Dívidas: mais de 70 milhões estão inadimplentes no Brasil (Michal Jarmoluk/ Pixabay)
Repórter de finanças
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 06h00.
“Boleto bom é boleto pago”, diria a frase de efeito da internet. Ninguém gosta de ter dívidas, mas, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o nível de endividamento e inadimplência atingiram patamares recordes em outubro.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC mostrou que 79,5% das famílias informaram ter algum tipo de dívida a vencer. Esse é o nono mês consecutivo que o percentual de endividados aumenta.
Entre as famílias endividadas, 30,5% afirmam estar com dívidas em atraso e 13,2% declaram não ter condições de pagar as parcelas. Esse último percentual representa o maior nível da série histórica da pesquisa.
A análise dos dados por faixa de renda mostra que o avanço do endividamento se concentrou principalmente entre a classe média — famílias com rendimentos de 5 a 10 salários mínimos, tanto na comparação mensal quanto na anual.
De acordo com o Serasa, há mais de 70 milhões de consumidores negativados.
Pensando em quitar as dívidas, os bancos realizam feirões de renegociação, como o Feirão Serasa Limpa Nome, que acontecem periodicamente para ajudar os brasileiros a saírem do vermelho.
Mas, antes de renegociar as dívidas, é necessário se atentar a alguns pontos: primeiro entender o que está devendo, simular cenários, fechar acordo com a realidade e saber nas mãos de quem a dívida está (muitas vezes, ela pode ter sido vendida).
Especialistas explicam que todos têm direito a renegociação. Nesse momento, é comum encontrar descontos sobre juros e multa, principalmente à vista, redução de taxa de juros quando o contrato é refeito e troca de uma dívida mais cara por uma mais barata.
“A negociação é interesse dos dois lados: o credor que quer receber e o devedor que quer limpar o nome”, comenta Henrique Soares, planejador financeiro CFP pela Planejar. Ele acrescenta: “O que quase nunca acontece é desconto sobre o valor principal, que é aquilo que a pessoa efetivamente gastou. O que se negocia, na prática, é o excesso: juros, multa e encargos.”
Segundo o especialista, no geral, o credor apresenta propostas padronizadas, e o consumidor escolhe a opção que cabe no orçamento. “Quando o acordo é à vista, a limpeza do nome costuma ser rápida. No caso de parcelamento, o nome costuma ser regularizado após o pagamento da primeira parcela.”
Heber Ricardo Bobeck, assessor de investimentos da Mhydas Planejamento Financeiro, concorda: pagamento à vista é a melhor opção. Caso isso não seja possível, o importante é entender qual parcela cabe no bolso. “E um ponto essencial: formalize o acordo por escrito, para garantir segurança jurídica e evitar problemas futuros”, dá a dica.
Soares lista um passo a passo para começar a organização financeira:
“Se a parcela ficar muito alta, a pessoa volta a se complicar depois de pouco tempo”, comenta.
Ninguém quer ter o nome sujo, ainda mais porque ele resulta em uma série de implicações financeiras. O principal ponto é: afeta diretamente o acesso ao crédito. Na prática, dificulta no financiamento imobiliário, financiamento de veículos, cartões de crédito, empréstimos e serviços pós-pagos, como celular, em alguns casos — aponta Soares.
Bobeck complementa: o consumidor pode enfrentar problemas com compras parceladas e abertura de contas em alguns bancos.
“Algumas empresas também consultam o histórico financeiro em processos seletivos, o que pode ser um obstáculo na busca por emprego. Por outro lado, não impede de viajar para fora do país nem de tirar passaporte”, diz.
Os especialistas esclarecem que, sim, a dívida caduca depois de cinco anos do vencimento, ou seja, deixa de constar nos cadastros de inadimplência, como SPC e Serasa. No entanto, isso não significa que a dívida deixa de existir.
O credor ainda pode tentar cobrar o valor de forma amigável, e, se houver renegociação ou pagamento parcial, o prazo de cinco anos é reiniciado. Além disso, mesmo sem restrição ativa, o acesso ao crédito pode continuar limitado, já que bancos e financeiras consideram o histórico e o comportamento do cliente, não apenas o score.
“Ou seja, deixar caducar não deve ser estratégia. Limpa o nome no sistema, mas não resolve a vida financeira”, comenta Soares.
Soares e Bobeck explicam quais programas existem atualmente no mercado: