Pessoa caminha: bons hábitos pessoais podem se traduzir em bons hábitos financeiros (Stock.XCHNG)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 13h55.
São Paulo – Aprender sobre o funcionamento dos investimentos e dos financiamentos é a “parte fácil” do caminho para uma vida financeira saudável. O mais difícil, para a maioria das pessoas, é criar bons hábitos financeiros e saber definir objetivos.
Pensando nisso, Elisson de Andrade, professor da Faculdade Salesiana Dom Bosco de Piracicaba e palestrante em finanças pessoais, passou a dar lições sobre autoconhecimento e sobre como transformá-lo em uma mudança real dos hábitos financeiros, tanto nas suas aulas universitárias como nas palestras e até em um curso online.
Para Andrade, a falta de autoconhecimento, propósitos e objetivos claros de vida são os principais fatores que fazem as pessoas caírem em tentação na hora de consumir, e acabarem gastando mais (ou poupando menos) do que deveriam.
Além disso, ele acredita que a pressa e o imediatismo da sociedade atual são os principais obstáculos para que as pessoas pensem em ter uma vida financeira saudável.
“As pessoas querem receitas milagrosas para enriquecer de uma hora para outra. Buscam anabolizantes, dietas mirabolantes e financiamentos longos para ter agora o que ainda não tem condições de conquistar. Só que essas conquistas são efêmeras. Para construir algo de que vamos nos orgulhar leva tempo. É preciso trabalhar e vai demorar”, diz Andrade.
Conheça a seguir as etapas traçadas pelo professor sobre como se dá o processo para a mudança real dos hábitos financeiros:
1 Reveja seus paradigmas (ou modelos mentais)
Os paradigmas são os modelos ou parâmetros a partir dos quais você vê a vida. Em geral são originários da sua cultura, da sua religião, e talvez principalmente da sua família. E é desses paradigmas que vêm os seus valores.
O primeiro passo para o autoconhecimento é rever esses paradigmas para se certificar de que os seus valores são mesmo seus, ou se são os valores de outras pessoas falando mais alto. Qual o modelo que você usa para tomar decisões financeiras e de onde ele vem?
“Os pais falam para o filho que quando ele ganhar o primeiro salário deve já pensar em comprar um carro, para começar a ter suas coisas e ganhar responsabilidade. Há pessoas que se casam muito jovens e já compram a casa dos sonhos, se endividando. E ainda há aquelas que precisam presentear todo mundo nas datas comemorativas”, diz Andrade.
O professor diz que aprendemos que tudo isso é natural, e não medimos as consequências. Mas será que precisa ser assim mesmo?
“Por que você não aluga uma casa em vez de comprar? Você não pode usar o carro dos seus pais no início da carreira? E precisa comprar presente para todo mundo, não basta escrever um cartão?”, questiona.
Andrade sugere que esses paradigmas sejam questionados: empregar seu dinheiro desta forma é realmente importante para você? Dar um presente é a única forma de demonstrar afeto? Você deve mesmo comprometer seu futuro financeiro por um monte de tijolos?
Ele cita ainda outras ideias arraigadas à cultura do brasileiro e que podem ser quebradas, como a noção de que se não comprarmos a prazo nunca teremos nada, e de que é preciso ter os produtos “da moda” sempre.
“Reveja seus paradigmas e tente adequá-los à pessoa que você quer ser”, diz o professor.
2 Crie propósitos
Ao se certificar de quais são os paradigmas que fazem sentido para a sua vida, você deve definir os seus propósitos.
“O que faz sentido na vida para mim? Ir ao shopping e me endividar no cartão de crédito é o que eu realmente quero? O que você gostaria que falassem sobre você no seu velório? O que você quer que valha a pena na sua vida?”, diz Elisson de Andrade.
O que você quer? Dar a volta ao mundo? Fazer uma pós? Viajar nas férias? Juntar o primeiro milhão? Comprar um apartamento? Aposentar-se com conforto? Defina metas, e não pense que tudo é impossível, aconselha o professor. Se elas fizerem sentido para você, vão motivá-lo.
3 Defina prioridades
Finalmente, depois de se conhecer bem, você deve estabelecer as suas prioridades. Elas vão delinear o seu plano para “chegar lá”.
O professor lembra que, nesse momento, a pessoa deve encarar o dinheiro como um instrumento para ser e fazer o que deseja, com liberdade de escolha.
Então não se trata nem de se tornar tão apegado ao dinheiro que você vai poupar apenas por poupar, deixando de fazer o que você gosta, nem tão desapegado que você passe necessidade e onere sua família no futuro.
“Eu defino riqueza como liberdade de escolha. Não é uma questão de ter muitos bens, mas de ter liberdade para não se sujeitar a muitas coisas que a vida acaba exigindo”, diz Andrade.
Ele explica que quem não cuida bem do dinheiro – porque considera que suas prioridades na vida não são materiais – não consegue nem agarrar as boas oportunidades, nem passa bem pelas adversidades.
“A pessoa que não tem dinheiro suficiente pode até comprar um carro, mas vai sofrer se passar por um acidente e não tiver seguro. Ou não consegue deixar um emprego ruim porque não tem reservas”, exemplifica.
Assim, se você definir que suas prioridades são passar tempo com a sua família, morar em uma casa confortável ou viajar, para tudo isso você vai precisar de dinheiro.
“Quando somos jovens, precisamos fazer muita coisa que não queremos para lá na frente ter a liberdade de escolher fazer o quisermos. O dinheiro nos permite ter mais tempo para a família, para pagar bons serviços médicos, poder morar em um local mais seguro”, diz Andrade.
4 Mude seus hábitos
Finalmente, chega a hora de mudar seus hábitos, não só financeiros, mas pessoais. Para o professor Elisson de Andrade, os bons hábitos financeiros se dividem em três grupos:
- Jogar bem na defesa: gastar menos.
Ao se questionar por que você gasta com o que você gasta – ou sobre quais os paradigmas que norteiam esses hábitos – você consegue cortar alguns gastos inúteis.
Elisson de Andrade dá um exemplo: se você passa todos os dias no supermercado para comprar algo que falta em casa e acaba fazendo gastos desnecessários, questione por que você faz isso. É para dar uma caminhada? Para espairecer após um dia de trabalho? Para se distrair? O que você realmente está procurando?
Pode ser que você perceba que o objetivo verdadeiro dessa ida ao supermercado não é comprar. Se você substituísse este hábito por uma caminhada num parque ou alguma outra atividade que não implique consumo, o efeito não seria melhor?
“Você pode trocar o lazer atrelado ao consumo por atividades que não envolvam gastos. Mas para perceber isso, é preciso ter controle do orçamento doméstico”, diz o professor.
- Ganhar ou investir dinheiro
Aqui não há mistério, mas trabalho. Trata-se de começar a estudar modalidades de investimento para aumentar seus rendimentos. Mas para quem nunca fez isso, há um passo a passo que pode ajudar.
Para quem não tem o hábito de poupar, a primeira coisa a se fazer é definir um objetivo de poupança. Em seguida, é começar: separe a quantia referente à poupança assim que o seu salário cai na conta. Você pode programar o débito no seu banco, que vai creditar a quantia automaticamente na caderneta de poupança.
Elisson de Andrade sugere que, depois de alcançar um montante na caderneta de poupança, a pessoa passe a acompanhar outro tipo de investimento, como, por exemplo, o Tesouro Direto.
Depois de se informar a respeito do novo investimento, você pode começar a experimentá-lo, passando parte da quantia da caderneta de poupança para a nova aplicação. Quando estiver craque neste segundo tipo de aplicação, você pode começar a aprender sobre um terceiro, e assim por diante.
Outra sugestão do professor é definir um dia do mês para dar uma olhada nas suas aplicações e na sua conta bancária.
- Definir e rever objetivos
Crie objetivos de curto, médio e longo prazo, para estabelecer o que é prioridade e o que cabe no orçamento. São os pequenos objetivos, originários dos seus propósitos.
Se seu sonho é que sua casa seja acolhedora e confortável, você cria o objetivo para poupar para comprar a moradia dos seus sonhos. Se seu sonho é conhecer toda a Europa, você começa a planejar quando e para onde será sua primeira viagem, e assim por diante.