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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
Quem acreditou que, mesmo após o estouro da bolha em 2001, a internet iria vingar - e investiu suas economias nas ações do Google - está rindo à toa. Desde sua estréia na Nasdaq, a bolsa eletrônica americana que reúne empresas de tecnologia, em agosto de 2004, os papéis do maior site de buscas do mundo já se valorizaram 586%, saindo de 85 dólares na oferta inicial para 498,79 dólares na última sexta-feira (17/11).
Ao contrário do que muitos pensam, oportunidades como esta não são exclusividade dos mercados americanos. Resultado semelhante tiveram os investidores que apostaram no aquecimento do mercado imobiliário brasileiro e participaram do IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial) de sete construtoras que abriram capital nos últimos meses - Gafisa, Company, Abyara, Rossi Residential, Cyrela, Klabin Segall e Brascan Residential. Os ganhos chegaram a 290% sobre o valor da oferta inicial.
Mas não foram só as companhias do setor imobiliário que ofereceram bons retornos. As ações da Natura, por exemplo, já subiram até 472% desde que começaram a ser negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em maio de 2004.
Desde então, cerca de 30 empresas realizaram ofertas públicas iniciais de ações, movimentando aproximadamente 20 bilhões de reais. Aos pequenos investidores, as companhias costumam reservar entre 20% e 30% dos papéis ofertados no IPO, garantindo, assim, o acesso das pessoas físicas ao investimento. Para participar de um IPO, o investidor pessoa física precisa cadastrar-se junto a uma corretora autorizada pela Bovespa. É ela que vai intermediar o negócio na Bolsa.
Os pedidos de compra podem ser feitos por telefone ou pela internet. Durante o período de reserva, que consta no prospecto da oferta pública, os investidores entram em contato com a corretora na qual possuem cadastro e solicitam a compra. Como durante o período de reserva ainda não é sabido o valor pelo qual serão negociados os papéis - o preço é fixado apenas na véspera do dia do IPO - os pedidos são feitos em reais, e não pela quantidade de papéis. Assim, o investidor pode solicitar à corretora que compre 10 000 reais em ações, por exemplo. O custo da operação para o investidor restringe-se ao valor das ações, uma vez que a comissão de corretagem é paga pela empresa que vai lançar os papéis na Bolsa.
Mas nem sempre é bom negócio participar de uma oferta pública inicial de ações. Os papéis do Universo Online (UOL), por exemplo, foram vendidos no IPO a 18 reais cada. Semanas após o lançamento, em dezembro de 2005, as ações desabaram, chegando a cair a 11 reais. O motivo foi a divulgação de um relatório do banco de investimentos Merrill Lynch que dizia que os resultados da companhia seriam um pouco piores do que o esperado. Na época, alguns analistas comentaram que o estrago foi grande porque a empresa demorou para dar explicações ao mercado. Hoje, um ano depois, os papéis ainda não recuperaram seu valor inicial, sendo cotados no último pregão a 12,50 reais.
Análise de risco
Como não há nada que garanta a valorização das ações, o investidor precisa fazer uma análise cuidadosa do setor e da empresa antes de decidir participar ou não de um IPO.
Por determinação da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), órgão que regula o mercado acionário, as corretoras não podem recomendar ou desaconselhar o investimento. "E como não existe um histórico prévio da companhia, as informações que podem servir de base para uma análise são as que estão no prospecto da oferta pública", diz Marcelo Ciccone, sócio da corretora Hedging-Griffo.
Chegar a uma conclusão sobre o investimento não é tarefa fácil. "Não dá para exigir de um investidor pessoa física que não possui qualquer base de conhecimento econômico que consiga entender e avaliar as informações. Nesse aspecto, os investidores ainda não têm maturidade para discernir um bom de um mau investimento. As informações estão disponíveis, a questão é saber interpretá-las.", afirma o diretor de uma corretora que preferiu não se identificar.
Exemplo disso sucedeu-se dias atrás, quando o jornal Valor Econômico divulgou a notícia de que o detentor de 47,7% do capital da Brasil Ecodiesel tem identidade desconhecida - informação que consta no prospecto da oferta pública. O episódio, levantou questionamentos sobre quem seria o sócio oculto. Assustados, muitos investidores que haviam decidido participar do IPO da companhia procuraram suas corretoras para obter mais informações e, até mesmo, para desistir do negócio. O que eles não sabiam ou não lembravam é que uma regra, também presente no prospecto da oferta pública, determinava como irrevogável e irretratável o pedido de reserva de ações realizado pelo investidor de varejo.
Diante da turbulência, a Brasil Ecodiesel optou por adiar a data de seu IPO de 13 para 22 de novembro, conferindo aos investidores a possibilidade de desistir do negócio até a véspera do evento. "Quem atua no mercado de capitais precisa saber lidar com os rumores que volta e meia agitam o setor. Apesar de o mercado de capitais ser muito bem regulado, boatos fazem parte do jogo", diz o gerente da corretora Souza Barros, Luiz Fernando Barrozo.
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