compareceu ao Senado foi o músico Chico Buarque. Opositor ferrenho ao impeachment, ele ficou sentado ao lado de Lula nas galerias do Senado. Durante a visita, ele disse que aquela era sua última oportunidade de conhecer o Palácio da Alvorada, já que não deveria se convidado novamente pelo próximo presidente.
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10. Dilma no interrogatório
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10/18 (Reuters)
A segunda-feira foi uma maratona de perguntas e respostas para Dilma. Ao final do dia, a ex-presidente evitava se alongar em respostas. O motivo era simples: sua voz estava acabando. Em certo momento, ela disse preferir não fazer uma pausa, já que a qualquer momento ficaria incapaz de continuar falando com senadores.
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11. Protesto
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11/18 (Paulo Pinto/ AGPT)
Enquanto no Senado a conversa era civilizada (ao menos na maior parte do tempo), fora o clima era outro. Em São Paulo, manifestantes contra o impeachment e a Polícia Militar entraram em confronto na Avenida Paulista. Na foto, o protesto aconteceu na segunda-feira. No dia seguinte, as cenas se repetiram.
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12. Acusação
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12/18 (Geraldo Magela/Agência Senado)
O dia 30 de agosto foi marcado pelas sustentações finais da acusação e da defesa. Na imagem, Janaína Paschoal dá suas últimas palavras no julgamento de Dilma Rousseff. Na ocasião,
ela atribuiu a Deus a composição de todo o processo.
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13. Defesa
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13/18 (Adriano Machado / Reuters)
Também no dia 30 de agosto, terça-feira, José Eduardo Cardozo fez sua sustentação de defesa. Ele foi elogiado por membros do PT. Mesmo assim, ele não foi capaz de virar o jogo e mudar os votos de muitos senadores. Na manhã do dia seguinte, o Brasil veria que os votos necessários para a cassação de Dilma seriam dados.
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14. Dia D
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14/18 (Geraldo Magela/Agência Senado)
A quarta-feira dia 31 de agosto foi o grande dia. 81 senadores deram seus votos sobre se Dilma havia infringido a lei de responsabilidade fiscal durante seu mandato. O resultado final foi 61 votos a favor do impeachment e 20 votos contra. O efeito:
Dilma sofreu impeachment e não poderá completar os quatro anos no poder.
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15. Alguns comemoram...
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15/18 (Paulo Whitaker / Reuters)
A Avenida Paulista, em São Paulo, foi tomada por pessoas comemorando o resultado. A avenida foi palco de algumas das principais manifestações políticas contra (e a favor) de Dilma Rousseff ao longo dos últimos meses.
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16. ... e outros choram
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16/18 (Bruno Kelly / Reuters)
Por outro lado, alguns choraram. Militantes petistas e pessoas contra o impeachment de Dilma Rousseff foram vistos chorando com o resultado.
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17. "É golpe"
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17/18 (Mario Tama/Getty Images)
Após o resultado, Dilma Rousseff fez um pronunciamento ao país. Nele, a ex-presidente sustentou a tese de que houve um golpe parlamentar. "Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País", disse. Veja o
pronunciamento na íntegra aqui.
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18. Temer toma posse
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18/18 (Ueslei Marcelino / Reuters)
Após a votação, Michel Temer compareceu ao plenário do Senado. Lá, tomou posse como presidente em definitivo do Brasil. Durante a tarde, o presidente fez a primeira reunião ministerial.