Taxas altas podem comprometer o benefício entregue pelas compras financiadas (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - Crédito para equipar a cozinha, trocar o carro, comprar a casa e lidar com um imprevisto. As modalidades são muitas e refletem a quantidade de bens e serviços que foram colocados ao alcance dos brasileiros nos últimos anos. Conhecer cada uma delas permite que o consumidor pondere não apenas se as parcelas da compra cabem no bolso, mas, sobretudo, o quão corrosivos para o orçamento podem ser os juros embutidos. Para não contrair uma dívida cara diante de opções seguramente mais em conta, entenda como funcionam as linhas de crédito mais comuns para o empréstimo à pessoa física, partindo das mais baratas para as mais caras:
PARA CONSUMIR
CRÉDITO CONSIGNADO
Empréstimo com desconto em folha de pagamento, disponível para trabalhadores com carteira assinada, funcionários públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Como a parcela é quitada diretamente no salário do consumidor, a chance do compromisso não ser honrado cai vertiginosamente. Em contrapartida a essa garantia, os bancos oferecem taxas bem mais baratas que a média do mercado. Há, no entanto, um limite para sua utilização: não é possível comprometer mais que 30% da renda com o pagamento mensal do dinheiro tomado.
Juros: 0,85% a 2,5% ao mês. Para aposentados, a taxa máxima é de 2,34% ao mês, com teto estabelecido por lei.
Prós: Os juros estão entre os mais competitivos do mercado, o que torna o consignado a opção mais econômica para quem deseja adquirir um bem ou quitar uma dívida mais cara. Há também a comodidade de não se gastar tempo liquidando a dívida, já que as parcelas são descontadas do contracheque em uma dinâmica que se assemelha à do débito automático. Conheça a fundo as características do consignado, responsável por uma verdadeira revolução no mercado de crédito.
Contras: Optar por um prazo muito estendido pode fazer com que o indivíduo veja seu poder de compra diminuir muito, mesmo tendo comprometido só 30% da remuneração mensal. Os outros 70% poderão ser desgastados pela inflação caso este sujeito não tenha reajustes salariais. Como a liberação do crédito é menos burocrática, já que o salário serve como garantia, o consignado entrou na mira de golpistas e falsificadores, que munidos de algumas poucas informações desviam o dinheiro da conta de muitos beneficiários. Saiba como evitar esse tipo de transtorno.
COOPERATIVAS DE CRÉDITO
Em geral, as cooperativas fornecem empréstimos a taxas mais competitivas que aquelas praticadas pelos bancos. A razão é uma só: por natureza, estas organizações não buscam o lucro. Para participar, o interessado deve se enquadrar nas condições de admissão estabelecidas pelo grupo, normalmente ligadas ao exercício de uma determinada atividade profissional. Além disso, será necessário realizar um depósito inicial que funcionará como um ticket de entrada. A regularidade desse aporte pode ser anual ou mensal, com volumes também variados. O capital investido por todos os usuários forma o volume financeiro da cooperativa. Parte desse dinheiro é disponibilizada aos associados mediante o pagamento de juros. A outra parte é investida em títulos públicos. A cooperativa se sustenta com estas taxas, buscando sempre atingir um equilíbrio de compensação. Isso significa que em um sistema perfeito, a renda proveniente destas duas fontes seria exatamente igual aos custos envolvidos na oferta de crédito aos participantes.
Juros: 1,8% a 2,5% ao mês.
Prós: Baixas taxas e possibilidade de levar para casa a chamada "sobra". Quando a cooperativa registra algum lucro, esse dinheiro volta para o associado. Isso significa que quanto maior o empréstimo, mais gordo será o reembolso, pois parte-se do pressuposto que o sujeito pagou mais juros pelo crédito que tomou, contribuindo para o resultado positivo.
Contras: Assim como dividem as "sobras" anualmente, os cooperados também arcam em conjunto com possíveis prejuízos. Vale lembrar que para ter acesso ao crédito, o consumidor necessariamente terá que se tornar associado, assumindo os encargos do depósito obrigatório. Além disso, os volumes disponíveis para o empréstimo podem ser baixos se a cooperativa tiver um porte reduzido. Por último, há casos de cooperativas de crédito que quebraram e deixaram, por exemplo, associados que estavam comprando uma casa sem o imóvel a que tinham direito.
ANTECIPAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA E DE RESTITUIÇÃO DO IR
Assim como acontece com o consignado, a segurança do banco em receber o dinheiro emprestado também é a maior responsável pela oferta de juros atraentes. No caso do 13º, o trabalhador só precisa contatar a instituição onde recebe o salário e verificar se há um convênio que permita a operação. Como o benefício é regido pela CLT, esse depósito é dado como certo pelos bancos. Por sua vez, o adiamento da restituição do imposto de renda é garantido pela política fiscal do governo. Aqui, o empréstimo só poderá ser feito no banco previamente apontado na declaração. Clique aqui e saiba quais são as taxas cobradas pelas principais instituições para o adiantamento destes dois benefícios.
Juros: 2,2% a 3,9% ao mês.
Prós: A antecipação não compromete a renda mensal do usuário. Por isso, é uma boa alternativa para saldar dívidas com juros mais caros sem que haja necessidade de cortar gastos, reordenar prioridades ou contar com um saldo bancário mais magro.
Contras: O dinheiro do 13º pode fazer falta na virada no ano, quando tradicionalmente aumenta o apelo ao consumo e os gastos com férias e presentes. Nesta época, o indivíduo também arca com o pagamento de impostos como o IPVA e IPTU, além de matrículas e materiais escolares. Já a restituição do IR rende um pouco mais que a Selic quando resgatada no seu devido tempo. Isso não deixa de ser um benefício, com juros anuais na casa de dois dígitos. Quem solicitar o dinheiro ao banco, por outro lado, pagará aos bancos até quatro vezes mais que a correção provida pelo governo.
CRÉDITO DIRETO AO CONSUMIDOR (CDC)
O crédito direto ao consumidor é vinculado à compra de um bem ou serviço. Na prática, o consumidor não tem acesso aos recursos que serão investidos, mas sim ao produto. Ao invés de tomar dinheiro emprestado para comprar uma geladeira, por exemplo, o sujeito busca financiar diretamente o valor do eletrodoméstico junto aos bancos e financeiras. No primeiro caso, não se sabe o propósito do dinheiro. No CDC, a garantia chega a ser, em alguns casos, o próprio item que será adquirido. É a modalidade mais comum de parcelamento de veículos, apesar de ser também ofertada para outros fins, como a aquisição de eletrodomésticos da linha branca.
Juros: 1,8% ao mês para veículos e 3,5% ao mês para outros bens.
Prós: Para a compra de eletrodomésticos, o custo é menor do que com tradicionais modalidades de crédito, como o cheque especial. No caso dos veículos, as taxas são mais baixas porque a garantia é maior: o banco pode entrar com uma ação de busca e apreensão para retomar o automóvel em caso de inadimplência.
Contras: O processo é mais demorado porque o interessado deve se dirigir ao banco e ter o crédito aprovado. Quando o parâmetro são modalidades mais baratas, o CDC entrega um resultado pior. Juros de 3,5% ao mês significam uma carga de 51,7% ao ano. Ou seja, paga-se um produto e meio pela possibilidade de usufruí-lo com antecedência. E quanto maior o prazo de pagamento, maiores serão as taxas.
CREDIÁRIO (JUROS DO COMÉRCIO)
Tipo de crédito direto ao consumidor (CDC) ofertado no comércio pelo próprio estabelecimento onde o bem será adquirido. Encontrado com frequência em lojas de departamento e grandes redes de varejo. A compra pode ser feita com cheques pré-datados, carnês ou boletos bancários.
Juros: Média de 5,8% ao mês.
Prós: Não é necessário ter conta em banco. Como a análise do risco envolvido na operação não é o que determina a concessão do empréstimo, o consumidor consegue facilmente fechar o contrato, financiar o produto e levar o bem para casa, seja ele um eletrodoméstico ou uma peça de roupa. É especialmente prático para clientes de baixa renda.
Contras: Embora muitos estabelecimentos permitam que os boletos sejam quitados em bancos, existem casos em só é possível realizar o pagamento voltando à loja. Este retorno aumenta a chance de o consumidor adquirir novos produtos e se endividar, já que os juros deste financiamento podem ultrapassar a marca de 100% ao ano. As multas em caso de atraso também costumam ser salgadas.
CRÉDITO PESSOAL
Também conhecido como empréstimo pessoal, essa modalidade disponibiliza dinheiro para o consumidor usar livremente. O consignado é um tipo de crédito pessoal, com a diferença das parcelas já serem descontadas em folha. A antecipação de benefícios também se enquadra nesta categoria. Mas no empréstimo pessoal tradicional, a garantia depende sobretudo da análise de risco do cliente, levando em consideração seu histórico como bom pagador e a sua renda mensal. Não por acaso, as taxas são mais baixas nas instituições bancárias e muito mais altas nas financeiras, onde os clientes não são correntistas e a análise do processo envolve menos variáveis. O resultado é que o critério de aprovação acaba sendo mais frouxo e os juros são usados para cobrir o risco de calote.
Juros: 4,8% ao mês nos bancos e 9,9% ao mês nas financeiras.
Prós: Algumas instituições oferecem a possibilidade de inclusão de um bem como garantia, como carro ou imóvel quitado, como forma de diminuir os juros.
Contras: Taxas altas que aumentam na proporção do risco oferecido pelo cliente. Nas financeiras, a média anual chega a impressionantes 213% sobre o valor do empréstimo concedido.
CHEQUE ESPECIAL
Linha de crédito pré-aprovada em conta corrente, incorporada automaticamente ao saldo do usuário.
Juros: Média de 7,5% ao mês.
Prós: Modalidade de crédito imediata. Não é preciso apresentar cadastro e o consumidor pode usufruir deste limite da noite para o dia. Ideal, portanto, para momentos de emergência, em que não há como tomar crédito de outras formas e é preciso, por exemplo, pagar uma conta no hospital.
Contras: Alta taxa de juros e perigo de ser utilizado como extensão do salário. É importante que exista uma perspectiva de curto prazo de cobertura do valor emprestado, como a proximidade do dia de recebimento do salário. Clique aqui e saiba a melhor forma de utilizá-lo.
CARTÃO DE CRÉDITO
De fácil utilização, o cartão pode ser solicitado junto à instituição financeira onde o cliente tem conta. Os limites disponíveis para compra variam conforme a renda do usuário.
Juros: Média de 10,7% ao mês.
Prós: Aceito em muitos estabelecimentos, o plástico evita a necessidade do cliente andar com dinheiro no bolso. Além da segurança, há a possibilidade de saldar todas as dívidas em uma só data, organizando as finanças e recebendo o detalhamento exato das despesas efetuadas. O uso do cartão também oferece a possibilidade de participação em programas que oferecem milhas, prêmios e descontos em cinemas e casas de shows. Confira os benefícios que os bancos ofertam aos seus clientes.
Contras: A partir do momento em que o consumidor opta por realizar o pagamento mínimo da fatura, o restante da conta entra no crédito rotativo com os juros mais caros do mercado - a média ultrapassa 230% ao ano. Quem adota essa prática corre o risco de se superendividar, já que os limites são renovados ainda que o cliente só pague 10% do valor devido. Ou seja, ele terá carta branca para continuar gastando, mesmo estando altamente endividado. Entenda por que o cartão é o campeão da inadimplência entre as pessoas físicas.
PARA AUMENTAR O PATRIMÔNIO OU FINANCIAR OS ESTUDOS
CONSÓRCIO
Grupo de pessoas que se une para adquirir um bem. Os participantes depositam um valor mensal que engorda o caixa do consórcio. Quem for sorteado no final do mês, leva todas as contribuições depositadas neste período e conta com a possibilidade de pagar o bem à vista, seja ele um carro ou um apartamento. Segue, inalterado, no entanto, o compromisso de arcar com as parcelas até o término do contrato, quando todos os integrantes do grupo terão enfim sido contemplados.
Juros: Não há cobrança de juros. Os participantes desembolsam uma taxa de administração que varia em torno de 1,5% a 2,4% ao ano para imóveis e 3,1% ao ano para automóveis.
Prós: A taxa de administração costuma ser bem mais baixa que a média de juros encontrada no mercado. O consórcio também funciona como uma poupança forçada e faz com que o participante, quando contemplado, consiga barganhar um desconto ao realizar o pagamento integral. É possível fazer lances e arrematar o bem antes do previsto.
Contras: Enquanto não for sorteado, o sujeito não irá usufruir o bem. E isso pode levar um bom tempo. Se o processo demorar demais, é provável que o retorno entregue por outros investimentos seguros e com alta liquidez (como a poupança ou os fundos de renda fixa) conseguisse aumentar o patrimônio do indivíduo, proporcionando a compra do bem à vista e em um prazo mais curto. Veja a partir de quando o consórcio já não vale mais a pena para a compra de veículos. A mesma lógica se aplica aos imóveis. No Brasil, o prazo para a quitação chega a 180 meses, de maneira que o último sorteado do grupo vai esperar 15 anos para enfim colocar a chave da casa nova no bolso. Saiba em quais situações um consórcio de imóveis realmente compensa.
CDC PARA VEÍCULOS
Essa é a forma mais comum de se comprar carro no país. O CDC permite que o cliente se torne proprietário de um veículo que pagará em até 80 meses. A garantia para o banco é o próprio automóvel, sendo que o documento do carro registra a existência de uma dívida em aberto. No caso de inadimplência, é possível retomar o veículo com uma ordem de busca e apreensão. Essa segurança faz com que as taxas de juros caiam pela metade em relação ao CDC usado, por exemplo, para a compra de eletrodomésticos.
Juros: Média de 23,61% ao ano.
Prós: O veículo pode ser quitado a qualquer momento, independente da data combinada para o fim do contrato. Vale dizer que as montadoras também costumam subsidiar uma parte deste valor para desafogar os estoques, especialmente quando os veículos são mais caros.
Contras: Especialistas recomendam que o prazo do financiamento seja esticado até no máximo 36 meses. Depois disso, a desvalorização naturalmente sofrida não vai compensar os recursos que ainda precisão ser empregados para saldar o restante da dívida e manter o automóvel em perfeito funcionamento. Aprenda como financiar o carro sem sustos.
LEASING
Também chamado de arrendamento mercantil, o leasing funciona como uma espécie de aluguel, bastante usado para o financiamento de veículos. O automóvel fica no nome do banco e ao fim do período acordado o consumidor tem a opção de comprá-lo. Na prática, o cliente já paga pelo carro desde o início do contrato.
Juros: Se assemelham aos do CDC. Considerando uma entrada de 40% para um carro de 25.000 reais, a taxa varia entre 22% e 32% ao ano para o leasing, e 19% a 39% para o CDC.
Prós: Ao contrário do CDC, o leasing é isento de IOF. Para a pessoa jurídica, há a possibilidade de isenção do imposto de renda. Como o proprietário é o banco, o veículo não entra no balanço da empresa até o término do financiamento, sendo considerado uma despesa, e não um bem.
Contras: No caso de inadimplência, a facilidade para a instituição financeira tomar o automóvel através de uma reintegração de posse é maior, pelo fato de ser dona do carro. Além disso, o cliente não pode quitar o financiamento antes de 24 meses, ficando preso ao compromisso mensal. Saiba mais sobre esta modalidade.
CRÉDITO EDUCATIVO
As linhas de crédito educativo permitem que o estudante financie até 100% do curso com horizontes de pagamento bastante estendidos. Quem não é elegível para o Fies (Programa de Financiamento Estudantil do Governo Federal), que conta com as melhores taxas de juros por ser uma política de inclusão social, pode buscar uma saída nos bancos ou nas próprias instituições de ensino.
Juros: No Fies, os juros são de 3,4% ao ano, com empréstimos que custeiam o valor integral da faculdade. Nos bancos, é possível financiar de 50% a 100% do curso, pagando juros que vão de 6% a 35% ao ano. Instituições privadas de ensino também oferecem esse tipo de parcelamento. Clique aqui e entenda cada uma dessas possibilidades, seus prazos e critérios de concessão.
Prós: As prestações costumam ser menores durante o período de estudos, de maneira que o pagamento mais oneroso será feito quando o beneficiário se formar e estiver empregado.
Contras: Caso não consiga outra linha mais barata, quem recorrer ao financiamento privado por meio de uma instituição financeira poderá pagar até duas vezes o valor integral do curso.
CRÉDITO IMOBILIÁRIO
Tradicionalmente concedido pela Caixa, o crédito imobiliário começa a ganhar corpo entre os empréstimos concedidos pelos bancos privados. Em geral, é possível financiar até 60% do valor de um imóvel, em um prazo máximo de 30 anos. Conheça os sistemas de amortização utilizados, a possibilidade de financiar um imóvel na planta e as melhores formas de usar o crédito para construir ou reformar.
Juros: 9,5% a 12% ao ano para imóveis entre 130.000 e 500.000 reais e 10% a 12% ao ano para bens acima de 500.000 reais.
Prós: Para muita gente, essa é a única possibilidade de adquirir a casa própria. Vale lembrar que trabalhadores assalariados podem utilizar o FGTS para financiar o imóvel e diminuir o valor das parcelas. Saiba como fazê-lo.
Contras: É um relacionamento de muitos anos com o banco, com o comprometimento expressivo da renda familiar. Quem atrasa o pagamento por mais de três meses pode ter a casa leiloada. Por isso, essa é uma decisão que envolve um planejamento detalhado por parte do consumidor. A dica é não comprometer mais do que 25% do orçamento com a quitação mensal das parcelas, para não correr o risco de se endividar por outros lados.
Fontes: Banco Central (junho/2010) / Anefac - Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (junho/2010) / Andrew Frank Storfer, presidente da Anefac / Sicoob Brasil / Sicoob Central DF / Anef - Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras / Pro Teste / Caixa Econômica Federal / Abecip - Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança