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Como o fim dos estímulos nos EUA afeta os investidores

Fed deve encerrar neste mês a política de injeção de liquidez na economia americana e gerar maior volatilidade nos mercados de ações e commodities ao redor do mundo

Ben Bernanke, presidente do Fed: hora de remover injeção de liquidez na economia americana (Mark Wallheiser/Getty Images)

Ben Bernanke, presidente do Fed: hora de remover injeção de liquidez na economia americana (Mark Wallheiser/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2011 às 07h24.

São Paulo - Se tudo ocorrer como a maioria dos analistas espera, o Federal Reserve (banco central dos EUA) não deve renovar o programa que ficou conhecido como “relaxamento quantitativo” (ou QE2, na sigla em inglês). A previsão é de que o programa termine em 30 de junho. Por meio do QE2, o Fed promoveu o maior programa de estímulos da história econômica. O BC americano recomprou títulos de dívida emitidos pelo Tesouro dos EUA que estavam nas mãos de investidores e inundou o mercado financeiro mundial com bilhões de dólares.

Com mais dinheiro em circulação, o governo dos EUA planejava evitar que a economia entrasse em um período de deflação ao mesmo tempo em que as famílias americanas realizavam um gradual – e necessário – processo de redução do endividamento. Essa política, no entanto, teve um efeito colateral: a valorização de ativos de risco não apenas nos EUA como também em países emergentes como o Brasil. Enquanto uma parte do dinheiro injetado na economia pelo governo americano era direcionada ao consumo, outra parcela que estava nas mãos de investidores foi usada para a compra de ações e commodities.

Parece óbvio, portanto, que o fim do QE2 tenha algum efeito nos preços desses ativos – o que, inclusive, já pôde ser observado nas últimas semanas. Para a BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, mais volatilidade está por vir nas próximas semanas. No relatório intitulado “O Fim do QE2: O Que Isso Significa para os Investidores”, o chefe de investimentos em renda fixa da BlackRock, Rick Rieder, e o estrategista-chefe de ações, Bob Doll, afirmam que, no curto prazo, os investidores devem adotar mais prudência na alocação do portfólio em investimentos de risco.

Sem o QE2, dizem eles, há mais chance de que a economia americana tenha um crescimento ainda mais modesto que o esperado neste ano. O desemprego caiu em relação ao patamar de 10% atingido há dois anos, mas continua em níveis bastante desconfortáveis. O mercado imobiliário também parece não ter encontrado o fundo do poço, principalmente em cidades em que muita gente compra uma segunda residência, como Las Vegas e Miami.

Apesar de prever o aumento da turbulência no curto prazo, a BlackRock continua otimista com as perspectivas para a economia americana nos próximos anos. Rieder e Doll acreditam que os EUA estão bem melhor agora do que estiveram em 2008 e 2009. A economia tem crescido a uma taxa média anualizada de 2,2%. Embora lento, o processo de recuperação deve continuar, com a continuidade de uma expansão de 2% a 3% ao ano. Esse cenário vai beneficiar as empresas que possuem ações negociadas em bolsa. Investidores com visão de longo prazo, portanto, não teriam grandes motivos para se preocupar.


A BlackRock também acredita que os investidores exageraram na sua reação aos dados econômicos divulgados nos EUA nas últimas semanas. O aumento do preço da gasolina e a elevação da taxa de desemprego criaram no mercado uma sensação de que as coisas vão muito mal. Muitos analistas chegaram a aventar a possibilidade de que os EUA mergulhem em uma nova recessão – o que vem sendo chamado no país como “double dip”.

A situação, no entanto, estaria longe de ser desesperadora. O fim do QE2 deve reduzir as pressões inflacionárias nos EUA e permitir que o Fed mantenha os juros próximos de zero por um bom tempo. Mesmo os preços de energia e do petróleo, que têm atrapalhado a recuperação da economia americana, devem subir de maneira bem mais moderada ou até mesmo estabilizar sem o QE2. Para a BlackRock, nesse cenário, o Fed só precisará começar a elevar os juros quando o desemprego estiver em níveis bem mais confortáveis. Traduzindo isso em um prazo, não haverá alta nos juros antes de meados de 2012.

No médio, prazo, portanto, o cenário continua positivo. O preço justo das ações não é será o mesmo se o Fed confirmar o fim do QE2. Mas isso não significa necessariamente que as bolsas dos EUA vão despencar – apenas quer dizer que há um fator positivo a menos para sustentar os mercados acionários. A combinação de um crescimento econômico independente de estímulos – ainda que modesto – com taxas de juros baixas por períodos prolongados devem ser suficientes para embasar uma alta também moderada da bolsa nos próximos meses.

Como a volatilidade deve aumentar no curto prazo, entretanto, o conselho dos estrategistas da BlackRock é de escolher ações de empresas de grande qualidade e com fluxo de caixa constante em detrimento de papéis de segunda linha. A gestora de recursos mostra confiança no sucesso desse tipo de estratégia. “No longo prazo, (...) o ambiente macroeconômico deve levar a ganhos adicionais nos preços das ações.”

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